Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Uma investigação policial que se estendeu por dois anos, no Rio de Janeiro, descobriu a existência de uma “escola preparatória” que ensina táticas de guerrilha no Complexo da Maré, um dos maiores da cidade. Com uma população de mais de 140 mil pessoas, a Maré é habitada por famílias, trabalhadores, estudantes e crianças, e enfrenta a violência como parte de sua rotina diária.
A Maré é apontada como um centro de distribuição de armas e drogas para outras regiões da cidade, e as imagens obtidas pela polícia revelam vários pontos de venda de drogas e a imposição da violência sobre os moradores.
As imagens capturadas por drones durante a investigação revelaram os exercícios realizados pelos traficantes como parte de seu treinamento para a guerra. As ações são realizadas em um espaço que poderia ser utilizado como lazer para a comunidade, mas que foi convertido em um campo de treinos. A área abriga uma creche e cinco escolas.
As imagens mostram dois instrutores ensinando grupos de 15 a 20 homens, todos armados com fuzis. A rotina começa com exercícios físicos e depois, partem para as práticas, identificadas pelos investigadores, semelhantes às técnicas utilizadas pelas forças de segurança.
A investigação resultou no levantamento detalhado da atuação dos grupos criminosos na Maré, identificando 1.125 pessoas envolvidas em atividades de tráfico, associação para o tráfico e organização criminosa. Todos eles foram indiciados e as informações foram encaminhadas à Justiça.
Para conduzir a investigação de maneira segura e eficaz, a polícia optou por evitar ação direta na Maré, devido aos riscos à integridade da sociedade e dos policiais. Em vez disso, a estratégia se concentrou na investigação e na inteligência.
Território estratégico
O Complexo da Maré está situado na zona Norte do Rio de Janeiro, composta por 16 comunidades e localizada às margens da Baía de Guanabara. É uma região densamente povoada, que enfrenta uma série de desafios, incluindo a falta de políticas públicas adequadas, saneamento básico ineficiente, abordagens policiais violentas e falta de serviços de qualidade.
Tem localização estratégica por estar entre as três principais vias de circulação da cidade: Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela. Além disso, está próxima à Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão).
Com mais de 140 mil pessoas, nos mais de 47 mil domicílios, o bairro é o nono mais populoso da cidade e maior do que 96% dos municípios do Brasil.
Por margear a Baía de Guanabara, a Maré começou a ser ocupada por palafitas, em meados do Século 20. Os manguezais, que sofriam os efeitos das marés, foram aos poucos sendo aterrados com entulhos de rejeitos de obras doados por bairros vizinhos. Foi consolidada entre 1940 e anos 2000, a partir da organização e iniciativa dos moradores ou por programas habitacionais.