Elen Viana – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Líderes populistas se caracterizam especialmente pela influência exercida por meio de seu carisma sobre as massas e sua tendência a adotar medidas econômicas nacionalistas.
Especialistas ouvidos pelo Portal RIOS DE NOTÍCIAS explicam que medidas populistas geralmente oferecem soluções de curto prazo, mas ignoram as consequências econômicas no médio e longo prazo que podem gerar resultados controversos.
“O populismo enfraquece instituições como bancos centrais e sistemas jurídicos, gerando incertezas para investidores e empresas. Isso leva à fuga de capitais e estagnação econômica. Além disso, a confiança do mercado e da população é prejudicada, agravando a crise”, ressalta o cientista político Claudenor de Souza.
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A economia brasileira atravessa um período adverso e incerto. Em 2024, o real se tornou a moeda mais desvalorizada entre as mais negociadas do mundo. Na última quinta-feira, 19/12, o dólar atingiu R$ 6,30 marcando um novo recorde de alta.
“No Brasil, essas medidas frequentemente têm efeitos adversos. O Banco Central divulgou esta semana um relatório que alarmou o mercado, destacando o ‘cenário econômico incerto’. Mesmo com leilões de dólar, a cotação segue em alta. Além disso, a taxa SELIC tem previsão de aumento nas próximas reuniões do COPOM, podendo chegar a 14,25% até abril de 2025”, explica o economista Ailson Rezende.
O economista Dean Athayde aponta outra consequência dessa crise de credibilidade econômica: a dificuldade de vender títulos do Tesouro Nacional, mesmo com juros altos de 15% a 16%.
“Economias fortes não se constroem com soluções mágicas. Medidas populistas podem parecer atrativas, mas levam a mais problemas, como desemprego, inflação e crises prolongadas. O governo precisa tomar medidas sólidas para restaurar a confiança do mercado e evitar impactos fiscais ainda maiores”, conta Athayde.
Economia argentina
Um exemplo de medidas impopulares para a opinião pública é o que faz Javier Milei na Argentina, que adotou ações drásticas para conter a inflação que chegou a 25% ao mês em janeiro de 2024.
Em seu primeiro ano de mandato, Milei cortou cerca de um terço dos gastos públicos, reduziu emissões de moeda e desvalorizou o peso, alinhando a taxa oficial ao mercado. Essas ações resultaram em um superávit após o pagamento de juros da dívida pública, algo inédito no país com a inflação em 2,4% novembro.
“Javier Milei assumiu o governo argentino em profunda crise econômica, mas teve a coragem de reduzir os gastos públicos e eliminou um terço dos gastos públicos de uma só vez. Reduziu as emissões de moeda, considerada a principal causa da inflação. Para o Banco Central, baixou a taxa de juros paga pelos passivos remunerados e desvalorizou o peso, corrigindo a taxa de câmbio oficial e colocando-a quase no mesmo nível da taxa de câmbio do mercado”, contou Ailson Rezende.
No entanto, as medidas tiveram um alto custo social. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), o número de argentinos abaixo da linha da pobreza chegou a 15,7 milhões em 2024, representando 52,9% da população.
“A pobreza atingiu níveis históricos, com mais da metade da população (52,9%) vivendo em condições precárias. Isso equivale a mais de quatro milhões de famílias, cerca de 42% do total no país. Esse tipo de ‘remédio’ pode salvar a economia, mas mata o paciente”, alerta a economista Denise Kassama.
Principais exemplos de líderes populistas mundiais
Donald Trump (Estados Unidos): Durante seu primeiro mandato, promoveu uma agenda de “América Primeiro”, combinando nacionalismo econômico, retórica anti-imigração e desconfiança em instituições tradicionais. Seu uso intenso das redes sociais fortaleceu sua conexão direta com os apoiadores.
Hugo Chávez (Venezuela): Chávez combinou populismo de esquerda com nacionalismo, promovendo redistribuição de riqueza e uma postura antiamericana. Ele manteve uma forte ligação com as massas, mas enfraqueceu instituições democráticas.
Viktor Orbán (Hungria): Orbán utiliza um populismo de direita, focado em nacionalismo, políticas anti-imigração e retórica contra instituições europeias. Sua administração é frequentemente acusada de enfraquecer a democracia na Hungria.
Andrés Manuel López Obrador (México): Conhecido como AMLO, ele tem uma ligação estreita com movimentos sociais e sindicatos, prometendo governar com foco nas camadas mais pobres. É frequentemente comparado a líderes como Hugo Chávez e Lula.