Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelam que o Amazonas enfrenta uma crise ambiental em 2023, com 6.991 focos registrados até 29 de setembro.
Os números tornam setembro de 2023 o segundo pior mês de setembro desde 1998 em termos de focos de queimadas, com o recorde negativo ainda pertencendo a setembro de 2022, quando foram registrados 8.659 focos. A média de queimadas para setembro no Estado é de 3.003, o que torna o número atual mais do que o dobro do esperado. No bioma Amazônia, foram registrados 33.247 focos em setembro deste ano.
A situação se agrava devido a um período de seca severa na região e anos de desmatamento em alta no bioma, visto que as queimadas na Amazônia têm uma relação direta com o desmatamento.
A prática é utilizada como parte da estratégia de “limpeza” do solo desmatado para futura utilização na pecuária ou no plantio, mas traz consigo consequências graves, como a piora na qualidade do ar.
Nas últimas semanas Manaus foi tomada por fumaças causadas em municípios na região metropolitana. No dia 21 de setembro, a capital amazonense liderou a pior qualidade do ar no mundo.
Ações do Governo do Amazonas
Diante da situação, o governador Wilson Lima decretou, no último dia 12 de setembro, estado de emergência ambiental, que permanecerá em vigor por 90 dias. Lima também apresentou o plano de ação estadual para a “Operação Estiagem 2023”. Com um investimento de R$ 100 milhões, a operação envolve cerca de 30 órgãos da administração direta e indireta do Governo do Estado.
A iniciativa ocorreu em meio a preocupações com a navegação fluvial prejudicada e o impacto na qualidade do ar, que atingiu níveis considerados péssimos. O decreto visa agilizar a assistência às cidades com previsão de agravamento da seca, incluindo a distribuição de ajuda humanitária e kits de higiene, além de medidas para apoiar os produtores rurais.
Atualmente, dos 62 municípios do Amazonas, 23 já estão em situação de emergência e 35 em alerta, de acordo com o boletim da Defesa Civil do Amazonas de segunda-feira, 2/10.
A Defesa Civil também também capacita mais agentes municipais e estaduais, entregando purificadores de água coletivos, emitindo alertas e orientações para a população e adquirindo cestas básicas e caixas d’água para os afetados.
Alerta para saúde
Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o WWF Brasil apontou que as queimadas na Amazônia provocaram um aumento nas internações hospitalares por problemas respiratórios entre 2010 e 2020, que custaram quase R$ 1 bilhão aos cofres públicos.
O estudo analisou as tendências de internações hospitalares por doenças respiratórias e estimativas de concentração de partículas respiráveis finas (PM2,5) relacionadas às queimadas na Amazônia.
Os estados da Amazônia Legal mais afetados pelo fogo, como Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre, registraram um aumento considerável nas hospitalizações relacionadas à concentração de partículas respiráveis e inaláveis finas presentes na fumaça das queimadas.
No Amazonas, 87% das internações estão associadas à alta concentração de fumaça. A situação reforça a necessidade de medidas para reduzir o uso do fogo na região, especialmente em anos com ondas de calor frequentes e secas intensas.
Segundo o levantamento, a pandemia de COVID-19 combinada com as queimadas florestais pode ter agravado a saúde da população da Amazônia, pois os poluentes das queimadas podem aumentar o risco de infecções respiratórias.
Entre as recomendações, o estudo inclui a evolução dos sistemas de vigilância em saúde, políticas consistentes de redução do desmatamento, programas de vigilância epidemiológica, e esforços preventivos no controle de zoonoses.
A íntegra do estudo “Amazônia brasileira: potenciais impactos das queimadas sobre a saúde humana no contexto da expansão da Covid-19” está disponível no silte oficial da WWF Brasil.
Missão Governo Federal
Nesta quarta-feira, 4/10, o governo federal enviará uma comitiva de ministros para visitar o rio Madeira, que sofre com uma seca histórica que fez a usina Santo Antônio, em Rondônia, interromper a geração de energia.
O rio que banha os Estados de Rondônia e Amazonas e é um dos principais afluentes do rio Amazonas, baixou o nível de água a 1,43 metros nas últimas semanas, segundo a Defesa Civil.
O próprio presidente Lula da Silva (PT) deu a ordem. Como Lula se recupera de uma cirurgia no quadril, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) acertará os detalhes da viagem.
A comitiva reunirá o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro; e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.