Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Uma prática que nasceu nas ruas da periferia e hoje é considerado um esporte olímpico, assim é o skate. No Amazonas, Ney Maciel se destaca por sua paixão e comprometimento com a prática. Aos 13 anos ele saiu do município de Fonte Boa para morar em Manaus.
Filho de mãe solo, o professor de educação física viveu em situação de vulnerabilidade social na capital e passou por dificuldades até descobrir o universo da quatro rodinhas. “Ney Metal”, como é chamado pelos amigos, fundou a primeira escola de skate do Amazonas junto com o amigo Erick Damon.
Atualmente ele dá aulas aplicando os fundamentos básicos do esporte olímpico, no Centro de Convivência da Camília Teoniza Lobo, no Mutirão, na zona Norte de Manaus.
“O skate não tem limite de idade para praticar, mas na escolinha nós atendemos crianças a partir dos cinco anos”, explica Ney.
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De acordo com o professor, o esporte ajuda crianças com transtornos neurológicos desde o equilíbrio, socialização, lateralidade, visão global e acima de tudo a auto estima. “Quando eles estão em cima do skate se deslocando de um ponto para o outro com meu auxílio ou de outra pessoa, o sorriso vai na orelha e isso gera a auto estima, se torna uma terapia para eles”, conta.
Muitos atletas foram treinados ou orientados por Ney Maciel, nas turmas para as quais deu aula, ele lembra de nomes em destaque no esporte. “Formamos o campeão Amazonense Júnior Nogueira que foi até participar de uma etapa do circuito brasileiro de skate amador em São Paulo e tivemos vários destaques entre eles: Júnior Jiquitaia e Marden Berg”.
O treinador lembra dos vários campões amazonenses de skate, em várias categorias, que foram orientados por ele na delegação que foi a São Paulo: Júnior Nogueira, Márcio Wesley e Tainá Pinheiro. Além disso, Gustavo Ribeiro que foi aluno da escola de skate do centro de convivência Magdalena Arce Daou, também foi treinado por Ney.
Trilogia do skate
Desde criança Ney Maciel desenhava e escrevia poemas na escola. O amor pela escrita e a arte unidas a este esporte o motivou a escrever sua primeira trilogia. O primeiro livro didático no país foi “Skate é arte a brincadeira faz parte”, um manual para professores que queriam utilizar as teorias sobre o skate como ferramenta educativa em sala de aula.
“Meu segundo livro é o ‘Skate a arte de brincar é aprender’, que mostra minha metodologia de ensino e completando a trilogia o ‘Skate Terapia’ , foi um pesquisa que fiz junto com o fisioterapeuta Adriano Queiroz. Fui o primeiro no país a utilizar o skate como uma ferramenta de terapia para ajudar crianças e adolescentes com problemas de ordem neurológica”, conta Ney.
Ao longo de sua trajetória no skate, o professor percebeu mudança na vida dos alunos que passaram por suas aulas e afirma que o esporte construiu isso.
“Sou uma prova viva, eu fiquei em vulnerabilidade na rua, mas fui estudar e hoje sou formado, tenho minha própria casa, tenho minha família e tenho vários amigos que mudaram de vida, hoje são pais responsáveis e o skate faz parte disso. Sei que existem muitos paradigmas sobre o skate, mas ele é um esporte como qualquer outro em vários aspectos”, explica Ney.
De lavador de carros a skatista
O amor do skatista pelo esporte começou quando andava de patins no interior do Amazonas. “Encontrei um lado de uma bota de patins, comecei a brincar com meus irmãos, mas não fica legal só uma bota, então colocamos uma tábua e descíamos a ladeira, assim nasceu o skate em minha vida, sem eu saber. Foi quando minha avó nos trouxe para Manaus e acabei passando por vulnerabilidade social. Fui para o projeto menor Dom Bosco, lá vi alguns garotos andar de skate na rampa bem alta e chamou minha atenção”, lembra.
Durante sua trajetória, Ney Maciel lembra nostálgico da primeira pista de skate inaugurada na Vila Olímpica, na gestão do então ex-governador Gilberto Mestrinho, na época ele estava presente junto com outros atletas na solenidade, uma conquista para os skatistas amadores.
A curiosidade de aprofundar os conhecimentos sobre o esporte veio com a vivência no centro da cidade. “Via a galera andando de skate, na praça da Saudade, aquilo me despertou mais ainda para o esporte. Ganhava pouco, era sacrifício carregar mercadoria para os barcos. Comecei a lavar carro na rua e conheci o Ailton (um lavador de carro que tinha um skate velho), ele me vendeu o skate, então, conheci outro lavador de carro, o Fernando, e comecei a andar de skate vertical na Vila Olímpica sob a influência dos skatistas Alírio, Netinho, Preto, Riquinho, Matchely, Fernando pé na cova e outros”, relembra.
O skatista pratica o esporte desde 1996. “Até hoje ainda dou minha voltinha, mas não como era antes. Para muitos skatista, o skate é um estilo de vida transformador da realidade”, finaliza.