Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O crescimento da moda sustentável, aliada ao empreendedorismo de artesãos na região amazônica, tem evidenciado uma necessidade de repensar os padrões de consumo e produção na indústria da moda local, especialmente valorizando os saberes e a rica biodiversidade da nossa região.
Em entrevista ao programa “Amazone-se“, da Rádio RIOS FM 95,7, o talentoso estilista amazonense e autodidata Rodrigo Paiva, mostrou sua paixão pela moda sustentável da região e abordou sobre a criação de seu atelier “Do Paiva“, que se tornou referência em inovação no mundo da moda amazônica.
“Desde criança eu sempre amei a cultura do nosso Estado. Eu tenho um tio que é muito apaixonado pelo boi Caprichoso, e ele estava todos os anos com a minha família, porque eles possuíam guinchos que ajudavam no transporte das alegorias. Então, meu tio sempre foi bem empenhado no Boi, ajudou bastante antigamente.”
Rodrigo Paiva, estilista amazonense
“Meu sonho era que ele me levasse em Parintins. E acabou que a minha mãe nunca permitia que eu fosse, e eu só consegui ir pela primeira vez em 2017. Foi quando o meu atelier começou a desenvolver peças para o Festival, porque antes, a gente trabalhava muito com o folclore na questão de cirandas, quadrilhas, até mesmo danças internacionais, tipo árabe“, conta.
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Natural de Itacoatiara, Rodrigo iniciou carreira na capital amazonense, onde encontrou obstáculos significativos devido à falta de estrutura para desenvolver seu negócio. Ele conta que, gradativamente, conquistou espaço no cenário da moda sustentável, e atualmente produz trabalhos para artistas renomados do Festival Folclórico de Parintins.
“Quando eu cheguei em Manaus, eu comecei a trabalhar com as cirandas daqui, participei de algumas! Inclusive, confeccionava indumentárias bem bonitas, tudo com muito sacrifício, porque eu era sozinho, eu ainda não tinha estrutura para comportar muitos clientes e ter muitas encomendas, então era bem sacrificante para mim. E aí foi quando eu fui nessa primeira viagem a Parintins que eu comecei a criar algo para o Boi. Tive a ideia de confeccionar acessórios, cocares e assim a gente foi começando a crescer, e graças a Deus, nós somos um atelier de muito de sucesso, recomendado, referência em Manaus. Eu posso dizer isso, não é por orgulho, porque foi sofrido desde o início. Eu lembro que nós atendíamos no fundo do quintal de uma borracharia, que era também do guincho do meu tio logo quando eu cheguei em Manaus, e hoje nós temos um espaço confortável para atender nossas clientes da melhor forma possível“, relata.
Culinária na moda
Incorporando elementos de conhecidos sabores locais, como tucumã, caroço do açaí, e até a escama de pirarucu, Rodrigo Paiva mistura a culinária e moda como ingredientes fundamentais na arte de estampas, colares e materiais naturais em suas coleções. “A culinária do nosso Amazonas é maravilhosa, não só para quem come, mas para quem trabalha como artesão também“, reitera.
“Nós utilizamos o caroço do açaí, o caroço do tucumã, e de muitos outros frutos, de vários elementos que a gente usa para cozinhar, mas também para fazer o nosso artesanato. Usamos até a escama do pirarucu para fazer acessórios indígenas. Para o festival, também temos brincos, e tem gente que usa como lixa de unha. Então, eu acredito que a culinária também interfere na parte artesanal significativamente, porque muitas vezes utilizamos a matéria-prima da nossa Amazônia para nos favorecer artesanalmente como artista e isso é muito legal, muito interessante”, afirma.