Gabriel Lopes – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – As mudanças climáticas vêm trazendo consequências às cidades e em Manaus este cenário não é diferente. A capital amazonense tem experimentado tais efeitos nos últimos anos, combinados a falhas estruturais e a falta de planejamento urbano adequado, agravadas pela ausência de políticas públicas eficazes.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com especialistas que apontaram as principais causas para os efeitos das chuvas que atingem Manaus. Dentre eles estão justamente as mudanças climáticas e ausência de ações efetivas do Poder Público para solucionar as demandas da população.

Para o arquiteto e urbanista José Augusto Bessa, a falta de um planejamento urbano estratégico em Manaus é um dos principais fatores que contribui para os problemas causados pelas chuvas. A cidade, em grande parte, sofre com um crescimento desordenado, onde áreas de risco são ocupadas sem qualquer controle.
“A ausência de fiscalização em áreas de proteção ambiental e o avanço da construção irregular em zonas de igarapés, têm gerado consequências devastadoras. A água invade casas, ruas e comércios, prejudicando a vida de pessoas, que se veem obrigadas a conviver com os danos materiais e até com a perda de vidas”, destacou o especialista.

Além disso, o urbanista ressalta que as soluções adotadas pelo poder público muitas vezes são equivocadas e paliativas. Em muitos momentos, segundo ele, a Prefeitura de Manaus e o Governo do Amazonas têm implementado obras de drenagem e canalização dos igarapés sem considerar o impacto ambiental e social dessas ações.
“Outro ponto crítico é a falta de uma gestão integrada e preventiva. A implementação de sistemas de alerta e monitoramento de enchentes, como em outras grandes cidades, ainda é tímida e desorganizada em Manaus. Em muitas situações, a população só é avisada dos riscos de alagamentos quando o dano já está feito”, apontou Bessa.
Crise Climática
Lucas Ferrante, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ressaltou que é fundamental entender que os impactos da crise climática já são uma realidade no Brasil, especialmente na Amazônia Central.
“As estações secas estão se tornando mais longas, e os eventos de chuva, quando ocorrem, são mais intensos e concentrados. Isso já está resultando em desastres naturais mais frequentes, como deslizamentos de terra, enchentes e alagamentos. Em Manaus, estamos observando uma crescente variabilidade climática”, explicou o pesquisador.

O especialista ressalta que períodos de seca extrema estão sendo intercalados com chuvas torrenciais, sendo resultado de dois fatores principais: a crise climática global e o avanço do desmatamento que altera os fluxos atmosféricos e intensifica esses eventos climáticos extremos.
“Em um estudo que publiquei em 2023 na revista Conservation Biology, demonstramos que o chamado “arco do desmatamento” na Amazônia concentra as anomalias climáticas da região. […] Os efeitos já são visíveis: secas severas nos últimos dois anos e, agora, chuvas mais intensas e concentradas”, comentou.
Ferrante destaca que para cidades como Manaus, isso significa uma contagem regressiva para condições que podem tornar a região inóspita para a vida humana. “O cenário é preocupante, especialmente para populações vulneráveis […] que têm menos acesso a recursos para se adaptar”, disse Ferrante.