Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Djuena Tikuna, cantora indígena do Amazonas e primeira jornalista indígena formada no estado, expressou sua admiração pelo aplicativo Linklado, desenvolvido para facilitar a escrita em línguas indígenas. Em entrevista ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, ela destacou a importância do recurso para a preservação cultural e comunicação das comunidades indígenas.
“Eu fiquei bem encantada por causa da importância de escrever palavras na língua indígena, que é muito difícil. Tem coisas que você não encontra até no próprio teclado. É bem importante para as comunidades indígenas”, declarou Djuena.
O aplicativo, fruto de uma parceria entre pesquisadoras do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e os estudantes Juliano Portela e Samuel Benzecry, ganhou notoriedade ao compor a lista dos 10 semifinalistas do 65º Prêmio Jabuti de 2023 na categoria de ‘Fomento à Leitura’, do eixo ‘Inovação’. Porém, os idealizadores não foram contemplados, mas o dispositivo entrou em evidência, com mais de 3.500 downloads nas plataformas disponíveis.

O Linklado é um software que reúne caracteres especiais e diacríticos de mais de 40 línguas indígenas da Amazônia. O nome é uma combinação das sílabas ‘lin’ (línguas indígenas) e ‘klado’ (um trocadilho com ‘teclado’).
Um caracter diacrítico é um sinal gráfico, acrescentado a uma letra, que dá novo som (valor fonético). Na ortografia do português, são diacríticos os acentos gráficos, a cedilha, o trema e o til.

Diversas línguas indígenas foram excluídas da revolução digital por terem em seu vocabulário caracteres especiais, além da combinação de diacríticos que não estão presentes na maioria dos teclados físicos e virtuais.
E, segundo um dos idealizadores, Juliano Portela, conectar os falantes das línguas indígenas a um teclado que contempla o seu vocabulário é uma das formas de ajudar na transmissão e sobrevivência das línguas indígenas.
Samuel e Juliano ganharam destaque por resolver um desafio enfrentado pela pesquisadora Noêmia Ishikawa, que traduzia materiais científicos para línguas indígenas. Ao ser informado da dificuldade, Samuel desenvolveu o aplicativo, permitindo uma comunicação mais eficiente. O projeto cresceu com a colaboração de indígenas, que testaram e validaram o produto, contribuindo para sua consolidação do aplicativo.
Conectividade em prol da preservação
Djuena ressaltou que o aplicativo representa um avanço significativo para as comunidades indígenas que têm acesso à internet, proporcionando meios para se comunicarem e compartilharem sua cultura de forma mais ampla e eficiente.
Além disso, ela salientou a importância de poder escrever na própria língua, especialmente para aqueles que têm pouco conhecimento do português, enfatizando que isso fortalece a identidade e o orgulho cultural.
No entanto, Djuena também expressou preocupação com as comunidades que não têm acesso à internet, considerando isso um ponto negativo. Ela observou que, apesar dos benefícios dos aplicativos, a falta de conectividade digital pode limitar severamente o alcance dessas ferramentas em algumas áreas remotas.
“Esses aplicativos são muito importantes para a nossa comunicação porque podemos denunciar o que ocorre dentro das nossas comunidades, dentro do nosso território onde, muitas vezes, enfrentamos violações dos direitos dos povos indígenas. Para mim, enquanto indígena, vejo como positivo o desenvolvimento de aplicativos desse tipo, que ajuda muito a juventude indígena, principalmente”, pontuou.
Djuena acrescentou que o aplicativo facilitou a comunicação entre seus parentes, antes limitada a áudios devido à falta de um teclado adequado. Além da facilidade constatada pela jornalista indígena, o Linklado possibilita a tradução de textos do português para línguas indígenas.
Linklado
Ao fazer o download, disponível gratuitamente na Play Store e na Windows Store, o aplicativo substitui o teclado padrão do dispositivo com uma versão alterada que inclui os caracteres especiais e diacríticos.
No Windows, o sistema abre uma janela que permanece sobre a tela. Assim, o usuário pode utilizar o teclado comum junto com o Linklado.
Além de Samuel e Juliano, as pesquisadoras do Inpa, Ana Carla Bruno, Ruby Vargas Isla Gordiano e Noemia Kazue Ishikawa participaram do projeto, bem como os indígenas Marinete Almeida Costa (Tukano), Josmar Pinheiro Lima (Tuyuka), Kaina Bruno Brazão, Rafael Estrela Freitas, Laura Corrêa Cavalcante, Odalis Ramos, Rosilene Fonseca Pereira (Piratapuia), Rosilda Maria Cordeiro da Silva (Tukanoa), Dagoberto Azevedo (Tukano), Cristina Quirino Mariano (Tikuna) e Dulce Maria Barreto Tenório (Tuyuka).