Elen Viana – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Manaus possui 113 áreas classificadas como de risco muito alto para deslizamentos de terra, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM). O bairro Jorge Teixeira, na zona Leste, é o mais afetado, com 23 pontos instáveis identificados desde 2019.
As zonas Norte e Leste concentram os terrenos com maiores declividades dentro do perímetro urbano, sendo nessas regiões que se encontram a maioria das áreas de risco mapeadas.
Entre os bairros mais vulneráveis, além de Jorge Teixeira, estão Gilberto Mestrinho (16 pontos), Mauazinho (15), Cidade de Deus (8), Cidade Nova (7), Educandos (4), Centro (4), São Raimundo (3), Compensa (3) e Santa Etelvina (3).
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O estudo do SGB foi publicado em 2019 e, em 2025, um novo levantamento está sendo elaborado com informações atualizadas.
De acordo com Elton Rodrigo, geólogo supervisor de hidrogeologia e gestão territorial do SGB, em entrevista ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, afirma que as zonas Norte e Leste ainda continuam sendo as mais críticas em relação às áreas de risco.
“Nesses locais, há uma grande variação de altitude e declividades acentuadas, o que gera taludes instáveis, agravados pelas ocupações irregulares. Essas ocupações desmatam rapidamente o solo, e a falta de infraestrutura adequada impede o escoamento correto das águas pluviais”, explica ele.

Além disso, o despejo inadequado de águas ou igarapés caindo diretamente nos barrancos contribui para a instabilidade do solo.
“Esse processo traz umidade para os taludes, favorecendo erosões ou deslizamentos, especialmente em períodos de chuvas intensas”, afirmou o geólogo.
Entre os bairros mais afetados, atualmente destacam-se Jorge Teixeira, Gilberto Mestrinho, Mauazinho e Colônia Antônio Aleixo, especialmente em áreas próximas a cabeceiras de igarapés e nascentes.
“Nessas regiões, a impermeabilização do solo pela pavimentação de ruas e cimentação de terrenos impede a infiltração da água, aumentando o escoamento superficial e a velocidade da água. Esse acúmulo provoca erosões progressivas nos barrancos, que podem evoluir de sulcos para ravinas e, em casos mais graves, para voçorocas, como já observamos na zona Leste de Manaus”, diz o especialista.
Zona Leste de Manaus
Na zona Leste, foram identificadas 64 áreas com risco muito alto para deslizamento de terra, além de 242 áreas de alto risco e 265 de risco médio. Os problemas estruturais incluem inúmeras voçorocas de grandes proporções, além de deslizamentos e inundações recorrentes.
Os bairros mais afetados são Jorge Teixeira como 23 áreas de risco muito alto, Mauazinho (15) e Gilberto Mestrinho (16). Aproximadamente 17.126 imóveis estão sob algum tipo de risco de deslizamento.

O estudo destaca que essa é a região mais problemática da cidade em relação à existência de áreas de risco geológico.
Na rua Senador Fábio Lucena, no bairro Mauazinho, desde janeiro de 2024, um barranco localizado atrás das casas vem cedendo diariamente, causando rachaduras nas residências e colocando em risco a vida dos moradores. A situação piorou com os deslizamentos de terra e quedas de árvores.

Zona Norte de Manaus
A zona Norte de Manaus possui 24 áreas de risco muito alto, 137 de alto risco e 256 de risco médio. Os bairros com maiores problemas são Cidade de Deus com oito pontos de risco muito alto, Cidade Nova (7) e Santa Etelvina (3).
Cerca de 15.729 imóveis apresentam risco médio, alto ou muito alto, incluindo movimentação de massa.

No dia 19 deste mês, a líder comunitária Sammya Costa Maciel, de 45 anos, morreu soterrada na rua da Paz, na Comunidade Fazendinha 2, no bairro Alfredo Nascimento, zona Norte da capital amazonense.
A forte chuva que atingiu a cidade no período da tarde provocou o deslizamento, deixando a mulher morta, cinco pessoas feridas e nove casas destruídas. Sammya estava ajudando os moradores a saírem do local no momento do acidente, incluindo uma criança, quando foi atingida pelo deslizamento.

