Alita Falcão e Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Na última sexta-feira, 12/1, o empresário Waldery Aerosa atacou instituições de ensinos médio e superior de Manaus durante o lançamento do novo Centro Integrado de Ensino Superior (Ciesa), que será administrado por ele.
Waldery esteve à frente do Centro Universitário do Norte (UniNorte) durante décadas, até vender a empresa para a Laureate Education, em 2008.
“Depois que nós vendemos a Uninorte o ensino em Manaus degringolou. Um negócio terrível. Quem está no jogo não é do ramo […] Alguns se aproveitaram da minha ausência do ensino superior e entraram no mercado e outros que compraram não estavam habilitados a isso. Vieram atrás de dinheiro”, acusou o empresário.
O empresário também lançou críticas às políticas públicas para o ensino médio na capital amazonense.
“Os meninos estão saindo da escola quando terminam a 9ª série. Quando vai para o 1º ano [do ensino médio] eles abandonam a escola, o pai dá a maioridade pra ele, ele faz supletivo e passa no vestibular […] aí corre pra fazer medicina. Imagine esse médico?”, analisou Waldery.
Ainda segundo o empresário Waldery Areosa, existe uma divergência de valores entre as bolsas oferecidas por sistemas de acesso ao ensino superior, como o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Bolsa Universidade, com o real valor pago nas universidades.
“Eu me debrucei sobre documentos e comecei a descobrir que o preço do Fies, do Prouni e do Bolsa Universidade é o dobro do preço da faculdade”, denunciou o empresário sem apresentar documentos que comprovem a fala.
Ele sugeriu que quem utiliza o Fies está sendo enganado e assumindo uma dívida maior do que deveria. “Então, se ele tem uma dívida de R$ 1 mil, ele passa a ter uma dívida de R$ 2,7 mil e ninguém viu isso até agora. Estão deixando os meninos assinarem esse contrato […] Isso no final vai ser um prejuízo enorme para o estudante”, disse Waldery.
O Fies é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em cursos superiores não gratuitos na forma da Lei 10.260/2001. A partir do segundo semestre de 2015, os financiamentos concedidos com recursos do Fies passaram a ter taxa de juros de 6,5% ao ano com vistas a contribuir para a sustentabilidade do programa, possibilitando sua continuidade enquanto política pública perene de inclusão social e de democratização do ensino superior.
Repercussão
As falas do empresário não repercutiram bem entre as demais instituições que atuam no ensino médio e superior de Manaus.
A reitora do Centro Universitário Fametro, Maria do Carmo Seffair, usou suas redes sociais para rebater os ataques do empresário, que considerou desleais dentro do que rege a livre concorrência. Ela apontou os resultados positivos alcançados pela Fametro ao longo dos anos.
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“Quando iniciamos nossa caminhada os índices de educação eram pífios. Hoje a Fametro ostenta o IGC nota 4 há seis anos consecutivos. O ensino melhorou e muito. Por isso somos procurados com ofertas tentadoras por todos os players da educação. Inclusive, pelo que comprou a sua Uninorte”, rebateu Maria do Carmo.
Ainda de acordo com a reitora, os alunos da primeira turma de Medicina da Fametro alcançaram resultados com destaque e foram aprovados em residências por todo o país.
O Índice Geral de Cursos (IGC) é uma ferramenta do Ministério da Educação Que mede o desempenho das instituições de ensino superior do país, e é construído com base numa média ponderada das notas dos cursos de graduação e pós-graduação de cada instituição.
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“Nossa expansão e crescimento vêm do reconhecimento dos nossos docentes e alunos que são tratados com dignidade, respeito e muita, muita seriedade no trabalho que executamos. Não vou permitir que, para se autopromover, o senhor venha atacar o que temos de melhor”, destacou Maria do Carmo.
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Outras denúncias
Essa não é a primeira polêmica em torno do lançamento do Novo CIESA. Em dezembro do ano passado, alunos do antigo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (Ciesa) denunciaram a instituição, após a nova direção anunciar o aumento, sem aviso prévio e acima da média, dos valores das mensalidades dos cursos para este ano de 2024.
Os estudantes também criticaram o fim das bolsas de estudo e a falta de diálogo com a nova gestão do centro acadêmico.
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O aluno bolsista de Ciência da Computação, Harrison Mori, contou ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS que pagava uma mensalidade de aproximadamente R$ 250. Ele informou que escolheu estudar na instituição pelo custo-benefício. Para ele, a mudança nos preços afetou principalmente os alunos bolsistas.
“Mil reais é impossível, porque nós escolhemos fazer a graduação no Ciesa motivados pelo preço em conta e o benefício do ‘Bolsa Universidade’. O Ciesa abriu a oportunidade para nós e, agora com a nova direção essa oportunidade está sendo cortada. Ficamos com aquela sensação de que nós nadamos tanto para morrer na areia”, protestou Harrison, que disse ter concluído o quarto período, faltando somente dois anos para concluir o curso.
O que diz a assessoria do Novo Ciesa?
A REPORTAGEM entrou em contato com a assessoria de imprensa do empresário para que a instituição possa explicar o contexto das acusações apresentadas durante o lançamento do Novo Ciesa, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.
O espaço está aberto para quaisquer esclarecimentos.