A credibilidade das pesquisas eleitorais em Manaus tem sido amplamente questionada por candidatos e pela população. O alto número de pesquisas registradas, totalizando 45, enquanto cidades como Rio de Janeiro e São Paulo registraram 19 e 39, respectivamente, alimenta essas suspeitas.
Alberto Neto (PL), candidato à prefeitura, afirmou que os resultados não refletem a realidade das ruas, especialmente em relação a sua posição atrás de Roberto Cidade (União). As flutuações nas posições de Cidade entre segundo e quarto lugar aumentam ainda mais as dúvidas. David Almeida (Avante), atual prefeito e líder nas pesquisas, também questionou a precisão dos números, acreditando que sua vantagem sobre Amom Mandel (Cidadania) deveria ser maior.
Diante desse cenário, surge a questão: as pesquisas eleitorais refletem a realidade ou estão sujeitas a manipulações? Para entender melhor a situação, conversei com especialistas em pesquisas de opinião pública e ciência política.
A importância da credibilidade e metodologia
Bruno Soller, estrategista eleitoral e especialista em pesquisas de opinião, destaca que a credibilidade de uma pesquisa depende diretamente de quem a realiza e de quem a contrata. Ele sugere que, ao avaliar os dados de uma pesquisa, é fundamental considerar a reputação dos institutos responsáveis. “Tem muita pesquisa fake, muita pesquisa encomendada por candidato”, adverte Soller. Ele afirma que as pesquisas vinculadas a grandes veículos de comunicação, possuem uma metodologia mais robusta e devem ser levadas a sério.
Por outro lado, Davidson Cavalcante, cientista político e sociólogo pela PUC-SP, alerta para a necessidade de uma reavaliação das metodologias utilizadas. “A forma como as amostras são coletadas, o perfil dos entrevistados e a formulação das perguntas podem influenciar significativamente os resultados”, explica Cavalcante. Ele também aponta que a falta de transparência na divulgação desses métodos contribui para a desconfiança tanto por parte dos candidatos quanto da população.
Disparidades e impacto nas eleições
Outro ponto de destaque é o número expressivo de pesquisas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em Manaus, que já somam 45, enquanto cidades como Rio de Janeiro e São Paulo registraram 19 e 39 pesquisas, respectivamente. Esse volume elevado em uma capital de menor relevância política nacional levanta suspeitas. Soller sugere que essa disparidade pode ser explicada pela alta competitividade da eleição em Manaus, onde há vários candidatos com chances reais de ir para o segundo turno. “É um cenário que me parece de segundo turno, com uma tentativa de ver quem vai enfrentá-lo”, comenta Soller, referindo-se à disputa acirrada pela liderança na corrida eleitoral.
Cavalcante, no entanto, vê essa proliferação de pesquisas com cautela. Ele sugere que um grande número de pesquisas pode, na verdade, gerar confusão e contribuir para a manipulação da opinião pública. “O poder de manipulação de uma pesquisa que aponta o crescimento súbito de um candidato e a desidratação de outro pode colaborar para que o eleitor mude seu voto”, adverte. Segundo ele, esse efeito é especialmente preocupante em uma população com baixa instrução, que pode ser levada a acreditar que votar em um candidato mal posicionado nas pesquisas seria “rasgar o voto”.
O papel das pesquisas na decisão do eleitor
Apesar das críticas, Soller acredita que as pesquisas ainda têm um papel importante em oferecer uma visão panorâmica da opinião pública no momento em que são realizadas. No entanto, ele alerta que “a pesquisa não é resultado de eleição”. Soller argumenta que, enquanto as pesquisas podem ajudar a consolidar tendências de pensamento, elas não são determinantes no voto final. “A pesquisa é para mostrar, naquele dia, naquele momento, como as pessoas estão pensando“, destaca Soller. Ele cita exemplos de eleições passadas onde as pesquisas falharam em prever os vencedores, como nos casos de Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais e Wilson Witzel no Rio de Janeiro.
Cavalcante, por sua vez, defende que a transparência e a clareza na metodologia das pesquisas são essenciais para manter a confiança do público. Ele sugere que uma revisão rigorosa das leis que regulam as pesquisas eleitorais é necessária para garantir que esses levantamentos cumpram seu papel de forma justa e imparcial.