Nicolly Teixeira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O estado do Amazonas apresentou o menor índice de crianças e adolescentes vivendo em situação de pobreza, de acordo com levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A pesquisa revela uma redução de 88,6%, em 2019, para 78,7%, em 2023, uma queda de 9,9% entre os dois anos.
O estudo intitulado Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil – 2017 a 2023, que utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, indicou que 1.092 crianças e adolescentes no Amazonas ainda vivem em condição de pobreza.
Apesar da diminuição geral, a realidade das crianças e adolescentes no estado ainda é marcada por privação de direitos fundamentais. O estudo aponta que 10,2% das crianças estão privadas de acesso à educação; 10,4% não têm acesso à informação; 4,8% se encontram em situação de trabalho infantil; 26,4% vivem em condições precárias de moradia; 14,8% não têm acesso a água; 60,2% estão sem saneamento básico, e 35% são privadas de renda.
Panorama nacional
Além do Amazonas, os dados também refletem a situação do Brasil como um todo, com a redução do número de crianças e adolescentes vivendo em diferentes níveis de pobreza.
O total caiu de 34,3 milhões em 2017 para 28,8 milhões em 2023, representando uma melhora de 16% no período. No entanto, os índices ainda são alarmantes, indicando que, apesar dos avanços, muito ainda precisa ser feito para erradicar a pobreza infantojuvenil no país.
A pobreza ligada à desigualdade social
Em entrevista ao portal RIOS DE NOTÍCIAS, o doutor em Linguística e professor da UFAM, Sérgio Freire, especialista em Análise do Discurso, analisou os números apresentados pela pesquisa. Para ele, a redução da pobreza infantil no Amazonas reflete os esforços conjuntos entre políticas públicas e iniciativas sociais, mas também destaca a persistência de uma desigualdade social enraizada no estado.
“A diminuição dos índices é, sem dúvida, um dado positivo e deve ser reconhecida como resultado do esforço coletivo entre governos e organizações sociais. No entanto, os números ainda são elevados quando comparamos com outras regiões, o que revela a continuidade de uma profunda desigualdade social”, comentou Freire.
Freire enfatizou que a pobreza que afeta mais de 70% das crianças e adolescentes no Amazonas não é apenas um reflexo de dificuldades econômicas, mas está diretamente ligada à desigualdade social, ao acesso limitado a bens sociais e à falta de oportunidades no mercado de trabalho. Isso perpetua a exclusão social e dificulta o acesso a serviços essenciais, como educação de qualidade, saúde básica e moradia digna.
“A pobreza no Amazonas é um problema multifacetado. Ela está relacionada à falta de acesso a bens sociais, culturais e econômicos e à escassez de oportunidades que poderiam interromper o ciclo de pobreza. As crianças e adolescentes enfrentam dificuldades para ter uma educação adequada, serviços de saúde básicos, moradia digna, alimentação de qualidade e acesso a atividades culturais e recreativas, essenciais para o seu pleno desenvolvimento“, explicou o especialista.
Para o professor, reverter esse quadro exige políticas públicas mais eficazes, com atuação em áreas fundamentais como educação, saúde, infraestrutura, assistência social e cultura, para garantir o acesso aos direitos básicos e oferecer igualdade de condições.
Distância entre ricos e pobres
Freire também destacou a importância de reduzir a disparidade econômica e social por meio de políticas que promovam justiça social e redistribuição de renda. Ele sugeriu que um dos caminhos para isso seria o fortalecimento de iniciativas para combater a evasão escolar, além de integrar a cultura e a tecnologia como ferramentas para romper com o ciclo geracional da pobreza.
“Reduzir a distância entre os mais ricos e os mais pobres é uma das chaves para a construção de uma sociedade mais justa. Isso passa pela criação de políticas que promovam a justiça social e a redistribuição de renda. Investir em educação inclusiva, formação profissional e na geração de emprego é fundamental para um futuro mais igualitário. Fortalecer políticas que combatam a evasão escolar, ao mesmo tempo que se promove a inserção cultural e tecnológica, é vital para interromper o ciclo da pobreza“, concluiu o professor.
Desafios ainda persistem
Embora reconheça os avanços, o especialista alerta que a luta contra a pobreza infantojuvenil no Amazonas ainda está longe de ser vencida. Ele reforça que os dados, embora positivos, ainda refletem a luta contínua por justiça social.
“É importante celebrar as conquistas, mas os índices indicam que o caminho é longo. A luta contra a pobreza infantil e juvenil é, acima de tudo, uma luta por justiça social e pelo direito de cada criança e adolescente viver com dignidade, com a esperança de um futuro melhor”, finalizou Sérgio Freire.