Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A Feira do Santo Antônio, situada na zona Centro-Oeste de Manaus, ao lado da Câmara Municipal, encontra-se em estado de abandono por parte do Executivo Municipal, após um incêndio que ocorreu em 4 de dezembro de 2023, destruindo 12 dos 19 boxes afetados.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com feirantes e vereadores a respeito da situação, uma vez que o governo alocou R$ 30 milhões para a reestruturação das feiras na capital amazonense. No entanto, até o momento, não há sinais de solução.
O local está cercado por tapumes e mini boxes de madeira que estão sendo chamados pela população de “casinhas de pombo”, pois estão sem utilidade e tem servido como moradia para dependentes químicos. Com isso, há acumulo constante de lixo na região.
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Além disso, os feirantes expressam um clima de temor em relação a possíveis retaliações de partidários prefeito David Almeida (Avante), especialmente nas feiras em reforma.
Na Feira do Santo Antônio, muitos hesitam em denunciar o descaso, mas Francisco, um feirante de 68 anos, que atua há 15 anos no local, decidiu falar abertamente.
Ele afirmou: “Alguns estão com medo, e isso não é de hoje. Já fiz muitas denúncias, não tenho receio porque não sou criminoso. O que eu precisar falar, eu falo, mas muitos aqui não se manifestam por causa disso.”
Francisco lamenta a dificuldade de sustentar sua família devido ao abandono da feira. “Cheguei aqui ainda de madrugada, e a situação está insustentável. O prefeito não se importa com nós. Ele se beneficia enquanto nós arcamos com as consequências. É frustrante ver o poder e o dinheiro nas mãos dele, sendo usados de forma abusiva.”
José Raimundo, o ex-presidente da feira, conhecido como ‘Zezinho’, tem 70 anos, e dedicou 24 anos de sua vida ao comércio local.
Agora aposentado, ele expressa sua decepção com as promessas não cumpridas do prefeito. “A única intervenção feita foi levantar um pouco o teto para iluminar o espaço, mas abandonaram a obra. As novas construções são apenas pequenos espaços inadequados, impossíveis de serem utilizados de forma eficiente. Essa ‘reforma’ de R$ 30 milhões poderia ter refeito tudo e ainda sobrado dinheiro.”
Raimundo Mateus, 47 anos, e morador antigo do bairro São Raimundo, também expressa sua revolta com a situação dos permissionários.
“O incêndio aconteceu em 2023 e, até agora, o prefeito não tomou nenhuma atitude. Ele só veio aqui no dia do incêndio e fez promessas vazias sobre uma nova praça de alimentação, mas nada se concretizou. A situação é deplorável, com os novos espaços mal planejados e sujos.”
Cobrança política
Por estar localizada ao lado da Casa Legislativa, a Feira do Santo Antônio já foi frequentada por vários políticos ao longo do tempo. Alguns vereadores, indignados com a situação, exigem a recuperação do local prometida pelo Executivo Municipal.
Durante as gestões anteriores, o ex-secretário municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal (Semacc) e vice-candidato a prefeito ao lado de David Almeida, Renato Júnior, foi um dos responsáveis por promessas que ainda não se concretizaram.
Dessa forma, os vereadores Rodrigo Guedes (PP) e Caio André (União), presidente da Câmara Municipal, expressaram sua insatisfação. “O prefeito veio aqui e prometeu reformas em 2021, 2022 e 2023, mas até hoje nada foi feito. Dois incidentes graves ocorreram, um incêndio e outro relacionado a alagamentos, e apenas foram construídos boxes insalubres. O governo do Estado repassou recursos, mas a obra não avança. Essa situação não é exclusiva da Feira do Santo Antônio, outras feiras também enfrentam o mesmo abandono“, disse Rodrigo.
Apelos
Diante da inação do governo, os feirantes se sentem sem alternativas. Desesperados, clamam por uma solução rápida. “Se não puderem fazer uma reforma completa, que ao menos limpem e organizem o espaço. O movimento caiu drasticamente e já passei dias sem vender nada. É angustiante”, desabafou Francisco.
“Eu fui um dos que trabalhei aqui por 24 anos e fui presidente da feira várias vezes. O que todos nós queremos é a reforma, a realocação dos permissionários e uma solução para aqueles que perderam seus meios de sustento. Precisamos de ação, e não de promessas”, apelou José Raimundo.