Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Após casos de extremos climáticos registrados no Brasil, como a seca dos rios na Amazônia e as tempestades e enchentes no Rio Grande do Sul, o geógrafo e ambientalista Carlos Durigan trouxe à tona a gravidade do que vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos.
O aquecimento global é um dos pontos das mudanças climáticas que vem ocorrendo no país, conforme o especialista diz em entrevista ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS.
“Além do aquecimento global que atinge níveis sem precedentes nos últimos séculos, ainda convivemos com um cenário de degradação social e ambiental em todo o país, fruto de nosso modo de viver e produzir. Caminhos alternativos a esta realidade vêm sendo apontados há décadas por cientistas e ambientalistas, mas infelizmente a gestão pública e setores produtivos insistem em não dar ouvidos. A nova realidade desafiadora que se coloca para a humanidade agora requer ações concretas e não palavras e lamentações, pois o cenário ainda pode se agravar”, apontou o ambientalista.
A situação vivida pelo Rio Grande do Sul é um exemplo dessa realidade, com inundações catastróficas decorrentes de uma grande concentração de chuvas, resultante da interação de uma frente fria com um domo de calor.
“O que testemunhamos é um efeito repentino de grande concentração de chuvas sobre o Rio Grande do Sul causado pelo bloqueio de uma frente fria pelo domo, que está estacionado sobre parte do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Isso levou a esta altíssima concentração de chuvas e inundações sem precedentes conhecidas”, explicou Durigan.
O que acontece no Sul do país é uma preocupação que paira sobre os amazonenses, tendo em vista o que ocorreu em 2023, com a seca extrema que atingiu a Amazônia Ocidental (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima), que produziu uma tragédia ambiental e a preocupação é que se agrave ainda mais neste ano.
Leia também: Governo inicia planejamento de ações de enfrentamento à seca em 2024
Ano passado, com o aquecimento anormal do Oceano Atlântico, a estação seca foi antecipada, produzindo uma estiagem extrema que secou alguns dos principais rios amazônicos em um ritmo inédito, multiplicando queimadas e aumentando as temperaturas acima do normal, matando animais aquáticos, parando o Polo Industrial de Manau (PIM) por falta de insumos, entre outros.
Durigan chama a atenção para o inverno amazônico deste ano que se comporta de forma anormal. “Na Amazônia, por exemplo, observa-se um inverno amazônico menos chuvoso, o que levanta preocupações quanto à manutenção dos níveis dos rios e à disponibilidade de água durante a estiagem subsequente. A importância de uma agenda de adaptação se torna evidente diante desses desafios”, alertou.
Agenda de Adaptação
A Agenda de Adaptação, pontuada por Durigan, tem o objetivo de unir esforços de governos e partes interessadas para enfrentar crises climáticas com eficácia. Isso inclui um monitoramento constante da situação climática, bem como a implementação de medidas concretas, como a evacuação preventiva de áreas de risco e o fornecimento alternativo de água e energia.
El Niño
Durigan destaca que os eventos extremos tem relação direta com o El Niño e o aquecimento das águas do Atlântico e as previsões indicam que os padrões climáticos podem persistir, agravando ainda mais as condições de seca em algumas regiões, como Roraima, e aumentando o risco de incêndios florestais.
“Há uma boa chance dessa influência do El Niño, que está ainda agindo sobre o clima regional, continuar. E, se isso acontecer, pode sim haver uma situação difícil também no verão deste ano. Se ainda continuar com as influências do El Niño e o Oceano Atlântico continuar aquecido, isso levará a uma série de mudanças nos regimes de chuva”, enfatizou.
Tragédia anunciada
Segundo o especialista, o Brasil enfrenta uma tragédia anunciada por cientistas e ambientalistas, resultado do aquecimento global e da degradação ambiental causada por décadas de práticas insustentáveis.
“É uma previsão que deveria estar levando a gestão pública a preparar ações de emergência, de apoio e potencial soluçãos ou de enfrentamento dessa crise que pode se repetir este ano. É o novo normal do clima, com cenários de extremas cheias e extremas secas por conta do aquecimento que estamos vivendo”, afirmou o ambientalista.
Ele exemplifica o Acordo de Paris que estabeleceu metas claras para redução de emissões e degradação ambiental. No entanto, o Brasil ultrapassou o limite de 1,5 graus C (Celsius) acima da temperatura pré-industrial em 2023.
“O acordo colocou à humanidade um desafio claro: reduzir emissões e degradação ambiental. Pois bem, atingimos este limite em 2023 e a temperatura continua subindo e as emissões também. Políticos se debruçam e se esforçam por mudar leis para fragilizar ainda mais a proteção ambiental, movidos pela ganância e por interesses econômicos de setores produtivos que só pensam em si mesmos”, denunciou.