Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Diante da seca extrema que atinge o Amazonas, o transporte aéreo se faz ainda mais importante. Em alguns locais, é o único meio de deslocamento entre os municípios.
A decisão da Concessionária dos Aeroportos da Amazônia, subsidiária da francesa Vinci Airports, que suspendeu parcialmente as operações nos três principais aeroportos do Estado agrava esse cenário. O motivo para o fechamento é a reforma das pistas de pouso e de decolagem.
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A Concessionária possui, após leilão, a concessão do direito de uso comercial dos aeroportos desde 2020.
O Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, o Aeroporto Internacional de Tabatinga, e o Aeroporto Regional de Tefé estão com suas operações suspensas no horário da manhã: das 4h até 12h em Manaus; e de 7h às 15h em Tefé; e 6h até 14h em Tabatinga.
A suspensão irá se estender por quatro meses e tem sido criticada por pilotos e empresários de táxis aéreos. Eles alertam que o fechamento dos aeroportos deve agravar os efeitos da seca e traz insegurança para os voos na região.
O piloto de aeronaves na Amazônia e CEO da Tavam Táxi Aéreo, Mário Júnior, revelou ao portal RIOS DE NOTÍCIAS que o fechamento dos aeroportos tem impactado a estiagem no interior. “Nunca houve tanta necessidade de avião como está tendo no momento”.
“Muitos municípios têm reportado falta de abastecimento de dinheiro, porque a região amazônica necessita de transporte de valores por modal aéreo, afinal de barco demora demais, e expõe os transportadores a assaltos. Também gera falta de socorro médico e insumos. Os combustíveis que vão em balsa não estão chegando”
Mário Júnio, CEO da Tavam Táxi Aéreo
Problemas na logística e segurança
No Amazonas, apenas os aeroportos de Manaus, Tabatinga, Tefé e São Gabriel da Cachoeira oferecem abastecimento para as aeronaves. Dos quatro municípios, São Gabriel é o único com as operações em normalidade.
Frente à suspensão parcial dos três aeroportos, Mário Júnior ressaltou que o fechamento dos aeroportos impacta diretamente a logística e segurança dos voos de táxis aéreos.
Sem as atividades dos principais aeroportos no horário da manhã e à tarde, as aeronaves carecem de alternativas para pousos de emergência e para abastecimento. A falta de voos alternados, conforme o piloto, também deve afetar transporte de pacientes para unidades hospitalares.
“A gente tem pedidos de voos para resgatar um paciente de Tabatinga às 8h, e que precisa ser tratado em Manaus. Com a restrição, só posso buscar o paciente às 15h. Ele vai chegar em Manaus apenas 19h”, disse Mario’s Júnior.
Com a restrição dos voos pela manhã e à tarde, as aeronaves detêm apenas à noite para realizar as viagens. No entanto, no período da noite, poucos aeroportos oferecem abastecimento.
“Se eu saio de Tabatinga a Manaus à noite, minha única alternativa, caso eu não consiga pousar em Manaus, é Santarém, que fica cerca de duas horas de distância. Os taxis aéreos não têm autonomia para fazer um voo nesta magnitude”, explicou o piloto.
Na sexta-feira, 6/10, a concessionária dos Aeroportos da Amazônia se reuniu com pilotos de aeronaves. Porém, segundo Mário Júnior, não houve consenso entre as partes.
“Em nenhum momento deu abertura para as nossas solicitações. Ela [concessionária] disse que os horários das obras são estes, e que a gente pode voar a noite. Demonstrou qualquer conhecimento sobre a realidade do Estado”
Mário Júnio, CEO da Tavam Táxi Aéreo
Caos anunciado
Ainda em agosto, o Portal RIOS DE NOTÍCIAS já havia noticiado a falta de planejamento no fechamento parcial do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e que isso impactaria no cancelamento de voos, principalmente ao interior do Estado, que em sua maioria ocorrem pela manhã.
Na época, a diretora-presidente da concessionária dos Aeroportos da Amazônia, Karen Strougo, negou que o fechamento parcial da pista para reforma traria problema ao consumidor. ““O objetivo é que as companhias aéreas realoquem seus voos, de forma a ter o mesma disponibilidade de voos e assentos”.
“Nós operamos de acordo com a normativa de segurança, e temos uma série de medidas que mitigam eventuais problemas que possam acontecer. E isso é algo passível de regulamentação, passível de inspeção e, nós temos muita tranquilidade em relação a isso. Mas sem dúvida, para garantir a continuidade operacional sem eventos que obriguem a gente a parar de maneira abrupta, como aconteceu no mês de março, precisamos fazer intervenções profundas,” ressaltou Karen Strougo sem dar maiores detalhamentos dessa operação.
O que diz a concessionária
Por meio de nota, a assessoria da Concessionária dos Aeroportos da Amazônia esclarece que não sugeriu voos noturnos para empresas de táxi aéreo pousarem ou decolarem nos aeroportos de Tefé, Tabatinga e Manaus, embora as companhias que tenham táxi aéreos homologados possam fazer este tipo de operação e os aeroportos operados pela concessionária tenham toda a infraestrutura necessária para isto.
A empresa, entendendo o momento de emergência devido à seca extrema, está promovendo uma série de medidas que busca contribuir com o Estado durante a estiagem e atenuar o impacto das obras na pista desses terminais.
Uma das medidas foi a criação de comitês para ouvir e entender a necessidade de todas as partes envolvidas.
A nota informa, ainda, que na última sexta-feira, 6, foram convidados os operadores de táxi aéreos para entender as reais necessidades dessas empresas após a publicação do decreto emergencial.
Foi sugerida pela concessionária a antecipação de abertura e/ou a prorrogação do fechamento dos aeroportos de Tefé e Tabatinga. Isto significa abrir os aeroportos especialmente para operações que necessitem de pouso ou decolagem entre 5h e 7h da manhã, dependendo do aeroporto. São opções de flexibilização das operações nesse momento em que o Estado está vivendo. Cada empresa aérea decide o que é melhor para operação, não sendo uma imposição dos aeroportos.
Com essa medida, os aeroportos estariam disponíveis para pouso e decolagem durante 16 horas por dia e as obras essenciais ocorrem durante 8 horas.
Importante ressaltar que serviços de adequação normativa principalmente voltados à melhoria da segurança operacional desses três aeroportos estão previstos em contrato de concessão e são exigência da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Estão sendo realizadas por etapas, com todo o cuidado para que tenha o menor impacto possível sobre os usuários.
As melhorias precisam ser realizadas em horário diurno devido à tipificação da obra, para maior qualidade e segurança na operação. O cronograma de obras foi definido em alinhamento com as companhias aéreas, e diversas outras associações e entidades envolvidas, incluindo transporte de valores e a Secretaria de Saúde do Amazonas, para a viabilização de voos aeromédicos, por exemplo.
As obras nos três aeroportos mencionados são necessárias para garantir a continuidade operacional, a segurança e a eficiência das operações aeroportuárias. Atenderemos a todos os voos humanitários.