Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – As recentes polêmicas envolvendo a gestão do presidente afastado do Boi-bumbá Garantido, Antônio Andrade despertou um debate sobre os efeitos das más administrações para o Festival Folclórico de Parintins. Neste ano, surgiu a possibilidade do boi vermelho não se apresentar no festival alegando falta de recursos.
A situação levantou questões sobre a necessidade de implementar mecanismos para prevenir que más gestões comprometam a realização de eventos com tanto apelo público. Antônio foi afastado do cargo de presidente após o Conselho Fiscal denunciar sua administração ao Conselho de Ética da agremiação.
O Festival Folclórico de Parintins é uma festa popular caracterizada pela disputa dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso, uma tradição que completa 110 anos e é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Na edição deste ano, a estimativa é de que mais de 120 mil pessoas participaram do evento.
A falta de transparência dos recursos repassados para as diretorias dos bois-bumbás foi um dos pontos abordados pelo ex-vice-presidente da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), José Augusto Cardoso, e, para ele, uma possível solução seria a realização de auditorias.
“Há uma situação crônica no Festival que acontece há anos, a falta de transparência no uso dos recursos, principalmente no repasse público. A solução seria uma efetiva e independente auditoria. Como sugestão, o Estado poderia contratar uma empresa notadamente idônea para auditar, num período breve, o destino dado aos recursos com pena prevista para os responsáveis por mau uso do dinheiro”, ressaltou Cardoso.
Além da falta de transparência, José afirma que essa situação afeta a credibilidade e põe em risco o Festival Folclórico de Parintins. “É uma atitude insana contra o município e o Estado, com enorme prejuízo para a credibilidade da festa, comprometendo assim, um festival cultural com enorme apelo turístico e consequentemente financeiro”.
Políticas rigorosas
Para a produtora cultural Michelle Andrews, diante dos últimos acontecimentos, é necessário a implementação de políticas mais rigorosas para manter o festival em ascensão.
“O festival de Parintins já está consolidado como um dos eventos culturais mais significativos do país. No entanto, para manter sua relevância em alta e impulsionar ainda mais a economia local, o turismo e o dinamismo cultural, é imprescindível a implementação de uma política cultural abrangente e eficiente”, disse Michelle.
Considerado o maior festival a céu aberto do mundo, Andrews afirma que “é inaceitável que casos como esses continuem a acontecer. Sem a presença de um dos bois, não tem festival, não tem disputa”.
“É urgente que sejam estabelecidas políticas culturais eficazes, que envolvam fortalecimento institucional com formação, parcerias e comissões para gerenciamento de crises. Somente dessa forma poderemos evitar o risco de um possível esvaziamento do festival e garantir que ele continue encantando visitantes e fortalecendo a identidade cultural de Parintins”
Michelle Andrews, produtora cultural
Além da criação de medidas que podem evitar que o evento seja prejudicado, Michelle também destaca que a importância do festival não é apenas pela questão cultural, mas também pelo fortalecimento do turismo e da geração de empregos na região.
“Ao fortalecer as associações dos bois e o terceiro setor por meio da cultura, estaremos assegurando que o festival de Parintins continue sendo um evento grandioso e de renome internacional. Além de preservar e celebrar a rica cultura regional, o festival traz inúmeros benefícios para a região, impulsionando o turismo, gerando empregos diretos e indiretos, além de promover intercâmbios culturais e contribuir para o desenvolvimento sustentável da comunidade local”, destacou Michelle.
Posição do governo
De acordo com o governador Wilson Lima, nesta edição, o Festival mostrou que está em “outro patamar” e que não há mais espaço para erros. Para Wilson, um passo necessário e imediato é a boa gestão dos recursos. Em 2023, o Governo do Amazonas repassou R$ 12 milhões, sendo R$ 6 milhões para cada boi-bumbá.
“O presidente do boi administra uma empresa e vidas dependem dessa administração, e não é só gente do galpão, não é só artista, tem gente que vem de Manaus, um senhor ou uma senhora que vem de outras calhas de rio, gente que vem de Brasília, São Paulo, como autoridades, observadores internacionais”
Wilson Lima, governador do Amazonas