Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Concurseiros denunciam falhas na administração e comunicação durante o primeiro Exame Nacional da Magistratura (Enam), aplicado pela Fundação Getúlio Vargas diante de situações imprevistas. Os candidatos reivindicam uma abordagem realista em relação ao ocorrido durante a aplicação da prova no domingo, 14/4.
Durante a realização do certame, houve interrupção no fornecimento de energia em mais de 85% da cidade, resultando na suspensão do exame nas salas. A falta de energia ocorreu às 13h56 e foi restabelecida por volta das 17h40.
Segundo a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), aqueles que optaram por permanecer aguardando o retorno da energia estarão automaticamente inscritos para o próximo Enam, previsto para outubro de 2024.
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Contudo, a decisão não foi bem recebida pelos candidatos. Segundo Paulo Gabriel, que estava presente e tentou realizar a prova, a execução do exame foi descrita como “ridícula”. Paulo relatou que os candidatos foram proibidos de continuar o teste durante esse período, não levando em conta a situação das pessoas presentes que foram impactadas com a falta de energia.
“Ficamos quase 2 horas com as provas fechadas nas carteiras, sem a possibilidade de continuar, sob ameaça de punição grave, incluindo a exclusão do candidato do Exame. Aqueles que decidissem sair teriam a desistência registrada. Durante essas 2 horas, com o calor e a ansiedade, vários candidatos passaram mal, incluindo idosos e gestantes, e tiveram que ser retirados das salas”, relatou Gabriel.
O candidato critica a falta de resposta diante do incidente, já que a Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsável pela aplicação da prova, não apresentou um protocolo a ser seguido em situações como o ocorrido.
“A questão não é a falta de energia, pois isso é um evento imprevisível, mas sim o completo descaso da FGV com todos os candidatos da cidade de Manaus e a ausência de um protocolo para lidar com uma situação dessa gravidade.”, disse Paulo.
Falta de comunicação
Depois que a energia foi restabelecida, houve uma extensão do tempo para a realização da prova. No entanto, Paulo ressaltou que muitos estavam exaustos de esperar tanto tempo. Além disso, o tempo extra não foi suficiente para completar a prova.
Ele mencionou que houve confusão nas instruções dadas em diferentes salas onde o exame era aplicado. No grupo em que ele estava, receberam informações contraditórias em relação ao prosseguimento da prova após as quedas de energia.
“No grupo em que estou, concluímos que receberam informações diferentes em cada anexo. Eu estava no Anexo I e tivemos duas situações: na primeira queda de energia, mandaram parar a prova, fechar os cadernos e esperar por novas instruções. Mais de 40 minutos depois, autorizaram retomar a prova quando a energia voltou por cerca de 10 minutos. Então, houve outra queda e mandaram suspender a prova novamente. Ficamos mais de 50 minutos com a prova suspensa na segunda vez”, disse o candidato.
Ele mencionou que receberam duas informações: a primeira era para não realizar a prova até nova ordem, sob risco grave de exclusão do processo seletivo. A segunda era para permanecer em silêncio nas salas e esperar. Se quisessem sair, deveriam entregar as respostas e assinar a ata de desistência do exame.
Porém, outras salas receberam orientações diferentes, o que evidenciou uma falha na comunicação. Segundo a candidata Selma Becil, as instruções variaram durante as quedas de energia, resultando em salas onde os candidatos continuaram a prova mesmo durante os apagões, enquanto em outras foram instruídos a fechar as páginas e aguardar.
“No primeiro apagão, mandaram a gente parar. Depois, quando voltou, mandaram a gente continuar, mas foi embora novamente. Nisso, mandaram a gente fechar a prova e aguardar. Todo mundo aguardou, mas teve salas que as pessoas continuaram realizando a prova mesmo com o apagão. E na minha sala, simplesmente mandaram fechar a prova. Depois apareceu uma moça da comissão dizendo ‘olha, não façam mais a prova. Entreguem a prova e saiam, já está todo mundo liberado’. Mas, quando eu cheguei lá fora, tinha colegas com provas na mão”, relatou Becil.
Prejudicados
Na sala em que Gabriel se encontrava, os candidatos receberam a orientação de aguardar instruções de Brasília, pois a comissão administradora do concurso estava ciente da queda de energia e estava decidindo como proceder. Essa decisão poderia se estender até o fim do certame, ou seja, até às 18h.
“Considerando que os celulares estavam guardados, só podíamos acreditar nas informações que eles passavam. Nós éramos um bando de desocupados, que ficaram esperando das 15h às 18h para saber se uma comissão de Brasília decidiria algo do concurso. Foi uma palhaçada!”, disse.
Paulo Gabriel ressalta a diferença e o contexto no qual estão reivindicando.
“Uma coisa é fazer o exame em condições normais e não passar. Outra é não conseguir fazer o exame e ser prejudicado por isso.”
Declarou o rapaz.
Ainda de acordo com Paulo, o receio é de que todos os concurseiros de magistratura de Manaus estejam excluídos do certame, por falta de preencher o requisito objetivo de aprovação no ENAM, visto que a forma como a situação foi conduzida e da falta de esclarecimentos nos procedimentos a seguir.
“É importante que candidatos do Brasil inteiro saibam o que ocorreu na cidade. É importante que saibam da falta de respeito que a comissão da FGV cometeu e da inércia da comissão fiscalizadora do TJAM e do TRF 1.”, destacou Gabriel.
Posição do Conselho
A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) se pronunciou sobre a aplicação da prova em Manaus por meio de uma nota no domingo, 14/4.
A aprovação no Exame Nacional da Magistratura (ENAM) é requisito indispensável para se inscrever em concursos de magistratura. Quem não tiver essa aprovação, é impossibilitado de se cadastrar.