Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Inory Kanamari é a primeira indígena a presidir a Comissão de Amparo e Defesa dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Amazonas (OAB-AM). Os Kanamari originalmente moravam no alto-médio rio Juruá, no Amazonas, onde a maioria deles ainda reside.
Inory nasceu em uma comunidade ribeirinha chamada Aracú, localizada nas barrancas do Rio Juruá – um dos principais afluentes da margem direita do Amazonas. O nome dela significa força.
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O desejo de se tornar advogada e, assim defender, os direitos dos indígenas e suas causas surgiu quando ela viu o pai – uma liderança indígena – ser preso injustamente.
“Nesse momento decidi que me tornaria uma pessoa na sociedade, que lutaria pela defesa dos mais vulneráveis”, contou a advogada.
Em conversa com o Portal RIOS DE NOTÍCIAS, Inory Kanamari explicou que a Comissão foi criada com objetivo de minimizar as violências contra os direitos humanos dos povos indigenas que habitam o estado do Amazonas.
“A Comissão atua nos territórios Indígenas na tentativa de aproximar o Poder Judiciário dos povos indígenas como forma de diminuir os assassinatos e invasões de grupos étnicos que se encontram em locais de difícil acesso, onde o Estado brasileiro não se faz presente e por isso povos originários seguem sendo assassinados, invadidos e ameaçados”, explicou Inory.
Ela assumiu a presidência em 2022, mas como é ser a primeira advogada indígena Kanamari a presidir uma Comissão dedicada aos povos originários?
“Esses espaços não estão preparados para ver ou ter indígenas em espaços de comando, poder ou visibilidade. Os povos indígenas desejam serem tratados como pessoas, com direito ao respeito e a viverem em paz”, destacou Kanamari.
O Comissão
Inory Kanamari ressaltou que a Comissão Indígena é muito reconhecida fora do Amazonas, como no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília por exemplo.
“No Rio de Janeiro, apresentei uma palestra no Teatro Municipal com 5 mil convidados. Recentemente, estive em Curitiba sendo a primeira mulher indígena advogada a palestrar na Quarta Conferência Nacional da Ordem dos Advogados, que foi a Conferência da Mulher”, destacou Inory.
Apesar da Comissão ter esta valorização em outros estados, Inory acredita que o desconhecimento sobre a existência do trabalho da Comissão Indígena da OAB no Amazonas é reflexo de um processo de colonização do Estado que ainda não terminou.
“Você não vê pessoas indígenas em espaço algum, sigo sendo a única indígena dentro da ordem dos advogados. Você não vê juízes, defensores públicos e promotores indígenas, você não vê pessoas indígenas em local de poder e de comando ou de visibilidade, porque as pessoas indígenas, elas são marginalizadas”, desabafou Kanamari.
Há dois anos à frente da comissão, a advogada indígena contou que segue sem apoio. “Mas eu tenho parceiros, pessoas, físicas e jurídicas que apoiam e são de outros estados da federação. Somente uma pessoa jurídica é aqui do estado de Amazonas, o restante são todos apoiadores fora do estado do Amazonas”, desabafou.