Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Os deputados estaduais responderam às declarações do prefeito David Almeida (Avante), que criticou parlamentares eleitos com votos de Manaus por, supostamente, não destinarem recursos de emendas à capital. As falas do prefeito, feitas durante um evento na terça-feira, 11/2, repercutiram na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), onde deputados contestaram sua postura durante a sessão de quinta-feira, 13/2.
Durante o evento, Almeida afirmou que há deputados federais com mandatos “inúteis” para a capital amazonense. “Tem deputado que não envia um centavo [de emenda] para ajudar a população manauara”, declarou o prefeito.
A fala foi semelhante à retórica usada por Almeida durante a campanha eleitoral, quando criticava adversários políticos. Os deputados federais Alberto Neto (PL) e Amom Mandel (Cidadania), ambos eleitos com forte apoio do eleitorado manauara, foram citados de forma implícita. O prefeito também estendeu a crítica aos deputados estaduais.
Deputados estaduais rebatem declarações
O deputado estadual Wilker Barreto (Mobiliza), que concorreu à Prefeitura de Manaus em 2024, classificou a declaração de Almeida como ofensiva e afirmou que sua postura prejudica qualquer possibilidade de diálogo. Além disso, questionou a transparência da gestão municipal e sugeriu que uma auditoria rigorosa poderia levar à prisão de agentes públicos.
“Que pena que Manaus não teve coragem de mudar. Se tivesse, hoje teríamos muita gente presa, porque essa prefeitura não aguenta uma auditoria. Esse comportamento ofensivo afasta qualquer possibilidade de diálogo, e nosso papel é exercer a plenitude da fiscalização”, afirmou Wilker.
Ele também ressaltou que as emendas parlamentares são essenciais para reduzir desigualdades entre a capital e o interior do estado.
“Pergunte a qualquer prefeito o que seria do interior sem as emendas parlamentares. Elas são fundamentais para a saúde, cultura e esporte, que também geram renda e movimentam a economia. O que surpreende é que essa crítica venha de um prefeito que já foi deputado e presidente desta Casa. Isso não é despreparo, é soberba e arrogância. E, como diz o ditado, a soberba precede a queda”, concluiu.
Outro parlamentar que se manifestou foi o deputado Delegado Péricles (PL), que revelou já ter tentado destinar verbas para Manaus, mas que projetos não foram executados por falta de planejamento da prefeitura.
“Querem obrigar os deputados a enviar emendas para a Prefeitura de Manaus. Já tentei fazer isso. Em 2020, ia destinar R$ 1 milhão para a reforma do CSU do Parque 10, mas a Secretaria Municipal de Infraestrutura de Manaus (Seminf) não conseguiu elaborar um projeto técnico para viabilizar a obra. O mesmo ocorreu com a reforma de uma praça no mesmo bairro”, explicou.
Presidente da Aleam e outros deputados reforçam críticas
O presidente da Aleam, Roberto Cidade (União), também rebateu as declarações do prefeito, esclarecendo que boa parte das suas emendas são destinadas a Manaus, mas por meio de órgãos estaduais, e não diretamente à prefeitura. Ele citou como exemplo a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCECON), que atende pacientes de toda a região.
“Ano passado, destinei mais de 70% das minhas emendas para Manaus, mas não para a Prefeitura, e sim para o FCECON e o Centro de Distribuição de Medicamentos do Estado. Só para a cidade de Manaus e órgãos estaduais, foram mais de R$ 19 milhões em emendas. Sabemos que a maior demanda da saúde está na média e alta complexidade, e todos os problemas do estado acabam vindo para a capital”, explicou Roberto Cidade.
O deputado Rozenha (PMB) também criticou as declarações de Almeida, classificando-as como desrespeitosas:
“Não é aceitável ouvir do prefeito que deputados são inúteis, sejam eles federais ou estaduais.”
Ele enfatizou que parlamentares que destinam emendas para a saúde estão, sim, beneficiando a população de Manaus, já que o setor é concentrado na capital.
“Chamar a bancada federal e os 24 deputados estaduais de inúteis porque não fazem o que o prefeito quer, da forma ou no volume que ele deseja, não é honesto nem correto”, concluiu Rozenha.