Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, considerado por muitos como um dos principais heróis da luta pela independência do Brasil, tem sua vida e morte celebradas neste 21 de abril em território nacional.
Uma história permeada por complexidades e que vai além das narrativas heroicas, Tiradentes foi esquartejado em 21 de abril de 1792, pelo seu envolvimento na Inconfidência Mineira e por ser um símbolo de resistência e coragem contra a opressão colonial.
Quem foi Tiradentes?
De acordo com o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti, Tiradentes nasceu em Ritápolis, no interior de Minas Gerais. Segundo o historiador, o inconfidente veio de uma família com posses, porém, perdeu os pais muito cedo e ficou órfão.
“O Joaquim José da Silva Xavier tinha nascido no Brasil em 12 de novembro de 1746, e ele não nasceu pobre. Ele nasceu numa família com posses, mas a mãe morreu cedo, o pai morreu cedo, e os irmãos perderam todas as propriedades por dívidas“, afirma.
Segundo Rezzutti, Joaquim José acabou sendo tutelado por um padrinho e pelo seu tio, que era cirurgião dentista. Foi nesse convívio, que ele conseguiu aprender sobre a extração de dentes e como produzi-los, mas sem ainda alcançar nenhuma estabilidade financeira.

“Nenhuma dessas atividades lhe deram muita estabilidade. Até que ele entrou para o exército, como alferes, na legião de dragões de Vila Rica, no meio de todos os implicados na conjuração mineira, o Tiradentes era o menos instruído de todos, e o mais exaltado. Ele falava abertamente a respeito das suas ideias, das ideias dos conjurados em qualquer lugar, em praças, qualquer reunião.”
Paulo Rezzutti, escritor e pesquisador.
Muitos conspiradores da Inconfidência Mineira eram homens ricos e cultos como Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. O cargo de Tiradentes à época, era de simples alferes, similar ao de tenente no Exército. Sua missão na Inconfidência era sair às ruas e conquistar a adesão da população ao movimento. Por ter exercido o ofício de dentista, ele ficou conhecido pelo apelido.
Inconfidência Mineira
A intenção principal da conspiração era retirar o poder local do governador em Minas Gerais, Visconde de Barbacena, que na época, era nomeado pela Coroa Portuguesa. Tal conduta foi considerada uma afronta à autoridade do Império de Portugal. E de todos os conspiradores, Tiradentes, foi o mais radical, diz Rezzutti.
“A ideia deles era separar a capitania de Minas Gerais do restante do Brasil. Eles não tinham uma posição totalmente formada se esse novo estado, por exemplo, seria uma monarquia como pregava o Cônego Vieira, ou se deveria ser uma república como defendia o José Alvares Maciel. Eles acreditavam que isso iria chamar a atenção dos Estados Unidos e gerar apoio para esse novo país que eles estavam imaginando“, relata.

Tiradentes chegou a planejar a morte de Barbacena e uma programação da revolta contra o governo estava prevista para acontecer em 1789. Mas um dos conspiradores, Joaquim Silvério dos Reis, tentando se livrar de dívidas, delatou ao governador toda a trama, informando o nome de líderes da insurreição.
Sendo o único a confessar o crime e assumir a culpa, Tiradentes passou por um processo judicial que durou cerca de quatro anos, recebendo a pena mais dura de todas: condenado à morte na forca. Nos autos do processo, os alferes e demais membros da conspiração, ficaram conhecidos como “devassa“, peça jurídica com detalhamento dos crimes de traição.
“Levado para o complexo militar que ficava onde antigamente se chamava a ponta do calabouço, um resquício desse local, que é o antigo forte que existia lá, onde hoje fica o Museu Histórico Nacional, bem próximo ao aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, é nesse local que o seu corpo foi desmembrado. A sua cabeça foi enviada para Vila Rica, atual Ouro Preto, para ficar exposta num poste enquanto o restante dos seus membros foram espalhados ao longo da estrada real que ligava os caminhos do Ouro até o Rio de Janeiro.”
Paulo Rezzutti, escritor e pesquisador

“Apesar de nós termos diversas imagens do Tiradentes, nenhuma é da época, todas essas imagens que nós vemos, são ligadas ao mito, e não ao homem. E tem relação com a implantação da República no Brasil. Perseguições violentas e revoltas pelo Brasil afora não ajudaram muito a popularização do novo regime, que precisava de uma tradição republicana, e o Tiradentes começou a aparecer como Jesus Cristo de barbas e cabelos longos, pronto para se sacrificar pelo seu povo“, explica Paulo Rezzutti sobre o mito criado.