Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A manhã desta quinta-feira, 18/1, foi marcada pela notícia da morte do saxofonista Teixeira de Manaus aos 79 anos. A partida do músico, ocasionada pelo choque séptico decorrente de um tumor na hipófise, abalou não apenas seus familiares, mas toda a comunidade artística e fãs.
A notícia se espalhou rapidamente, e artistas locais manifestaram profundo pesar pela perda do ícone da música regional. Em um depoimento emocionado, o vocalista da banda Alaídenegão, Rafael Ângelo dos Santos, mestre em música pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ressaltou a contribuição única de Teixeira para a música do Beiradão.
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Rafael destacou as características marcantes desse estilo, como as melodias ricas, influências de ritmos latinos e nordestinos, além da inventividade rítmica.
“Se não fosse o Teixeira de Manaus, a gente não teria a música do Beiradão. Ele foi o primeiro artista a lançar as músicas nesse formato, com essa característica, mais instrumental, com letras curtas. É uma música muito rica. Tem que ter muita criatividade para poder lidar, inventar e criar sequências de melodias, mas também invenções rítmicas. A gente deve muito ao Teixeira de Manaus”, esclareceu Rafael sobre a relevância do saxofonista.
“É mais um ídolo que se vai, infelizmente. E isso abre a reflexão para que possamos valorizar a nossa cultura, enxergar a riqueza do trabalho do Teixeira, dos artistas da cultura popular, do Beiradão, do Boi Bumbá. Tem todo esse caldeirão cultural e precisa ser mais valorizado”, complementou Rafael que é o autor do documentário “A Poética dos Beiradões“.
Teixeira de Manaus estava internado desde dezembro de 2023 na UTI do Hospital Santa Júlia e amigos realizaram uma campanha de doação para ajudar nas despesas médicas dele.
Outro depoimento marcante veio do também saxofonista, Elizeu Costa, graduado em música pela UFAM, que dedicou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ao artista, com título “Yo Cantare: Uma análise nas técnicas de composição e interpretação executadas pelo saxofonista amazonense Teixeira de Manaus”. Ele mencionou como Teixeira foi referência para muitos músicos em Manaus, e suas músicas eram essenciais para animar o público em seus shows.
“Como pesquisador, o Teixeira de Manaus foi um músico que fez muito sucesso tocando as músicas nos beiradões, nos festejos das comunidades ribeirinhas, e isso despertou a curiosidade de eu saber como é a identidade, como era o som dele. Por isso, pesquisei a harmonia, a fraseologia, a articulação que ele fazia no saxofone e os ornamentos que ele utilizava nas músicas dele”, pontuou Elizeu sobre a importância do artista sobre o seu trabalho.
“Como músico, penso que o Teixeira de Manaus foi referência para mim por ser saxofonista. E as músicas do Teixeira são um sucesso até hoje para muitos músicos em Manaus. E eu incluí as músicas dele no meu repertório pelo fato de as músicas dele animarem o público. É uma forma de manter o legado dele como saxofonista”, disse.
Legado
Teixeira de Manaus, nas décadas de 70 e 80, alcançou destaque como um dos maiores vendedores de LPs do Brasil. Sua fama extrapolou as fronteiras do Amazonas, com apresentações em todo o país e discos produzidos por gravadoras do Rio e São Paulo.
A especialidade do músico era valorizar ritmos latinos como Salsa, Merengue, Carimbó e Cúmbia, contribuindo para a diversidade musical brasileira.
A cidade de Manaus, que testemunhou o surgimento do excepcional saxofonista, agora lamenta profundamente a perda de um personagem da música nortista que deixou sua marca nos ritmos dançantes que ecoam até hoje nas festividades locais.
O Beiradão perde seu Rei, mas seu legado continuará a ressoar pelo interior da Amazônia e será motivo de pesquisa para as próximas gerações.