Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – São muitos fatores que interferem nos indicadores da inflação no Brasil, e um deles está diretamente ligado com os fenômenos naturais presentes na atualidade. El Niño e La Niña têm o potencial de causar estragos na agricultura e economia.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS consultou a economista Michele Aracaty, para entender como cada um desses efeitos no clima podem atingir os preços no supermercado e desafiar as expectativas do governo em relação à inflação do país.
De acordo com a especialista, é importante levar em consideração a importância da atividade agrícola para a economia nacional e seu impacto no produto interno bruto (PIB). “Qualquer alteração climática impacta direta e indiretamente a produção e a produtividade, refletindo, por sua vez, no preço dos produtos agrícolas para o consumidor final, bem como na estimativa inflacionária“, destacou.
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Michele Aracaty deixa claro que apesar das estimativas apresentarem que o fenômeno conhecido como La Niña, em breve, não apresente tantas variações no regime climático das regiões Sul e Sudeste, torna-se necessário observar o grau de importância dessas regiões para o abastecimento nacional.
“Precisamos observar que são regiões responsáveis por abastecer o mercado inteiro com produtos como arroz, feijão e milho, e que por exemplo, foram muito castigadas pelo fenômeno El Niño em 2023“, enfatiza a economista em tom de alerta com o novo ciclo climático.
A previsão é que, neste mês de abril, o El Niño chegue à sua fase final, mas deixando outro evento climático em ação, o La Niña. O evento adverso ganha mais influência no segundo semestre desse ano, a partir de agosto. As estimativas apontam o fenômeno como menos agressivo ao campo.
Preços no supermercado
Para a economista, em ambos os fenômenos climáticos, os agricultores são obrigados a adotarem práticas de manejo adaptativas para mitigar as perdas e danos nas lavouras, o que pode provocar elevação no custo de produção e, consequentemente, nos preços dos produtos ao consumidor final.
“Além disso, apesar de controlada a inflação, ainda deve ser merecida a atenção e acompanhamento no preço dos alimentos, que tem um peso expressivo sobre o indicador econômico“, salienta.
É importante afirmar que dentre os produtos mais influenciados no aumento dos preços, estão os alimentos frescos, como hortaliças, legumes e frutas, sendo tradicionalmente mais afetados nessa época do ano.
“O cenário não é de desespero, mas merece ser acompanhado com muita cautela, uma vez que toda e qualquer variação climática impacta no preço dos produtos agrícolas consumidos por toda a população.”
Acrescenta a economista Michele Aracaty.
El Niño
O El Niño caracteriza-se pelo aquecimento das águas do oceano pacífico, sendo um gerador de chuvas intensas para o Sul, enquanto torna a seca no Norte do país um dos maiores desafios para quem sobrevive na região.
A redução das chuvas no leste e norte da Floresta Amazônica, resultou em estiagens severas ano passado no Estado do Amazonas, o que trouxe desafios relacionados ao desmatamento e às queimadas provocadas por atividades humanas, além da insalubridade do ar na capital amazonense.
Enquanto no Sul do país, as chuvas torrenciais, muito acima das médias históricas para a região, e a intensificação das temperaturas, tornou evidente a diversidade climática causada pelo fenômeno.
La Niña, o que esperar?
Sendo o oposto, o La Niña é caracterizado pelo resfriamento irregular das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, assim tendo impactos significativos no clima global, embora em direção oposta.
Porém, segundo órgãos internacionais de monitoramento climático, o cenário que parece se consolidar é o de uma transição suave entre os dois, permanecendo por meses em um período de neutralidade. Ou seja, com temperaturas nem acima, nem abaixo da média.