Redação Rios
A Arquidiocese de São Paulo se pronunciou, por meio de uma nota, afirmando que está acompanhando com “perplexidade” a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que “coloca em dúvida a conduta do Padre Júlio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua”.
Segundo o documento publicado na quarta-feira, 3/1, a instituição afirma que o sacerdote “exerce importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”.
Além disso, a nota ressalta que a Arquidiocese incentiva a continuidade das “obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade” empreendidas por Lancellotti.
A CPI articulada na Câmara de São Paulo visa investigar organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, região central de São Paulo. A comissão será instaurada em fevereiro, após o recesso parlamentar. O autor da proposta, vereador Rubinho Nunes (União), aponta que o padre Júlio Lancellotti será um dos principais alvos desta CPI.
Rubinho acusa as organizações de promoverem uma “máfia da miséria”, que “explora os dependentes químicos do centro da capital”. Segundo ele, essas organizações recebem dinheiro público para distribuir alimentos, kit de higiene e itens para o uso de drogas, prática conhecida como política de redução de danos, à população em situação de rua, o que, argumenta ele, gera um “ciclo vicioso” no qual o usuário de crack não consegue largar o vício.
Defesa
Ao se pronunciar sobre a acusação, o Padre Júlio Lancellotti afirmou que se trata de uma ação legítima quando se instala uma CPI para investigar o uso de recursos públicos pelo terceiro setor. Ele acrescentou que não faz parte de nenhuma organização conveniada à Prefeitura de São Paulo, mas, sim, da Paróquia São Miguel Arcanjo.
Contudo, ele acrescenta que seus trabalhos estão vinculados à Ação Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que, por sua vez, “não se encontra vinculada, de nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão.”
A Craco Resiste, um dos alvos do vereador, informou que não é uma ONG e sim um projeto de militância que atua na região da Cracolândia para reduzir danos a partir de vínculos criados por atividades culturais e de lazer.
“Quem tenta lucrar com a miséria são esses homens brancos cheios de frases de efeito vazias que tentam usar a Cracolândia como vitrine para seus projetos pessoais. Não é o primeiro e sabemos que não será o último ataque desonesto contra A Craco Resiste”, declarou a entidade em nota divulgada nas redes sociais.
A reportagem não conseguiu contato com o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecida como Bompar, também mencionada por Rubinho.
Nota da Arquidiocese de São Paulo
“Acompanhamos com perplexidade as recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que coloca em dúvida a conduta do Padre Júlio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua. Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade. Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade.”, diz a nota em resposta a acusação feita ao Padre Júlio Lancellotti.
*Com informações da Agência Brasil