Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Gritos de ordem e frases como “queremos moradia” ressoaram na manhã desta quarta-feira, 12/4, durante a manifestação organizada por indígenas de diversas etnias da comunidade Aliança com Deus 2, próxima à comunidade São João, no km 4 da BR-174. Eles pediam o direito de propriedade e moradia da habitação que abriga mais de 250 famílias, de 30 etnias, na região.
O cacique Miro Kambeba afirmou que o objetivo da manifestação é chamar a atenção dos órgãos públicos para que o território seja reconhecido de forma legitima como local de moradia das famílias, que ocupam há cerca de dois meses a região. “Vamos lutar por essas terras até o final”.
“Nós estamos reivindicando a terra da comunidade Aliança com Deus. O Djalma Castelo Branco se diz dono das terras, mas ele apresentou um documento rasurado há duas semanas. Não somos leigos, documento rasurado não é verdadeiro. Sabemos que ele é grileiro. Então, ele quer essa terra para vender. Nós não queremos vender terras, queremos moradia”,
Cacique Miro Cambeba
O ato iniciou por volta das 7h da manhã. Uma das vias da BR-174 ficou paralisada pelos manifestantes, mas foi desbloqueada em poucos minutos pelos agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
O cacique destacou que a manifestação vai perdurar até a chegada do Ministério Público Federal (MPF) no local do ato. Estiveram presentes indígenas dos povos Kambeba, Kokama, Tikuna, Baré, Satere Mawe, entre outras.
Ameaça de grileiros
Líderes informaram ao portal RIOS DE NOTÍCIAS que um grileiro acompanhado de outros homens invadiram a comunidade há cerca de duas semanas.
Segundo os indígenas, o grileiro, identificado como Djalma Castelo Batista, se apresentou de forma violenta, e em estado alterado por embriaguez, como o dono das terras. Ele também anunciou aos moradores que entrou na justiça para pedir a expulsão dos indígenas do local.
A moradora Suzi Mura afirmou que Djalma entregou um documento aos indígenas sobre reintegração de posse. “A terra em que nós estamos não tem documento. Ele não é dono da terra. Temos como provar que o documento que ele trouxe veio adulterado”, disse Suzy.
Funai
De acordo com o coordenador regional substituto da Funai, João Melo Farias, o homem identificado como Djalma fez a reintegração de posse, na extensão de terra do km 174 ocupada pelos indígenas, na Defensoria Pública do Estado (DPE), sob o comando do defensor público Thiago Rosas.
“A gente espera que com essa manifestação alguém ajude e dê ganho de causa para os indígenas, porque 90% dessa população não tem outra moradia”, afirmou o coordenador regional substituto da Funai.
O Melo Farias também afirmou que os indígenas devem permanecer na ocupação enquanto não houver sentença definitiva. Ainda segundo Farias, o apoio que a Funai pode dar aos indígenas é institucional, não sendo possível, pelo regimento interno, o órgão demarcar terrar indígenas em Manaus por falta da ocupação tradicional. “Era uma terra que não tinha dono, se a justiça prova que é uma área pública, a gente pode pedir junto com a Defensoria Pública a destinação dessa terra para os indígenas”.
“É a grande desculpa que a Funai dá. Esses indígenas chegaram agora no território, em março, não é uma área tradicional ou imemorial. Mas, vamos considerar que antigamente toda a Manaus era ocupada por povos indígena. A historiografia mostra que onde você bater o machado, vai encontrar restos de indígenas, que comprovam que ela [Manaus] foi uma ocupação indígena”
Coordenador regional da Funai, Melo Farias
Perseguição de servidores
Indígenas afirmaram ao portal Rios de Notícias que servidores públicos próximos à luta indígena estão sendo demitidos. “O servidor Cavaleti da Secretaria de Estado das Cidades e Territórios foi demitido há uma semana. Quando ele começou a lutar pelas causas indígenas ele acabou sendo demitido”, disse indígena do povo Mura que pediu para não ser identificado.