Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Durante o período eleitoral, as pesquisas de intenção de voto ganham destaque e frequentemente são alvo de debate. Mas será que elas realmente influenciam a decisão dos eleitores? O Portal RIOS DE NOTÍCIAS foi às ruas para ouvir opiniões diversas sobre o impacto das pesquisas na escolha dos candidatos.
De acordo com o cientista político, Afrânio Soares, a influência das pesquisas eleitorais é menor do que se costuma imaginar.
“Por exemplo, a maioria das pessoas não é adepta ao voto útil, que é votar naquele que está na frente. Existe um percentual que até é suscetível a isso, algo em torno de 5% a 6%. É uma boa contribuição, mas, dependendo do contexto, não é suficiente para provocar grandes mudanças nos resultados”, explica.
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Voto por afinidade
O professor Afrânio reforça que a maioria dos eleitores considera outros fatores mais relevantes na hora de votar.
“A maioria das pessoas vota pela afinidade que tem com determinado candidato, e não necessariamente pelo partido ou pela ideologia. Essa decisão é baseada na representatividade que o eleitor sente em relação ao candidato”, disse o pesquisador.
O cientista político também aponta que mudanças na preferência dos eleitores ocorrem em situações específicas, como quando há uma decepção ou uma mancha na reputação de um candidato.
“As pesquisas conseguem capturar essas mudanças, mas sua influência é relativa e varia conforme o candidato”, completou.
O que diz a população
Entre os entrevistados pelo riosdenoticias.com.br nas ruas do Centro de Manaus, o autônomo Sidney Sarmento expressou desconfiança nas pesquisas.
“Eu acompanho sim, às vezes, mas não muda meu voto. A gente vota muitas vezes por obrigação, porque a gente vota e nada muda, a mudança que a gente espera não vem. A gente vota com a esperança que vá mudar e não muda. Muitas dessas pesquisas são manipuladas; quem está no topo consegue manter sua posição usando o poder para influenciar a população”, relatou Sarmento.
A auxiliar de cozinha, Eudes Pinheiro, que também participou da enquete, relatou que as pesquisas não influenciam sua decisão de voto.
“Acompanho as pesquisas às vezes, mas meu voto não leva em consideração esses números. Fico observando que os políticos só vão nas nossas ruas quando querem votos, de quatro em quatro anos. Ou seja, eles esquecem o que prometem, a gente perde totalmente a confiança”, relata.
A influência das redes sociais
O pesquisador Afrânio Soares destaca o papel das redes sociais no cenário eleitoral atual, sugerindo que elas podem influenciar muito mais os eleitores do que as pesquisas tradicionais.
“Hoje, as redes sociais talvez influenciem muito mais do que as pesquisas já influenciaram um dia”, ressaltou o pesquisador.
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Diante da influência das mídias sociais e novas tecnologias, a cientista política, Melissa Oliveira, também abordou à reportagem como os políticos adaptam suas estratégias para diferentes plataformas e públicos. Atualmente, migrando do tradicional como a TV, para as redes sociais.
“Antigamente, uma parte importante das campanhas políticas era na TV e continua sendo, mas hoje vemos um esforço grande de qualquer político em ganhar seguidores e engajamento nas redes sociais. Muitos políticos entram em trends e usam esse tipo de conteúdo para atrair o público mais jovem e divulgar suas plataformas”, disse Oliveira.
O que diz a psicanálise
A pedido do Portal RIOS DE NOTÍCIAS, a psicanalista Samiza Soares fez uma análise sobre como as pesquisas eleitorais podem afetar o comportamento e as decisões dos eleitores.
“As pesquisas eleitorais, de certa forma, atuam como um espelho social, refletindo as tendências e opiniões da maioria. Quando nos deparamos com um candidato em ascensão nas pesquisas, podemos nos sentir inclinados a seguir essa “maioria”, um fenômeno conhecido como efeito manada. Esse comportamento pode surgir do desejo humano de pertencer a um grupo, buscando segurança nas escolhas dos outros”, explicou Samiza.
De acordo com a psicanalista, esse fenômeno é comparável ao comportamento de buscar aprovação ou evitar conflitos, frequentemente em detrimento das próprias convicções. No entanto, ela ressalta que há eleitores que, ao verem seu candidato preferido em desvantagem nas pesquisas, podem sentir-se motivados a intensificar o apoio, o que gera uma espécie de resistência.
“Aqui, entra um importante gatilho terapêutico: a autonomia. Decisões baseadas em uma reflexão profunda sobre nossos valores e necessidades são mais autênticas e, portanto, mais satisfatórias. Quando permitimos que fatores externos, como pesquisas, guiem nosso voto sem uma análise interna, corremos o risco de agir de forma reativa, sem considerar o que realmente importa para nós”, disse.
Ela enfatiza que as pesquisas eleitorais têm, sim, um peso na decisão de voto, mas que esse peso é determinado pela forma como as pessoas lidam com a informação.
“Elas podem tanto reforçar a nossa confiança quanto nos desviar do que realmente acreditamos. O mais importante, do ponto de vista terapêutico, é desenvolver a capacidade de tomar decisões que estejam alinhadas com nossos valores pessoais e não simplesmente seguir a corrente”.