Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – “Eu já vi um cidadão ser assaltado no meio da rua, e ninguém toma uma atitude. É com certeza um bairro inseguro”. O relato do aposentado Thiago da Mota Valente, de 65 anos, é apenas um entre centenas de ocorrências registradas todos os meses na região central de Manaus.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), o Centro contabilizou cerca de 8.390 boletins de ocorrência de 2022 até novembro de 2023, ou seja, mais de 360 registros por mês.
Os registros foram feitos no 24º DIP – Distrito Integrado de Polícia – e colocam o centro de Manaus como a quinta localidade com mais registros criminais na cidade, atrás apenas dos DIPs localizados nos bairros Cidade Nova, Petrópolis, Jorge Teixeira e Ponta Negra.
O principal crime registrado no Centro é o furto, com 191 ocorrências, seguido de roubo com 151 casos, e tráfico de drogas com 146 registros.
Em relação ao número de inquéritos, ou seja, investigações formalizadas nas delegacias, o 24º DIP contabilizou cerca de 228, entre 2022 e novembro de 2023, sendo o sexto com maior número de inquéritos na capital amazonense.
Violência, furtos e roubos
Todos os meses, o aposentado Thiago da Mota Valente vai ao Centro para sacar seu dinheiro no banco. Nesta semana, assim que desceu do ônibus, ele foi surpreendido por um grupo formado por três mulheres e cinco homens que roubaram o seu celular.
Ele contou à reportagem do portal RIOS DE NOTÍCIAS que não se sente seguro e tem medo de andar na região, onde já testemunhou diversos outros furtos e assaltos.
“Já vi, e não foi uma, nem duas vezes, mas várias vezes casos de roubo aqui no centro da cidade. Estamos vulneráveis, inclusive, dentro dos ônibus quando aparecem bandidos de cara limpa e levam tudo o que a gente tem. É horrível”, disse o senhor.
A dona de casa Lucilene Garcia, de 58 anos, precisa passar todos os dias pelo Centro e, para ela, já se tornou comum presenciar assaltos em plena luz do dia.
“Aquela praça dos Remédios é um perigo, você tem que andar bem atenta, porque corre riscos diversos ali. Pode observar que há áreas que estão se tornando uma ‘cracolândia’. A Matriz já foi uma praça, atualmente se tornou recanto para os bandidos”, denunciou Lucilene.
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Para o trabalhador autônomo Adão Lopes, de 63 anos, um dos maiores problemas do Centro é a falta de policiamento fazendo rondas nas ruas. Ele contou que nunca foi vítima de crimes, mas já presenciou um homicídio na imediações da Igreja da Matriz.
“Eu já vi matarem um rapaz em frente à igreja. Não, o Centro não é um local seguro”.
A universitária Ana Ester, de 22 anos, estuda no Centro de Manaus. Para ela, dependendo do horário, o local não possui qualquer segurança. “Tem muitos assaltos em certos horários do dia. Eu tenho colegas que já foram assaltados mais de uma vez”.
Assim como Ester, Ruht Laborda, de 65 anos, também passa diariamente pelo Centro para estudar em uma universidade. Ela destacou que já viu muitos assaltos no bairro. “A gente pensa que está bem, mas surgem bandidos repentinamente. Eles já abordam a gente tomando a bolsa e o celular. Não é um local seguro. Um vizinho do meu bairro já foi até esfaqueado aqui no Centro”, relatou.
O que diz a Secretaria de Segurança Pública?
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) que informou, em nota, que policiamento no centro de Manaus é feito pela Polícia Militar do Amazonas (PMAM). Já a Polícia Civil atua na região com ações de polícia judiciária. Também afirmou que tem implementado ações intensivas nos locais com os maiores registros de boletim de ocorrência na cidade por meio da operação Natal Mais Seguro, lançado no dia 17 de novembro.
A secretaria destacou que tem promovido estratégias educativas e de repressão na região, “como a realizada no dia 3 de outubro, que resultou na prisão de suspeitos envolvidos em diversos crimes como tráfico de drogas, roubos, dentre outros”.
“A SSP-AM reforça que segue trabalhando de forma integrada para proporcionar maior sensação de segurança à população”, diz nota.
Manaus entre as cidades mais violentas
A capital amazonense está entre as cidades mais violentas do mundo, conforme o levantamento divulgado em fevereiro deste ano pela ONG mexicana “Seguridad, Justicia y Paz“, que colocou a cidade na 21ª posição entre as 50 cidades com as maiores taxas de homicídios do planeta.
Outras cidades brasileiras que apareceram no estudo foram Mossoró (11ª) e Salvador (19ª). Neste sentido, a pesquisa coloca Manaus como a segunda capital Brasileira mais perigosa.
Conforme o estudo, ao longo de 2022, Manaus contabilizou 1.041 mortes violentas, dado similar ao disponibilizado no site da SSP-AM. Em 2023, cerca de 681 casos de homicídios foram contabilizados até setembro, de acordo com a Secretaria de Segurança do Amazonas. Em setembro, houve uma queda no número de mortes violentas, com 59 casos. Agosto registrou o maior índice, com 124 casos.
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Em outro levantamento, Manaus é a terceira capital mais violenta do país, sendo ainda a 24ª cidade com índices elevados de violência. Os dados são do novo anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho deste ano.
O documento apresentou as 50 cidades com mais homicídios, sendo dez da região Norte. Lideram a lista Macapá, Manaus e Porto Velho.