Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Em 17 de junho de 2017, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram que se transformariam em partido político, após mais de meio século de conflito armado e clandestinidade. Mas como um dos maiores grupos guerrilheiros do mundo se transformou em partido? O Portal RIOS DE NOTÍCIAS te explica.
A mudança, que faz parte de um acordo de paz histórico entre a guerrilha e o governo colombiano, ocorreu em 1º de setembro daquele ano. A decisão foi aprovada durante uma reunião do Plenário do Estado-Maior das Farc, realizada em Bogotá.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia eram uma organização guerrilheira armada que foi criada no meio rural da Colômbia durante o final da década de 1950 e o início da década de 1960 em um contexto de divisão política e social no país.
Com uma ideologia marxista-leninista, as Farc foram consideradas como terrorista em muitos países. Além disso, os confrontos na Colômbia perduraram por 50 anos e mais de 260 mil pessoas foram mortas e milhões deslocadas.
Após se aliar ao narcotráfico de drogas, a guerrilha passou a realizar sequestros de pessoas conhecidas. O caso de destaque foi o sequestro da ex-senadora e candidata à presidência da Colõmbia, Íngrid Betancourt, ficando nas mãos do grupo entre os anos de 2002 a 2008.
Ação no Amazonas
Nos anos 90, as Farc realizaram um ataque a uma base do Exército Brasileiro localizada em território amazonense, mais precisamente no rio Traíra. Apesar do ataque, o grupo foi derrotado pelos governos do Brasil e colombiano.
Além disso, há uma relação entre os crimes de tráfico de drogas no Brasil e o garimpo ilegal no Norte do país com a atuação de dissidentes das Farc, que seriam usados para arrecadação de receitas.
Mudança de nome
As Farc anunciaram em 2021 a mudança de nome do partido para Comunes, para se dissociar da imagem de guerrilha e ganhar aceitação da população colombiana.
Acordo de Paz
A transformação das Farc em partido político marca a última fase do acordo de paz, após quatro anos de negociações com o governo de Juan Manuel Santos.
As Farc entregaram mais de sete mil armas a 450 observadores internacionais da ONU em 26 zonas rurais do país. O acordo garante à antiga guerrilha um mínimo de 10 cadeiras no Congresso durante oito anos.
A mudança também revoluciona o mapa político colombiano e representa um passo para a incorporação do grupo ao sistema democrático. O financiamento do partido será estabelecido conforme os acordos de Havana.
Especialistas avaliam que a principal aspiração política das Farc seja manter sua influência no campo e, eventualmente, se tornar um partido nacional, embora reconheçam que será difícil devido ao “ódio que o grupo enfrenta nas cidades”.
Acordo de Paz estendido
Durante um encontro realizado no dia 19 de junho deste ano, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, se reuniu com 171 dirigentes representantes de todas as regiões do país, e mencionou a possibilidade de estender os benefícios do Acordo de Paz a outras organizações armadas, atualmente em situação de degradação.
Segundo ele, as economias ilícitas drenam a energia da nação, fomentando a violência e criando uma inércia perigosa.
Movimento 19 de abril
A Colômbia já viu uma guerrilha se transformar em partido político antes. Em 1990, o Movimento 19 de abril (M19), conhecido por golpes como a tomada do Palácio de Justiça de Bogotá, deixou as armas e se tornou um influente partido de centro-esquerda.
Apesar de seu sucesso inicial, a trajetória do M19 foi efêmera. As Farc, por outro lado, buscam evitar um destino similar ao da União Patriótica (UP), que sofreu um extermínio de seus membros nos anos 1980 e 1990.
Com a vitória do conservador Misael Pastrana Borrero, por 150 mil votos de diferença, em 19 de outubro de 1970, a ala mais radical da Alianza Nacional Popular (Anapo) liderada por Carlos Toledo Plata, conclui ser impossível chegar ao poder pela via eleitoral e funda o M19, auxiliado por Maria Eugenia, filha de Rojas Pinilla.
O M19 foi uma organização de guerrilha urbana, formada por jovens de classe média desiludidos com a esquerda tradicional. A ideologia do movimento combinou nacionalismo e o marxismo, mas seu objetivo essencial era estabelecer uma real democracia na Colômbia. Transformou-se no principal alvo da ira do Exército Colombiano quando, numa das ações mais ousadas e humilhantes para os militares, roubou de 7 mil armas do principal quartel de Bogotá sem disparar um único tiro.