Gabriel Lopes – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Nos últimos anos, o Governo do Amazonas acumula polêmicas com diferentes casos de agentes públicos envolvidos com o crime organizado. Documentos e operações conduzidas por órgãos de controle levantam questionamentos sobre a influência dessas organizações em setores estratégicos do estado, como a segurança pública e a saúde.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS apurou neste mês, que a Secretaria de Estado da Saúde (SES-AM), renovou por mais doze meses o contrato de prestação de serviços de Unidade de Terapia Intensiva Aérea, com a empresa de taxi aéreo Manaus Aerotáxi Participações LTDA, investigada pela Polícia Federal por envolvimento com o tráfico internacional de drogas.
A Operação Catrapo II, da PF, revelou em junho deste ano que os dois sócios da empresa seriam “laranjas”, diretamente envolvidos em um esquema de tráfico internacional de drogas, que visava ocultar o verdadeiro dono da Manaus Aerotáxi: Sérgio Roberto de Carvalho, um dos maiores narcotraficantes do mundo.
Contrato com empresa investigada por tráfico de drogas
Conforme o Diário Oficial do Estado, que a Secretaria de Saúde do governo de Wilson Lima (União Brasil), decidiu ainda assim realizar um termo aditivo ao contrato Nº 033/2023, avaliado em R$ 35.345.386,80 (mais de 35 milhões de reais), para prestação de serviços de UTI Aérea.
No entanto, essa não é a primeira vez que uma pasta estadual se envolve em uma polêmica com pessoas suspeitas de relação com o crime organizado. A Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP-AM) foi alvo de uma série de operações e polêmicas nos últimos anos, que investigaram a conduta de seus agentes e da alta cúpula da pasta.
Operação Garimpo Urbano
O então secretário executivo de Inteligência do Governo do Amazonas, delegado Samir Freire, foi preso na 9 de julho de 2021, em Manaus, durante operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Amazonas (MPE). Ele é suspeito de utilizar a estrutura de sua pasta para roubar o ouro extraído de garimpos clandestinos.
A Operação Garimpo Urbano prendeu outros três policiais civis e cumpriu dez mandados de busca e apreensão em Manaus, no interior e no Pará. De acordo com a PF, a quadrilha monitorava e abordava transportadores de ouro ilegal “mediante uso de estrutura e pessoal da Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência (Sei)”.
À época, a Folha de São Paulo revelou que Freire era próximo do governador Wilson Lima (União Brasil), e subordinado ao então secretário de Segurança Pública, o coronel Louismar Bonates, que já foi alvo de investigações da PF antes de assumir o cargo.
A Polícia Federal averiguou em 2005, mediante interceptações telefônicas, que Bonates era próximo a um grupo de extermínio comandado por outro PM. Dez anos, depois, em 2015, quando era secretário de administração penitenciária, a PF descobriu que ele teria feito negociações com o narcotraficante “Zé Roberto da Compensa”.
Os indícios das investigações foram repassados pela PF ao Ministério Público do Amazonas, que não formalizou nenhuma acusação contra o ex-secretário, que pediu afastamento do cargo dias depois da Operação Garimpo Urbano. Bonates nega todas as acusações. Samir Freire foi exonerado do cargo no mesmo dia de sua prisão.
Operação Comboio
Substituto de Bonates, o general Carlos Alberto Mansur também foi exonerado dois anos depois de assumir o cargo, em 29 de agosto de 2023, após ser um dos alvos da Operação Comboio, deflagrada em duas cidades do Amazonas e em São Paulo. As investigações apontaram crimes de extorsão e corrupção na alta cúpula da pasta.
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As investigações sobre general Mansur começaram com a verificação de informações de que seu filho Victor Mansur estaria envolvido em roubos de carregamento de ouro e pagamentos de propinas. O então secretário chegou a ser preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo, mas foi liberado após pagar fiança.
A Operação Comboio ganhou esse nome porque, segundo os investigadores, integrantes da pasta de Segurança Pública do Amazonas utilizavam viaturas da secretaria durante as diligências para a prática dos crimes. Os veículos seguiam organizados em comboios, sob a guarda de uma escolta.
Irmão de traficante na Inteligência
Ainda em 2023, logo após a saída de general Mansur, o Governo do Amazonas nomeou o irmão de um traficante internacional de drogas para o cargo de gerente na Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência. A nomeação consta no Diário Oficial do Estado do dia 16 de outubro daquele ano, mas a informação só veio a público em dezembro.
De acordo com Portal da Transparência do Governo do Amazonas, Lanalbert Nunes Obando foi nomeado gerente de Inteligência e recebia remuneração de R$ 5.564,67. Lanalbert é irmão de Sérgio Roberto Obando, narcotraficante preso e condenado por tráfico de entorpecentes e associação ao tráfico.
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Sérgio é apontado como integrante de uma organização criminosa que comandava o tráfico transnacional de drogas na região da tríplice fronteira – Brasil, Colômbia e Peru. Ele foi preso em 2011 pela Operação Ilha, deflagrada pela Polícia Federal.
A última prisão de Sérgio, inclusive, ocorreu em outubro de 2023. No entanto, 15 dias depois, o irmão foi nomeado para o cargo na gerência de inteligência da SSP. Lanalbert foi demitido pelo atual secretário de Segurança, coronel Vinícius Almeida. O responsável pela indicação dele ao cargo também foi exonerado.
Quais medidas estão sendo adotadas?
O riosdenoticias.com.br questionou o Governo do Amazonas sobre quais mecanismos de controle e combate estão sendo adotados, para evitar a presença de pessoas envolvidas com o crime organizado nas repartições públicas estaduais. Não houve resposta até o momento. O espaço segue aberto.