Gabriel Lopes – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A Secretaria de Estado da Saúde (SES-AM), do Governo do Amazonas, optou por renovar por mais doze meses o contrato de prestação de serviços de Unidade de Terapia Intensiva Aérea, com a empresa de taxi aéreo Manaus Aerotáxi Participações LTDA, investigada pela Polícia Federal por envolvimento com um dos maiores narcotraficantes do mundo.
Uma operação da PF revelou em junho deste ano que os sócios da empresa seriam “laranjas”, diretamente envolvidos em um esquema de tráfico internacional de drogas, que visava ocultar o verdadeiro dono da Manaus Aerotáxi: o narcotraficante Sérgio Roberto de Carvalho.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS apurou, conforme o Diário Oficial do Estado, que a Secretaria de Saúde do governo de Wilson Lima (União Brasil), decidiu ainda assim realizar um termo aditivo ao contrato Nº 033/2023, avaliado em R$ 35.345.386,80 (mais de 35 milhões de reais), para prestação de serviços de UTI Aérea.
A renovação passou a valer a partir do dia 22 de agosto de 2023, quase dois meses após a operação policial evidenciar o esquema criminoso.
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Os contratos
A medida que prorrogou o contrato foi assinada pelo secretário executivo da pasta, Silvio Romano Benjamim Júnior, em 26 de agosto e consta no Diário Oficial de 3 de setembro. A portaria prevê a prorrogação da vigência do contrato primitivo por mais doze meses, até o dia 22 de agosto de 2025.
O Extrato-Espécie também empenha o acréscimo de aproximadamente 10,17% sobre o valor do contrato anterior, firmado em 22 de agosto de 2023, no valor de R$ 32.081.986,80 (mais de 32 milhões de reais).
No entanto, a empresa já possuía outros contratos anteriores para a prestação de serviços de UTI Aérea antes mesmo da atual gestão do estado.
Ainda no governo anterior, foi firmado o contrato Nº 071/2018, entre a Secretaria de Saúde e a Manaus Aerotáxi para este mesmo fim. Desde então, durante a gestão de Wilson Lima, que começou em 2019, este mesmo contrato contou com cinco termos aditivos, realizados anualmente, até a assinatura do novo contrato (033/2023).
Entre o primeiro e segundo mandato do governador já passaram pela SES-AM cerca de seis titulares, sendo alguns deles inclusive investigados por atividades ilícitas no âmbito da secretaria, principalmente durante a crise sanitária da Covid-19.
Atualmente, a secretaria tem como titular Nayara de Oliveira Maksoud Moraes, que assumiu a pasta em março deste ano. Portanto, o termo aditivo ao contrato 033/2023, realizado em agosto de 2024, quase dois meses após a operação da Polícia Federal, foi assinado durante a atual gestão da SES-AM.
Envolvimento com o tráfico
Em 25 de junho deste ano, a Polícia Federal deflagrou a Operação Catrapo II, que teve como principais alvos, dois empresários suspeitos de atuarem diretamente em um esquema de lavagem de dinheiro ligado a um dos maiores narcotraficantes do mundo, conforme divulgou à época o Portal G1, que teve acesso ao relatório da investigação.
Segundo a Polícia Federal, os envolvidos eram donos de “fachada” da empresa Manaus Aerotáxi, usada pela organização criminosa que seria a responsável por traficar grandes quantidades de cocaína para a Europa, oriunda da Bolívia e do Peru, tendo o estado de Mato Grosso como entreposto de abastecimento.
As investigações apontaram que o líder da organização é o ex-major da Polícia Militar Sérgio Roberto de Carvalho, apontado pelo Departamento de Narcóticos dos Estados Unidos (DEA) como um dos maiores narcotraficantes do mundo. Carvalho está preso na Bélgica desde 2022.
Para a Polícia Federal, não há dúvidas de que o narcotraficante é o real proprietário da Manaus Aerotáxi, principal empresa do segmento no Norte do Brasil, que seria utilizada para lavar dinheiro do crime e que tinha os dois empresários presos na operação como “laranjas”.
‘Empresa desandou’
Uma funcionária da empresa procurou o riosdenoticias.com.br para denunciar o descaso da Manaus Aerotaxi com seus colaboradores após a operação da Polícia Federal que revelou o esquema criminoso. Ela preferiu não se identificar por medo de represálias.
“Estamos com pagamento atrasado. Sempre fazem isso. Depois que eles saíram na mídia, a empresa desandou. Uma empresa totalmente sem respeito com os funcionários. Então eu trabalho lá e as condições estão cada vez mais se afundando. Já tem 17 dias que pagamento está atrasado. É muito difícil e triste. Estou desesperada”, contou a funcionária à reportagem.
Inclusive, a colaboradora relatou que trabalha em Regime de Consolidação de Leis de Trabalho (CLT), e que os funcionários não sabem como vão fazer para pagar as contas que estão em atraso. “Tem muitos funcionários que pagam pensão alimentícia. Eu por exemplo pago aluguel e estou com meu aluguel atraso e água cortada. Vou no RH, e eles só prometem os dias e não cumprem”, comentou.
A funcionária ressaltou que o Governo do Amazonas é o principal cliente da empresa, que está com suas aeronaves paradas no pátio por não pagamento de combustível.
O RIOS DE NOTÍCIAS apurou que na quarta-feira, 18/9, um voo aeromédico foi realizado até Amaturá, município do interior do Amazonas, após decisão judicial. Apenas os voos determinados pela Justiça estariam sendo realizados, de acordo com a colaboradora.
O que dizem os citados?
O riosdenoticias.com.br questionou o Governo do Amazonas sobre o que motivou a Secretaria de Estado de Saúde a renovar o contrato de prestação de serviços de UTI Aérea com a Manaus Aerotáxi, mesmo após a operação da Polícia Federal. A REPORTAGEM também questionou o executivo estadual se o serviço contratado pelo estado realmente está sendo cumprido pela empresa.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) informou que “a empresa não possui qualquer restrição administrativa em cadastros públicos de empresas inidôneas, que a impeça de permanecer executando os serviços contratados, nos termos da legislação vigente”.
O órgão também reforçou no texto que “não houve nenhuma recomendação por parte do Poder Judiciário, órgãos de controle externo acerca do referido contrato”.
O RIOS DE NOTÍCIAS também solicitou um posicionamento da Manaus Aerotáxi, a fim de saber se há alguma previsão para o pagamento dos salários atrasados dos funcionários e se as UTIs aéreas realmente estão paradas no pátio por falta de combustível, viajando apenas quando ordenado pela Justiça.
A empresa alegou, por meio de nota, que “todas as operações de voo, inclusive as de atendimento de UTI Aérea, estão ocorrendo regularmente. A Manaus Aerotáxi está comprometida em manter a qualidade dos serviços e em cumprir integralmente todos os contratos com seus parceiros e clientes“.