Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O Dia do Quadrinho Nacional, celebrado em 30 de janeiro, homenageia a primeira história em quadrinhos publicada no Brasil em 1869: As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, do cartunista Angelo Agostini. A data é uma forma de reconhecer a importância das HQs, que desempenham um papel fundamental na formação de leitores e no panorama cultural brasileiro.
Entre os quadrinhos de maior relevância no país, destaca-se a Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, um ícone da literatura infantojuvenil. Em Manaus, para celebrar a data, será realizado, entre os dias 7 e 9 de fevereiro, o Encontro de Quadrinistas Barés, em um shopping da cidade, reunindo artistas locais e nacionais.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou nesta quinta-feira, 30/1, com o cartunista Gilmal, de 48 anos, que, em 2014, lançou a revista em quadrinhos genuinamente amazônica Jaraqui com Tucumã, que atualmente está em sua terceira edição.
Gilmal relembra um fato curioso do lançamento de sua revista, ocorrido em um famoso bar no centro de Manaus. “Não fiz questão de coquetéis, coffee breaks ou outras formalidades. Apenas exigi cerveja e um espaço desconfortável, porque a revista JCT é caótica, uma publicação tosca onde falo sobre os declínios e absurdos da humanidade em forma de quadrinhos”, explicou o cartunista.
O bar, onde o lançamento aconteceu, é um local de encontro para boêmios, poetas, artistas e profissionais liberais, e ficou famoso pela presença do saudoso Vinícius de Moraes. Foi nesse cenário caótico, entre o entra e sai de pessoas, que Gilmal escolheu lançar sua revista, “na porta do banheiro do estabelecimento”, como ele mesmo conta, com sua irreverência e bom humor.
Embora Jaraqui com Tucumã tenha sido lançada em 2014, a trajetória de Gilmal com traços, tintas e pincéis começa muito antes, em 1993, quando começou a trabalhar como ilustrador e chargista profissionalmente.
O Encontro com o quadrinho no Pasquim e na Chiclete com Banana
Foi através do jornal O Pasquim que Gilmal teve seu primeiro contato com a charge e os quadrinhos. “Li algumas edições de O Pasquim nos anos 80, mas não entendia muito bem. Sabia que era um jornal que combatia a ditadura militar, mas não conseguia captar toda a mensagem dos desenhos. Mais tarde, me deparei com a revista Chiclete com Banana e, desde então, não parei mais de desenhar”, relembra.
Na Chiclete, Gilmal conheceu o trabalho dos cartunistas Angeli, Glauco e Laerte, que se destacaram em vários projetos e formaram o trio de personagens Los Três Amigos. “Entre outros, eles foram a minha escola. O teor das minhas charges sempre é a favor do ser humano. Elas não têm lado político ou partidário, mas sim uma crítica bem-humorada”, afirma.
Trajetória e Contribuições de Gilmal
Ao longo de sua carreira, Gilmal colaborou com importantes jornais e revistas do Amazonas, além de ter contribuído com a Folha de São Paulo. Atualmente, ele trabalha em mídias digitais, diretamente de seu estúdio, o JARACOMICS.
Para Gilmal, os quadrinhos não são apenas um entretenimento, mas também uma poderosa ferramenta de crítica social. “Uma imprensa sem charges opinativas e críticas contundentes, usadas para desconstruir e confrontar, fica sem graça. Ela se torna um armazém de ‘secos e molhados’. A imprensa precisa ser oposição, e sabemos que, nos dias de hoje, isso nem sempre é o caso”, afirma.
O Crescimento da Cena de Quadrinhos em Manaus
Em Manaus, o Dia do Quadrinho Nacional é uma data que revela o vibrante polo de autores, roteiristas e quadrinistas que surgiu na cidade desde 2018. Esses artistas não ficam atrás dos grandes mestres do Sul e Sudeste do Brasil.
“Hoje, Manaus é um centro consolidado de grandes autores e suas publicações, que inclusive foram indicadas aos principais prêmios como o HQ MIX e o Jabuti. Esses eventos são essenciais para apresentar a ‘nona arte’ aos novos leitores e àqueles que buscam histórias em quadrinhos de qualidade”, observa Gilmal.
Ser Cartunista: A Visão de Gilmal
Para Gilmal, ser cartunista não exige uma habilidade impecável de desenho. “Na realidade, o que importa é estar por dentro dos fatos, especialmente das questões políticas. Nossa política confusa e conturbada é um prato cheio para quem quer desenhar esse tema. Não importa se os traços são inacabados ou toscos, desde que consigam transmitir com clareza os acontecimentos“, finaliza o cartunista.