Redação Rios
SÃO PAULO (SP) – O Setembro Amarelo, dedicado à conscientização e prevenção do suicídio, também é um alerta para as empresas sobre a importância de cuidar da saúde mental de seus colaboradores.
Um dos grandes desafios atuais é lidar com a Síndrome de Burnout, que afeta 32% dos trabalhadores brasileiros e, quando não tratada, pode evoluir para quadros graves, como a depressão.
Diante desse cenário, a Lei 14.831, que entrou em vigor em março deste ano, busca reconhecer empresas que adotam práticas de promoção da saúde mental e bem-estar dos colaboradores. “Essa certificação é uma oportunidade para que as organizações transformem o ambiente corporativo de forma significativa”, afirma Aila Cardial, psicóloga clínica e organizacional com 15 anos de experiência em saúde mental e carreira.
A especialista sugere sete passos essenciais para que gestores identifiquem colaboradores em risco e promovam uma cultura de acolhimento e valorização da saúde mental ao longo de todo o ano.
1 – Esteja atento aos sinais: desmotivação é mais do que uma fase. Cada vez mais comum nas empresas, a Síndrome de Burnout é caracterizada pelo esgotamento emocional e físico, perda de motivação e queda na produtividade. Colaboradores que apresentam atrasos frequentes, faltas ou queda na performance muitas vezes não estão apenas desmotivados, mas lidando com sérios problemas emocionais. Aila Cardial alerta que esses comportamentos devem ser encarados como sinais de que algo mais grave está acontecendo.
“Se o Burnout não for tratado, ele pode evoluir para depressão, trazendo sintomas como cansaço extremo, dificuldade de concentração e irritabilidade“, explica Aila. Para ela, a liderança tem um papel fundamental em identificar esses sinais e agir rapidamente para evitar a piora do quadro, que pode levar ao afastamento ou até ao agravamento para transtornos mais severos.
2 – Desenvolva suas soft skills: liderança vai além da técnica. Aila reforça que um líder competente vai além do domínio técnico. Para cuidar da saúde mental de sua equipe, é necessário desenvolver habilidades como comunicação assertiva, empatia e inteligência emocional.
“Muitos gestores são promovidos por sua capacidade técnica, mas não estão preparados para lidar com as questões emocionais de seus colaboradores”, afirma. Conforme a psicóloga, investir em treinamentos que abordem soft skills, como saber ouvir e lidar com conflitos, é essencial para criar uma gestão humanizada.
3 – Crie um ambiente de segurança psicológica: confiança começa no líder, visto que ambientes onde os colaboradores se sentem seguros para expressar suas preocupações sem medo são fundamentais para a saúde mental. Aila sugere que líderes realizem semanalmente conversas rápidas e privadas com seus colaboradores, criando espaços seguros para o compartilhamento de angústias e desafios.
Durante essas reuniões, os gestores podem fazer perguntas que incentivem o diálogo sobre o bem-estar, como: Como está sua vida pessoal e sua família? Está conseguindo equilibrar lazer e trabalho? Tem dormido bem? Está lidando bem com as demandas? Como se sente em relação à empresa?
Essas conversas criam um espaço de confiança, permitindo que os gestores identifiquem problemas antes que eles se tornem mais graves. “Essas reuniões podem revelar questões emocionais e proporcionar suporte adequado, evitando o esgotamento”, destaca Aila.
4 – Encare a saúde mental como uma prioridade: cultura de cuidado e valorização como prioridade reflete o cuidado e a valorização dentro da cultura organizacional. “Por trás de todo profissional, há um ser humano com questões pessoais e emoções a lidar”, afirma a psicóloga.
A atenção à saúde mental é cada vez mais importante, uma vez que, nos últimos anos, houve um aumento significativo no absenteísmo relacionado a diagnósticos de ansiedade e depressão, especialmente após a pandemia.
Para lidar com esse cenário, Aila sugere que as empresas levem a psicoeducação para dentro das organizações, criando programas que contribuam para o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores. Isso não só melhora a qualidade de vida, como fortalece o vínculo entre empresa e equipe, criando uma cultura mais saudável e produtiva.
5 – Vá além das campanhas: saúde mental é o ano todo, embora o Setembro Amarelo seja importante, Aila enfatiza que ações de saúde mental devem ser contínuas. Mais que promover palestras uma vez por ano, as empresas devem implementar programas contínuos que ofereçam apoio psicológico, mentoria e canais de denúncia anônimos. “Essas ações reduzem o risco de agravamento de problemas emocionais e ajudam a construir uma cultura organizacional de longo prazo voltada para o bem-estar dos colaboradores”, acrescenta a psicóloga.
6 – Dê o exemplo: saúde mental começa de cima, uma vez que a liderança é o reflexo da cultura organizacional. Gestores que respeitam os limites de horário e mantêm uma postura empática demonstram na prática que a saúde mental é uma prioridade. Por outro lado, lideranças que invadem a vida pessoal dos colaboradores, com e-mails fora do expediente ou cobranças excessivas, criam um ambiente onde os funcionários se sentem pressionados e adoecem.
“Gestores que demonstram cuidado com o próprio bem-estar e incentivam suas equipes a fazer o mesmo contribuem para um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado”, sugere Aila.
7. Incentive a auto responsabilidade: colaboradores devem reconhecer seus limites
Além de cuidar da equipe, Aila destaca a importância de incentivar a auto responsabilidade entre os colaboradores. “Cada pessoa precisa reconhecer seus próprios limites e saber quando buscar ajuda. O autoconhecimento é essencial para lidar com as pressões do ambiente de trabalho e manter o equilíbrio emocional”, afirma.
O papel do líder nesse processo é fundamental para criar uma cultura em que pedir ajuda seja visto como uma ação positiva e necessária. “Incentivar a equipe a cuidar de sua própria saúde mental, oferecendo recursos e apoio, é uma forma de promover o bem-estar de maneira sustentável”, conclui a psicóloga.
*Com informações da assessoria