Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Com o encerramento nesta terça-feira, 12/12, da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 28, as atenções se voltam para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, ponto principal e um dos mais aguardados da cúpula. A participação do Brasil, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi criticada por especialista: “discurso de Lula na COP foi completamente mentiroso e falacioso”.
O pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Lucas Ferrante, expressou, ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, sua preocupação com a abordagem brasileira na COP28. Ferrante destacou que o Brasil deveria liderar pelo exemplo, tomando medidas concretas para combater as mudanças climáticas e promovendo a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.
“O Brasil apresentou um discurso na COP, que é completamente inverídico, tentando responsabilizar apenas outros países sem puxar pra si mesmo a responsabilidade disso. Se o Brasil não der o exemplo, outros países não vão seguir. É extremamente importante que se entenda que o Brasil não está adotando uma política ambiental adequada, e o discurso de Lula na COP foi completamente mentiroso e falacioso”
Lucas Ferrante, pesquisador
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As críticas destacam a necessidade de uma postura mais proativa por parte do Brasil no enfrentamento das questões ambientais, especialmente considerando sua posição como detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta. Especialistas argumentam que o país tem o potencial de se tornar um líder global na transição para fontes de energia mais sustentáveis.
Eliminação dos combustíveis fósseis
O rascunho do documento divulgado na segunda-feira, 11, referente à 28ª sessão da Conferência das Partes (COP28) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), revela grandes lacunas ao não abordar diretamente a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e apenas destaca a necessidade de reduções nas emissões de gases de efeito estufa. A falta de menção explícita a essa questão específica tem gerado inquietações entre especialistas.
“A falta de eliminação dos combustíveis fósseis nesse acordo prejudica totalmente o combate às mudanças climáticas. Nós precisamos deixar claro que é necessário eliminar isso gradativamente”
Lucas Ferrante, pesquisador
A ausência desse tópico sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis no acordo da COP28 preocupa a comunidade internacional, uma vez que essa falta do debate pode comprometer os esforços globais para enfrentar as mudanças climáticas. Lucas ainda ressalta que o Brasil não tem contribuído para cumprir a meta.
“Essa falta de consenso na eliminação progressiva dos combustíveis fósseis elimina a meta climática de conter o avanço de 1.5 graus. É importante dizer que o Brasil é um dos países que minam essa meta climática. O Brasil, inclusive dentro das políticas adotadas pelo presidente Lula, tem aumentado a exploração de combustíveis fósseis como petróleo”, disse o ambientalista.
Exploração
No cenário político atual, as promessas do presidente Lula em seu discurso sobre a redução do desmatamento até 2030 levantam preocupações. Embora o líder do Brasil alinhe seu discurso a metas ambiciosas, é importante destacar um ponto crítico: ao mesmo tempo que fala em uma abordagem para eliminar o desmatamento ilegal até o referido ano, aumenta a exploração na Amazônia.
“Outras coisas também nos preocupam, porque no discurso do presidente Lula, ele fala uma série de metas como reduzir o desmatamento até 2030. Mas precisamos deixar claro que isso perpassa por eliminar o desmatamento ilegal até 2030. Ou seja, ele pretende é legalizar boa parte do desmatamento e assim falar que não está mais ocorrendo desmatamento ilegal”, analisa Ferrante.
Medidas
O pesquisador sustenta a urgência de uma política de desmatamento zero, indo além de uma abordagem meramente restritiva. Em sua visão, a situação na Amazônia atingiu um ponto crítico, demandando ações audaciosas para evitar um colapso iminente.
“Isso é completamente contra intuitivo da parte ambiental. O que nós precisamos é uma política de desmatamento zero, seja legal ou ilegal. A Amazônia está a beira de um colapso e nós temos várias ações do governo que contribuem pro colapso climático, inclusive da Amazônia. Por exemplo, como aumentar a exploração de combustíveis fósseis no Brasil, e ao mesmo tempo a adoção de uma política de contenção do desmatamento que é completamente insuficiente”, ressalta Ferrante
A expectativa é que as discussões sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis continuem a ser um ponto crucial nas futuras conferências sobre mudança climática, e a postura adotada pelo Brasil na COP28 certamente influenciará o cenário internacional em relação às ações ambientais.