Zona Sul de Manaus
Nesta região apresenta áreas de alto risco de deslizamento de terra, com 11 pontos classificados como muito alto, 23 como alto risco e 89 como médio.
Os bairros que apresentam mais setores de instáveis são: Educandos e Centro, ambos com 4 áreas de risco muito alto; seguidos com o Petrópolis, com 14 áreas de médio risco.
No total, aproximadamente 2.761 imóveis estão sob risco médio a muito alto. Essa é a região mais antiga da cidade, e seus principais problemas estão relacionados às cheias do rio Negro.

Todos os anos, centenas a milhares de imóveis são parcialmente inundados pelas águas dos igarapés. No bairro do Japiim, na avenida Manaus 2000, foram encontrados problemas estruturais, onde os imóveis sofrem como alagamentos que desgastam o solo, localizados às margens do igarapé do Quarenta.

Zona Oeste
Já na zona Oeste, foram encontradas nove áreas com risco muito alto, 18 com risco alto e 47 com risco médio. Os bairros mais afetados são: Compensa, com três áreas de alto risco; São Jorge, com duas áreas de alto risco e São Raimundo, também com três áreas de alto risco.
O estudo enfatiza que essa é a região menos povoada da cidade, com 253.589 habitantes segundo dados do IBGE, mas que, mesmo assim, apresenta áreas de risco geológico.
As principais ocorrências estão relacionadas às inundações causadas pelas cheias do rio Negro e aos deslizamentos de encostas íngremes situadas na orla desse rio. Estima-se que cerca de 1.370 imóveis tenham risco médio ou muito alto devido a deslizamentos de terra.

Um desbarrancamento atingiu uma casa de alvenaria e uma vila de casas de madeira, localizada na área conhecida como Beira Mar, próxima à orla do bairro São Raimundo, zona Oeste em 2023. As residências que não foram atingidas, estão em estado de risco muito alto.

Zona Centro-Oeste
Nesta zona, foram encontradas três áreas com risco muito alto para deslizamento de terra, 21 com risco alto e 34 com risco médio. Os bairros que apresentam mais áreas de risco são: Redenção, com 10 áreas de alto risco; Alvorada, com oito áreas de alto risco; e Bairro da Paz, com duas áreas de alto risco.
Os principais problemas encontrados estão relacionados às inundações e alagamentos de igarapés afluentes do Mindu e do São Raimundo.

Aproximadamente 1.992 imóveis estão localizados em áreas de risco devido a deslizamentos de terra.
Vale ressaltar que, em janeiro de 2025, um pai e sua filha morreram soterrados após um deslizamento de terra, enquanto outras três vítimas foram resgatadas com vida pelo Corpo de Bombeiros do Amazonas (CBMAM).
O deslizamento destruiu três casas na região, sendo um problema recorrente, já que moradores da Redenção sofreram com outro deslizamento em 2024.

Zona Centro-Sul
Nesta zona, os riscos são menores em comparação com outras regiões. Foram identificados dois pontos de risco muito alto, 10 pontos de risco alto e 26 de risco médio.
As principais ocorrências estão relacionadas às inundações e alagamentos em cursos d’água afluentes do igarapé do Mindu, além de pontos isolados sujeitos a deslizamentos de terra. Destacam-se os bairros Aleixo e Chapada, ambos com um ponto de alto risco.

Flores e São Geraldo também apresentam setores de risco médio a alto. Estima-se que cerca de 537 moradias estejam em áreas de risco.
No bairro Flores, no final da Rua Conde de Itaguá, imóveis de alvenaria estão assentados na base de uma encosta íngreme, sob alto risco de deslizamento. Segundo as informações dos moradores, as chuvas intensas resultaram na queda de um muro de contenção, abrindo uma cratera na área desde maio de 2024.

Dados da capital amazonense
O mapeamento foi realizado pelo Serviço Geológico do Brasil, que analisou áreas de risco sujeitas a movimentos de massa. Foram identificados aproximadamente 52.571 imóveis em situação de risco.
Estima-se que, desse total, cerca de 189.252 pessoas vivam em áreas de risco na cidade de Manaus, sendo 66.108 delas expostas a risco alto ou muito alto.