Elen Viana – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Os períodos de seca na Amazônia estão cada vez mais prolongados, consequência das mudanças climáticas e do aquecimento global, explicam especialistas. De acordo com dados do Porto de Manaus, o Rio Negro está há 82 dias abaixo da cota de segurança, que é de 16 metros.
Os especialistas ambientais afirmam que a Amazônia vive um novo ciclo, caracterizado como o “novo normal”, com períodos de estiagem mais prolongados e temperaturas mais altas. O geógrafo e ambientalista Carlos Durigan atribui esses cenários ao aquecimento global e as atividades humanas.
“O que estamos vivendo atualmente já pode ser considerado como um novo normal, uma Amazônia mais quente e seca, em função das consequências do aquecimento global, provocado por emissões de gases do efeito estufa. Nos últimos anos, temos testemunhado extremos climáticos e estiagens consecutivas. Em 2023 e 2024, tivemos recordes de redução de chuvas e níveis baixos nos rios da região durante os meses mais secos”, explicou Durigan.
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O engenheiro florestal Leonan Valente destacou que, além dos fenômenos climáticos naturais, como o El Niño, o desmatamento e a degradação ambiental agravam o problema, desequilibrando o regime hídrico e contribuindo para eventos extremos.
“O ciclo hidrológico da Amazônia sofre influência de fenômenos globais, como o El Niño, que reduz as chuvas na região durante o período de seca. No entanto, o desmatamento e a degradação ambiental intensificam esses efeitos, desequilibrando o regime hídrico e aumentando eventos extremos, como cheias severas e secas intensas”, afirmou Valente.
Durigan também chamou atenção para o estresse hídrico, uma situação em que a demanda por água supera a quantidade disponível na região.
“Estudos indicam um estresse hídrico acentuado, que afeta os níveis dos rios, lagos e a umidade do solo, resultando no ressecamento das áreas florestais e tornando-se mais suscetíveis a queimadas. Ainda é difícil prever o futuro deste cenário, mas a tendência é de intensificação, especialmente com a elevação contínua da temperatura média global nos próximos anos”, enfatizou o geógrafo.
A pior seca da história
No início de outubro, o rio negro superou a marca histórica de 2023, que até então era de 12,70 metros, alcançando 12,66 metros. A situação crítica já era esperada devido à variação diária do nível do rio, que apresentava uma queda média de 0,14 centímetros.
No dia 9 de outubro, o rio atingiu sua pior marca registrada, marcando 12,11 metros, o menor nível desde o início do monitoramento, em 1902. Os dados foram divulgados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), sinalizando a pior seca dos últimos 122 anos.