Letícia Rolim – Rios de Notícias
BRASIL – A Proclamação da República no dia 15 de novembro de 1889 marcou uma reviravolta na trajetória brasileira, substituindo o regime monárquico por uma república. Esse acontecimento foi impulsionado pela crescente impopularidade da monarquia, levando pequenos grupos partidários da república a se unirem aos militares.
O descontentamento generalizado com o regime monárquico resultou no que é considerado por muitos como um golpe militar, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, que se tornou o primeiro presidente do Brasil. Motivados por insatisfações religiosas, questões escravocratas e descontentamento militar, esse grupo consolidou a transição política.
A crise na monarquia, acentuada pela perda de apoio, foi um fator crucial que pavimentou o caminho para a Proclamação da República. Civis insatisfeitos com a situação formaram um grupo determinado, organizando o “golpe” que marcaria o fim da monarquia em 1889. Este evento não apenas mudou o sistema de governo, mas também moldou os rumos da história do Brasil.
Existem pontos de vista divergentes sobre se a Proclamação da República foi mais um golpe militar ou um movimento legítimo de mudança de regime. Para a historiadora e professora, Karla Marcolino, a mudança foi um pouco das duas coisas.
“Posso dizer que foi uma boa ideia, uma pauta necessária que foi ‘usada’ por um grupo que desejava ascensão e grupos que de fato queriam que tal processo fosse pra frente, pegaram carona como puderam nos fatos ocorridos a seguir”, disse Karla.
Causas que transformou o Brasil
A Proclamação da República no Brasil foi um desfecho complexo impulsionado por diversos fatores. A historiadora Karla Marcolino esclarece como a questão religiosa se entrelaçou, destacando o rompimento de Dom Pedro II com a igreja católica devido à sua filiação à maçonaria (não permitido pela igreja), gerando tensões.
“A questão religiosa devido ao rompimento de Dom Pedro II com a igreja católica visto que o próprio fazia parte da maçonaria e tinha esta vertente filosófico-religiosa como uma prática recorrente, o que não era bem visto pela igreja”
Karla Marcolino, historiadora e professora
Outra força propulsora foi o abolicionismo, mobilizando a sociedade na década de 1880. Marcolino ressalta que a defesa da abolição reforçou o movimento republicano, com muitos abolicionistas alinhados à ideia de República.
A insatisfação escravocrata também desempenhou papel crucial. Após a abolição em 1888, fazendeiros insatisfeitos com a falta de indenização aderiram ao ideário republicano, como destaca a historiadora: “Os fazendeiros ‘flertaram’ com o novo regime que florescia, o republicano”.
No âmbito militar, a profissionalização da corporação gerou demandas por melhorias salariais e no sistema de promoção. Os militares, entendendo-se como tutores do Estado, buscavam reconhecimento e direito de manifestação política.
O descontentamento militar com D. Pedro II, vindo da Guerra do Paraguai, aliou-se às ideias positivistas de Benjamin Constant. O exército passou a reivindicar a modernização do Brasil por meio de um governo republicano ditatorial.
“O exército passou a ter ideias positivistas trazidas por Benjamin Constant, ideias como sendo os únicos detentores das soluções necessárias ao império”, destaca a historiadora.
Ao longo da década, manifestações públicas tornaram-se comuns, alimentando críticas ao imperador. Mesmo após tentativas de repressão, como o banimento de manifestações, o Brasil estava rumo irreversível à República, pois o grupo de insatisfeitos era expressivo, culminando na Proclamação da República em 1889.
Os bastidores da Proclamação da República
Em novembro de 1889, uma conspiração ganhava forma com figuras como Aristides Lobo, Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva e Rui Barbosa, buscando a adesão de marechal Deodoro da Fonseca, presidente do Clube Militar.
No decisivo encontro em 10 de novembro, os conspiradores persuadiram Deodoro a participar do movimento. Boatos da conspiração se espalharam nos dias seguintes, e em 14 de novembro, informações falsas sobre a monarquia foram disseminadas para angariar apoio.
O golpe contra a monarquia culminou em 15 de novembro, quando Deodoro e tropas dirigiram-se ao quartel-general no Campo do Santana. A demissão do Visconde de Ouro Preto foi exigida e, após sua renúncia e prisão, Deodoro aguardava a formação de um novo gabinete pelo imperador.
Deodoro expressou vivas a D. Pedro II e retornou para casa, adiando o desfecho. A queda do gabinete não encerrou os eventos do dia; as negociações persistiram. Republicanos optaram por uma sessão extraordinária na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para a solene Proclamação da República. O cenário estava montado para uma transformação na história política do Brasil.
Identidade Política do Brasil e os impactos da República
Os eventos ligados à Proclamação da República moldaram a identidade política do Brasil nos anos subsequentes, gerando tanto pensamentos positivos quanto negativos na sociedade.
Karla Marcolino destaca a influência militarizada como um ponto negativo, alertando para a exclusão de diversas alas na política. A extinção do “poder moderador”, por outro lado, é considerada positiva, representando a descentralização do poder das mãos do Imperador.
“O pensamento militarizado e a ida dessa ala aos poderes em momentos seguintes foi um ponto negativo, visto que a sociedade não é fechada e os indivíduos são diversos, fechar poderes em mãos de grupos conservadores exclui do processo político diversas outras alas. Alas essas que passam a ser alvo de retaliações em diversos âmbitos. A extinção do ‘poder moderador’ também foi um ponto, que ao meu ver, positivo, visto que este era somente a confirmação do que já ocorria anteriormente, que era a centralização do poder nas mãos do Imperador”
Karla Marcolino, historiadora e professora
A autonomia das províncias, pós República, levou a diversos processos que culminaram na formação de Estados independentes, contribuindo para a diversidade política do país.
Sobre os impactos duradouros, Marcolino enfatiza a subjetividade da visão de cada estrutura para diferentes grupos sociais. Elites consolidam poderes, enquanto as camadas populares enfrentam desafios na busca por participação, direitos e legado na formação do país até os dias atuais.
“Os impactos serão diferentes em cada ala da sociedade e a visão de cada nova estrutura é muito subjetiva a medida em que grupos sociais distintos entendem e passam por cada processo de maneiras distintas. Enquanto que elites passam a ter maiores poderes e confirmam seus diálogos com quaisquer grupos que passem ao poder por meio de seus conchavos, as camadas mais populares seguiram ‘pagando a conta’ e buscando através de lutas diversas sua participação, seus direitos e seu legado que é profundo na formação ‘do todo’ de nosso país”, expressou Karla.