Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Em um discurso proferido na França, em ocasião do festival Power our Planet, realizado nessa quinta-feira, 22/6, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reafirmou seu compromisso de alcançar o desmatamento zero na Amazônia até 2030. A reportagem do Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com uma especialista que responde a pergunta: É possível zerar o desmatamento na Amazônia? É uma meta alcançável? Confira.
De acordo com Paula Lima, do Laboratório de Geopolítica da Amazônia Legal, vinculado à Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), nos últimos anos, o Brasil enfrentou uma regressão das políticas ambientais, especialmente durante o último governo.
A falta de atuação das instituições de fiscalização, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi evidente, resultando em um sucateamento dessas entidades.
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“Houve um sucateamento. E além disso, houve um discurso que favoreceu determinados grupos criminosos em relação ao desmatamento, garimpo ilegal que, de certa forma, se sentiam legitimados pelo discurso do governo derrotado”, explica a pesquisadora, que também é cientista política e mestre em Sociologia pela UFAM.
Ela acrescenta que essa regressão representa um retrocesso significativo para o Brasil, que vinha construindo uma política ambiental sólida desde a pós-ditadura, no processo de redemocratização. Durante esse período, importantes fóruns internacionais, como a Conferência Rio-92 e a Conferência Rio+20, consolidaram convenções e compromissos políticos em relação às mudanças climáticas, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
Reconstrução
Desde sua campanha, o governo atual tem se comprometido em dar maior atenção à política ambiental. Nos primeiros seis meses de mandato, Lula vem sendo elogiado pelos especialistas por sua iniciativa de reconstruir instituições esvaziadas, disse Paula Lima.
Alguns pontos positivos, segundo ela, é a nomeação de Marina Silva como titular do Ministério do Meio Ambiente, a reativação de secretarias e a criação do Ministério dos Povos Indígenas são exemplos desses esforços de reestruturação.
“Lula vinha falando que entre uma das suas principais pautas era o retorno de uma atenção maior à política ambiental. Então, com relação aos seis primeiros meses do governo Lula, observo como algo positivo porque ele vem fazendo uma reconstrução de instituições que estavam esvaziadas”, destacou.
Embora seja perceptível um saldo positivo nesse início de reconstrução, Paula pontua que a recuperação ambiental ainda está em sua fase inicial, somente nos anos futuros que os resultados poderão ser efetivamente avaliados, principalmente no combate ao desmatamento.
“A política ambiental, como qualquer outra política, é um jogo de arranjos e negociações dentro desse processo de reestruturação, com rusgas dentro desse processo”, disse.
Metas equivalem a políticas ambientais
A especialista ressalta que mesmo diante dos riscos e incertezas envolvidos na temática ambiental, o estabelecimento de metas já traz um saldo positivo.
O simples fato de estabelecer uma meta já vai trazer um saldo positivo. A partir daí, criam-se políticas no sentido de cumprir essa meta. Isso já observo como algo benéfico”, ressaltou.