Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Melque Saterê, ou Melquezede Assis de Souza, é líder da comunidade indígena Nusoken, com cerca de 200 famílias, localizada no bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus. “Injustiça contra o povo indígena”, foram com essas palavras que ele falou em nome das diversas tribos que residem no local e que nesta segunda-feira, 18/12, foram alvo de uma reintegração de posse.
A desapropriação ocorreu em decorrência de uma ação judicial e, segundo o indígena, gestantes foram atingidas pela ação da Polícia Federal, que também destruiu suas moradias. Melque Saterê alega que a empresa Santa Julia é a responsável pela ação.
De acordo com os autos, Melque protocolou o Agravo de Instrumento Instrumento Nº 1048918-47.2023.4.01.0000, no último dia 12 de dezembro. Trata-se de um tipo de recurso que permite que a decisão do juiz que deu a permissão da reintegração de posse seja cassada. Porém, tal documento não foi julgado a tempo. Logo, a autorização liminar em favor da empresa Santa Julia foi cumprida na manhã de hoje.
Além da PF, agentes de diversos órgãos, como Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), Gabinete de Gestão Integrada (GGI), Centro de Operações de Emergência (COE), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam), 1º Batalhão de Choque da Polícia Militar, Detran, Corpo de Bombeiros, Grupo Integrado de Prevenção em Áreas Públicas (GIPIAP), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Amazonas Energia e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), estavam na ação.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS acompanhou o desdobramento e ouviu a população afetada na desapropriação. Eles [indígenas] falaram, das preocupações e a revolta do povo.
“O trator da empresa entrou por trás do assentamento e quebrou tudo. Quebraram as ocas, os barracos. O terreno do Santa Júlia não é esse. É provado pelo órgão de terra e territórios do Brasil, que o [terreno] dele é do outro lado da avenida, e não na comunidade indígena. Mesmo assim, eles conseguiram a integração para nossa comunidade. Isso é uma injustiça. Até quando vai haver isso? Injustiça contra o indígena, contra as famílias que não tem onde morar”, questionou, revoltado um dos comunitários.
Outra moradora da comunidade, Valmira Batista, reforçou a posição de posse indígena da terra. Segundo ela, a área da Santa Júlia é uma propriedade situada do lado oposto da comunidade, e que a ação busca a terra da Nusoken por sua extensão e beleza.
“Essa terra é indígena. É nossa. Nós somos donos dessa terra, entendeu? A terra do Santa Júlia é do outro lado. Eles querem essa terra aqui porque a terra é grande, é maior, é mais bonita, é melhor. Ele querem fazer um shopping. Essa terra era dos nossos antepassados e agora pertence a nós”, disse Valmira, lamentando a derrubada das moradias.
Confira um trecho do documento: