Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – No cenário atual, onde o uso de drogas ilícitas tem sido uma preocupação crescente em várias partes do mundo, uma substância conhecida como “K” está chamando a atenção de autoridades e profissionais de saúde. A droga, cujo nome é abreviação de cetamina ou ketamina, ganhou popularidade nos últimos anos e levanta preocupações sobre os seus efeitos na saúde pública.
Originalmente desenvolvida como um anestésico dissociativo está sendo usada como droga recreativa por suas propriedades alucinógenas. Seus efeitos psicoativos são rapidamente sentidos pelo usuário, com a possibilidade de causar alucinações, euforia e transtorno dissociativo.
O Brasil se assustou quando, em um noticiário nacional, uma reportagem em abril mostrou crianças, jovens e adultos perambulando pelas ruas de São Paulo como zumbis. Nas imagens, é possível ver como a droga se espalhou, causando efeitos devastadores em quem consome.
“Eles apagam e não conseguem acordar. Eles ficam muitas vezes em pé, andando, só que eles não conseguem responder. É como se o cérebro desse uma apagada. Fora isso, eles ficam também muito violentos. Eles têm dores fortíssimas e vomitam. E quando tentam se alimentar o estômago rejeita”
Vania Lúcia Coutinho, coordenadora do projeto Gente de Perto
A droga K chegou ao Brasil há cerca de um ano. De lá para cá, as apreensões em São Paulo se tornaram diárias. Só de janeiro a abril, a rede pública de Saúde daquele Estado registrou 216 intoxicações provocadas pelo uso da droga K.
A Secretaria Municipal da Saúde de Manaus (Semsa) informou que não há registros de casos específicos de intoxicação exógena por canabinóides sintéticos na capital amazonense.
Mas o que são as drogas K?
Feita em laboratório, as drogas K pertencem ao grupo de Novas Substâncias Psicoativas. Foi originalmente um experimento que não deu certo como opção terapêutica. Nos Estados Unidos (EUA), dos anos 1980, foi chamada de “designer drugs”, para identificar drogas sintéticas criadas acidentalmente em laboratórios de indústrias farmacêuticas.
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O químico John W. Huffmann, começou a sintetizar canabinóides, na busca por medicamentos para o alívio do sofrimento de pacientes. A pesquisa era financiada pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA e desenvolveu mais de 400 compostos canabinóides sintéticos.
Os canabinóides se ligam ao mesmo receptor do cérebro que a maconha comum, com potência até 100 vezes maior.
K2, K4 e K9 são apenas nomes dado à mesma droga. O que diferencia é a forma de consumo. O K2 ou Spice, por exemplo, foi a primeira versão a ser vendida no mundo na forma de erva (similar à maconha) ou líquida, como uma espécie de odorizador de ambiente. O K4 e o K9 são vendidos na forma de selos que são dissolvidos embaixo da língua ou em líquido para borrifar em papéis.
Nos corpos das pessoas, a droga K atinge diversas regiões do corpo, causa dependência, tem potencial para aumentar a depressão, aumento da frequência cardíaca, provoca ataques de raiva e agressividade, paranoia, ansiedade, alucinações, convulsões, insuficiência renal e a morte.



“Super maconha”

Para o defensor do uso da cannabis medicinal, Nivaldo Luiz da Silva Junior, advogado e presidente do Coletivo da Associação Cannabis Legal e Medicinal da Amazônia (ACALMAM), é um erro chamar as drogas K de “super maconha”, uma vez que são produtos completamente diferentes.
“A maconha é uma planta e as drogas K são produtos sintéticos, criados em laboratório, com efeitos demasiados potentes para o consumo recreativo, e pelos efeitos maléficos em seus usuários. As drogas K copiaram o único canabinóide THC (Tetraidrocanabinol) e o potencializaram 100 vezes mais. Já a maconha é uma planta natural com diversos efeitos terapêuticos favoráveis à saúde”, contou.


O THC, quando está na planta, pode também ser usado de forma terapêutica principalmente para quadros de dor, quadros neurodegenerativos como é o caso do Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, efeitos colaterais da quimioterapia e outras situações.
O advogado enfatiza que a comparação da maconha medicinal com as drogas K prejudicam as pautas e pesquisas com Cannabis. “Muitas pessoas que buscam tratamento podem ser induzidas ao erro. O que só aumenta a ignorância proibicionista”.

O pesquisador na área da Educação, em crimes, drogas e prisões, Roberto Fernandes, também condena a comparação, pois atrapalha no debate e discussão sobre a legalização da maconha.
“A droga conhecida como “K” não é uma forma aprimorada ou mais potente de maconha. Na verdade, a “K” refere-se a uma substância completamente diferente, um anestésico que atua no sistema nervoso central, para fins médicos e veterinários”, disse Fernandes. “Não se trata de uma variedade mais potente ou ‘superior’ da maconha”, detalhou.
Segundo o especialista em Endocanabinologia, que estuda o uso medicinal da maconha, Paulo Vinícius Carmo, médico formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), os grupos mais suscetíveis ao uso da Droga K são usuários de drogas ilícitas que têm intenção de usá-la e diz que a informação é a melhor prevenção.

“Entre as estratégias de prevenção que podem ser implementadas pra reduzir o uso da Droga K é a informação, o conhecimento e a oferta de tratamento para essas pessoas. O tratamento de dependência química por drogas K é parecido para quase todas as substâncias e, envolve um tratamento multidisciplinar com psiquiatra, psicólogo, vários tipos de terapia e atividade física. Às vezes, a introdução de medicação também é necessária”, concluiu.












