Conceição Melquíades – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A superintendência estadual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) se colocou em alerta e esteve no sítio arqueológico Ponta das Lajes, para averiguar o estado das gravuras, que passam boa parte do tempo submersas, mas devido a extrema seca ficaram expostas e atraem curiosos.
O sítio arqueológico Ponta das Lajes situado à margem do rio Negro, no bairro Colônia Antônio Aleixo, na região do Encontro das Águas é considerado patrimônio cultural brasileiro devido sua pedreira mostrar gravuras rupestres milenares em forma de rostos humanos.
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Os petróglifos, como são chamadas por arqueólogos essas gravuras, têm entre 1.000 a 2.000 anos, passam boa parte do tempo submersas. Porém, devido a estiagem deste ano, o espaço tombado pelo Iphan ficou exposto e vulnerável às ações humanas. Ele abrange uma área que inclui encostas de terra preta, fragmentos cerâmicos e urnas funerárias, além das gravuras.



As gravuras, que foram encontradas em 2010, ano da segunda maior seca do rio Negro já registrada em mais de 120 anos, receberam uma “pigmentação” para evidenciar as formas nas pedras pelo fotógrafo e artista plástico amazonense Otoni Mesquita, que fez registros e divulgou nas redes sociais no dia 24 de outubro de 2023, aniversário de Manaus.
Após repercussão, Otoni Mesquita explicou que a pedra se encontra localizada num local de penumbra dentro de uma pequenina caverna nas pedras. Daí, utilizou um método que evidenciasse o contraste das incisões que definem a face gravada no sentido parietal. Contudo, Mesquita disse ter conhecimento referentes ao uso dos materiais em obras históricas e artísticas, já que possui especialização em Conservação e Restauro na UFRJ. E que tem consciência da raridade do fato histórico, e antevendo que se trata de uma oportunidade rara, procuru recursos técnicos para realizar o registro.

E ressaltou que seu interesse pelo material arqueológico “vem de muitos anos, não somente pela questão histórica, mas pelo valor cultural” dos povos oriundos, além da relevância para referências históricas e culturais. Mesquita esteve no local junto com um grupo de amigos.
Especialistas, artistas e lideranças indígenas não gostaram do ato e o criticaram duramente.
Por esta razão, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional declarou temer que visitantes danifiquem ou furtem parte do material que lá se encontra. Uma equipe esteve no local, neste sábado, acompanhado da Guarda Municipal de Manaus (GMM) e da Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil Municipal (Sepdec), pastas vinculadas à Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social (Semseg), para dar apoio ao grupo.

O assessor técnico da Semseg, Ney Andrade; o engenheiro da Sepdec, Renato Martins, chefe da Divisão de Minimização e Prevenção de Desastres da Defesa Civil de Manaus; a superintendente estadual do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiro; o vice-presidente e a coordenadora de Comunicação Institucional do Instituto Soka Amazônia, Milton Fujiyoshi e Dulce Moraes, respectivamente, estiveram no local.
“A superintendente estadual do Iphan no Amazonas nos procurou e pediu nosso apoio para a preservação do patrimônio histórico. Com a baixa do rio Negro, apareceu uma grande formação de pedras com gravuras antigas e que o acesso de pessoas a esses locais pode vandalizar ou destruir esses artefatos arqueológicos. Por esta razão, prontamente nos colocamos à disposição, remanejando uma guarnição da Guarda Municipal para realizar ronda naquela área”, explicou o secretário da Semseg, Sérgio Fontes.
Em nota divulgada nesta semana, o Iphan destacou que todos os bens arqueológicos pertencem à União, sendo que a legislação veda qualquer tipo de aproveitamento econômico de artefatos arqueológicos, assim como sua destruição e mutilação. Além disso, para realização de pesquisas de campo e escavações, é preciso o envio prévio de projeto arqueológico ao Iphan, que avaliará e, só então, editará portaria de autorização. Assim, qualquer pesquisa interventiva realizada sem autorização do Iphan é ilegal e passível de punição nos temos da lei.
O sítio das Lajes foi o primeiro de Manaus a ser registrado no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos ( CNSA) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e é um dos mais degradados.