Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Uma conversa entre os finalistas do BBB 24, Isabelle Nogueira, Matteus Amaral e Davi Brito, enquanto cozinhavam, gerou intensa polêmica nas redes sociais nesta terça-feira, 16/4. Durante o bate-papo, uma declaração de Davi sobre suas expectativas quanto ao gênero de seus futuros filhos chamou a atenção.
“Além de doutor, o Davi também é mestre cuca”, comentou Isabelle. “Imagina quando tiver os filhos”, acrescentou Matteus. A resposta de Davi, “Tomara que não venha mulher, que venha homem. Quero ensinar o guri a ser macho”, provocou indignação entre os internautas.
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Nas redes sociais, diversos usuários consideraram o diálogo machista e criticaram a postura do participante.
Comentários como “essas falas do Davi me pegam de uma certa forma, que eu não consigo expressar o que sinto” e “taí o grande vencedor, o grande exemplo de vocês”, demonstraram a repercussão negativa do episódio.
Para compreender os diversos aspectos sociais presentes na fala de Davi, o Portal RIOS DE NOTÍCIAS consultou a pesquisadora amazonense Glacy Ane Araújo de Souza, pós-doutoranda em Antropologia Social pela Ufam.
Segundo a especialista, o Brasil possui uma história marcada pela sociedade patriarcal, onde os papéis de gênero são profundamente enraizados desde os primórdios.
“Nós temos uma desigualdade de gênero muito forte desde os primórdios da constituição da nossa sociedade. E ela está muito marcada, arraigada nos papéis sociais, do que é ‘ser homem’ e do que é ‘ser mulher’ nesse país”, disse.
‘Ser macho’
Ela ressaltou que o discurso de “ser macho” está associado a uma masculinidade dominante, impositiva e autoritária, especialmente no ambiente doméstico.
“É uma performance que está ancorada em um ser que é marcado por essa voz do poder do macho dentro de casa, ou seja, no ambiente doméstico. É um posicionamento de um indivíduo austero, autoritário, chefe de família, provedor do lar e que tem ao seu lado uma mulher subserviente. É um discurso percebido inclusive pelas ciências humanas, esse empoderamento do ‘ser macho'”, destacou.
Biografia de Davi
A pesquisadora também analisou a influência da biografia de Davi em suas percepções sobre os papéis de gênero.
Criado em um ambiente religioso e marcado pela violência doméstica, Davi demonstra uma predileção por ter um filho homem, refletindo a vulnerabilidade atribuída à mulher em sua visão de mundo.
“A fala do Davi provoca um desajuste social, tendo em vista todas as mudanças que nós temos vivido, especialmente na última década. O Davi nasce em uma família extremamente religiosa, protestante. Viveu violência doméstica e as falas dele também repercutem dentro do programa a partir dessa violência. Ou seja, é um jovem que foi criado em meio a um ambiente hostil, com os papéis sociais muito fortes. De um lado, um pai empoderado; do outro, uma mãe religiosa e protetora que tem que dar segurança aos seus filhos. A fala dele revela o quanto a mulher é vulnerável nessa sociedade. Por isso a predileção dele em ter um filho homem, para prepará-lo como macho para a sociedade”, explicou Glace Ane Araújo.
Segundo a especialista, a fala de Davi revela a fragilidade das identidades de gênero na sociedade brasileira. “O que ele disse reflete a origem do Davi, como um rapaz periférico, negro, de uma região de extrema violência, que deprecia a vida feminina. Então, ele traz um conjunto de possibilidades de pensarmos o quanto a nossa sociedade também tem sofrido com esses desajustes sobre o que é ser mulher e o que é ser homem”, pontuou.