Elen Viana – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O último mês do ano é dedicado à campanha de prevenção e combate ao HIV/Aids e a outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Conhecido como ‘Dezembro Vermelho”, essa mobilização é uma importante ferramenta para conscientizar e prevenir a população sobre a luta contra essas doenças.
Atualmente, no Amazonas cerca de 26.920 pessoas convivem com a doença. Deste total, 19.058 são homens e 7.808 são mulheres.
Com foco no cuidado de crianças que convivem com o HIV, a Casa Vhida, localizada no bairro Dom Pedro, zona Oeste de Manaus, é uma instituição que oferece suporte médico, psicológico, social e nutricional para cerca de 314 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, em Manaus e no interior do estado. Fundada em 1999, a associação realiza esse trabalho durante todo o ano.
Em entrevista ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, o gerente executivo João Batista Ribeiro destacou a comemoração pelos 25 anos da associação, que teve início com um grupo de voluntários sensibilizados pela causa.
“O desafio ao longo desse tempo sempre foi atender essas crianças. Quando a Casa Vhida foi criada, não havia ninguém cuidando dessa situação. Em 1999, tudo começou com grupos de funcionários do Hospital Tropical. Naquela época, a doença sofria muito estigma, mas o foco sempre foi dar a atenção necessária a essas crianças. Todo ano buscamos manter a casa com doações de entidades governamentais, secretarias, emendas parlamentares e, principalmente, doadores voluntários”, disse João Ribeiro.
Nutricionista da Casa Vhida, Rosa Almeida explica como os atendimentos são realizados ao público.
“As crianças chegam aqui para se cadastrar e receber o leite, pois as mães não podem amamentar. Após o cadastro, os bebês são encaminhados para acompanhamento. Atendemos tanto os bebês expostos (filhos de mães portadoras do HIV ) quanto os pacientes soropositivos, geralmente mais velhos, com um ou dois anos de idade. Esses pacientes são encaminhados pelo Hospital Tropical, geralmente devido a situações como desnutrição ou sobrepeso. Fazemos a orientação nutricional e alimentação mais saudável, pois não podem suspender a medicação”, diz Rosa Almeida.
Perfil dos pacientes
Os pacientes atendidos pela Casa Vhida estão divididos em dois grupos principais. O primeiro inclui crianças que contraíram o vírus por transmissão vertical, ocorrida durante a gestação, o parto ou a amamentação. O segundo grupo é formado por crianças que adquiriram o HIV, posteriormente, em situações diversas, incluindo casos de abuso sexual.
Esse tema ganhou visibilidade em maio deste ano, quando a Polícia Civil (PC-AM) prendeu dois homens suspeitos de abusar sexualmente de crianças e, de forma proposital, transmitir o vírus HIV.
Adesão ao tratamento
A Casa Vhida também busca combater os estigmas associados ao HIV, incentivando as crianças a se sentirem parte ativa de sua comunidade. Um dos principais objetivos é garantir a adesão ao tratamento com antirretrovirais (ARVs).
“O trabalho aqui sempre visa à adesão ao tratamento. Orientamos crianças, adolescentes e adultos para que não deixem de tomar a medicação. Também falamos sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, o que é essencial para a sociedade. O HIV é um problema que afeta pessoas de todas as faixas etárias e níveis sociais. O cuidado é essencial, e isso começa com a prevenção”, explicou a nutricionista.
A associação conta com apoio de voluntários, como Marcos Paulo, estudante de nutrição, que dedica parte de seu tempo às ações realizadas.
“É muito gratificante, porque conseguimos ver a situação de cada família e a importância do trabalho da Casa Vhida. Muitas pessoas que frequentam a casa estão em vulnerabilidade social. Todas as doações que recebemos aqui são essenciais para que essas famílias consigam se manter”, afirmou Marcos Paulo.
HIV no Amazonas
A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, HIV (sigla em inglês) é causada por um retrovírus da subfamília Lentiviridae e é classificada como uma IST. O HIV pode levar à Aids, uma doença que ataca o sistema imunológico, enfraquecendo as defesas do corpo contra outras enfermidades.
As ISTs são transmitidas principalmente pelo contato sexual sem o uso de preservativo com uma pessoa infectada, mas também podem ser transmitidas de mãe para filho durante a gestação, parto ou a amamentação.
Atualmente, no Amazonas cerca de 26.920 pessoas convivem com a doença. Deste total, 19.058 são homens e 7.808 são mulheres. Além disso, 73,9% dos casos são de pessoas pardas, conforme dados do Ministério da Saúde sobre o monitoramento do cuidado do HIV e da AIDS.
De janeiro a novembro de 2024, o estado registrou 2.370 novos casos de HIV, segundo dados do painel epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/RCP-AM). Esse número representa uma redução de 6,6% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram contabilizados 2.539 casos e no ano todo 2.746.
O mês de abril foi o que apresentou o maior número de registros, com 284 novos casos. A faixa etária mais afetada é a de homens entre 20 e 39 anos, com 1.131 casos. As mortes causadas pela Aids também apresentaram queda de 12,63%.
Enquanto no ano passado, no mesmo período, foram registradas 285 mortes. Em 2024 o número caiu para 249, a principal forma de transmissão continua sendo sexual, seguida pelo uso de drogas injetáveis e pela transmissão vertical, mãe para o bebê.
Prevenção e tratamento
Dr. Marcelo Cordeiro, infectologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, destaca a importância do tratamento contínuo para pacientes com HIV, enfatizando os benefícios do uso de antirretrovirais e além dos avanços na conscientização sobre as formas de transmissão.
“As pessoas têm entendido que práticas como apertos de mão, compartilhamento de toalhas ou utensílios não transmitem o vírus. É extremamente importante que o diagnóstico precoce seja reconhecido como uma estratégia essencial. Quando a pessoa inicia o tratamento, ela bloqueia a cadeia de transmissão e deve-se buscar assistência médica para obter um diagnóstico correto”, afirma Marcelo Cordeiro.
Além do tratamento regular, outras medidas de prevenção, como o uso de preservativos, géis lubrificantes, e a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), são indicada para pessoas com maior risco de contrair HIV. Há também a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), destinada a vítimas de violência sexual, acidentes perfurocortantes e relações sexuais desprotegidas.
Mas o especialista reforça que: “O preservativo continua sendo uma das principais formas de proteção. Especificamente em relação ao HIV, a PrEP é uma estratégia muito eficaz, beneficiando aqueles expostos ao vírus, pois bloqueia praticamente 100% da transmissão”.
Conforme os dados do Ministério da Saúde mostram que, o vírus se torna indetectável e intransmissível com tratamento. Esses métodos de prevenção e tratamento estão disponíveis gratuitamente na Fundação de Medicina Tropical (FMT-HVD) e na Policlínica Codajás.
Doações
A Casa Vhida conta com o apoio de doadores para manter suas atividades e apoiar crianças com HIV. “Quando sonhamos sozinhos, é só mais um sonho. Quando sonhamos juntos, é o começo de uma nova realidade”, informa inscrição na Pedra Fundamental da Casa Vhida.
Veja as formas de doar:
- Alimentos ou brinquedos: Podem ser entregues diretamente na sede da instituição.
- Doações através de transferência bancária: 03641279/0001-80 (chave pix) ou caixa Econômica Federal 3128-5/03
- Contato para mais informações: (92) 3656-1250 e (92) 99102-0698