Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A vazante no Amazonas está em pleno andamento, revelando um cenário de decréscimo nos níveis das águas em grande parte das estações de monitoramento. Entre as áreas afetadas, destaca-se a estação de Manaus em que é possível observar que a queda nos níveis dos rios continua com reduções diárias de 10 centímetros, em média.
Porém já há sinais de novas águas em rios andinos que alimentam a bacia hidrográfica do Rio Negro, como é o caso de Marañón, Ucayali e Napo, situados no Peru. A previsão é de que em três semana o Rio Negro sinta o reflexo dessas novas águas.
“As chuvas dos Andes iniciadas na semana passada já apresentaram certa resposta na entrada da bacia. Como a estiagem foi forte, leva um certo tempo para essas águas chegarem aqui na região metropolitana. Antes, vai chegar na parte média Tefé e Coari. Os colegas hidrólogos estimam algo em torno de três semanas”
Jussara Cury, pesquisadora
A especialista, que atua na área de hidrologia no Serviço Geológico do Brasil (SGB), explica que o atual cenário em Manaus é resultado do que aconteceu nas semanas anteriores nas duas principais bacias que influenciam a região. Em particular a bacia do Solimões, onde ainda registra quedas no nível, com médias de 7 a 8 centímetros.
Nesta quinta-feira, 19/10, o Rio Negro está cotado em 13,29 metros, a menor cotação da história, de acordo com dados do Porto da cidade. A quebra do recorde aconteceu na última segunda-feira, quando o rio ficou abaixo dos 13,63 metros.
Novas águas
Segundo Cury, as novas águas vão estabilizar, primeiramente, a região a montante (Tabatinga, Benjamin Constant, Fonte Boa) e diminuir o ritmo das descidas do nível de água da capital.
“Na região de Tabatinga, o Rio Solimões voltou a subir há dois dias, muito em razão das chuvas concentradas nos Andes, que também provocaram esse efeito nas estações monitoradas do Peru e apresentaram elevação do seu nível na ordem de 20 centímetros diários”, completa.
Segundo a especialista, isso terá repercussões no Rio Solimões, visto que, estatisticamente e de acordo com a hidrologia, o pico da vazante no Alto Solimões geralmente ocorre na primeira quinzena de outubro. Portanto, a pesquisadora acredita que o processo de recuperação do nível do Solimões na região superior esteja em andamento.
Com relação às chuvas que tem caído em Manaus, a estudiosa explica que elas influenciam apenas nos igarapés da cidade. Para influenciar na bacia, as chuvas precisam se concentrar nas cabeceiras e se distribuírem ao longo da calha.
Atenção aos municípios
No entanto, em áreas próximas a Manaus, como no município de Manacapuru, a 70 quilômetros da capital, já alcançou também o nível mínimo histórico. “Na estação monitorada daquele município também chegamos no nível mínimo, ultrapassando a marca de 2010 na região”.
Ela complementa que o município de Itacoatiara também se aproxima do registro da maior vazante já registrada. “Então, o que está acontecendo é um comportamento geral da bacia, com níveis muito baixos para o período próximo do intervalo das mínimas”.
Madeira e Purus
Além disso, Cury menciona que o Rio Madeira começou a subir novamente, sinalizando um processo de recuperação, o que está em linha com a hidrologia e estatísticas que indicam que as cotas mínimas geralmente são atingidas na primeira quinzena de outubro.
A mesma tendência de recuperação também é observada no Rio Purus, que apresentou oscilações positivas na última semana.
“Os prognósticos climáticos indicam chuvas concentradas nessa semana ali na região dos Andes. E, na próxima semana, chuvas concentradas na região norte da bacia, próximo de São Gabriel da Cachoeira”, concluiu.
Panorama da Seca
Segundo o Boletim Estiagem, divulgado pelo Governo Do Amazonas, 59 cidades do Amazonas estão em situação de emergência, uma está em alerta e duas estão em estado de normalidade.
Até o momento, cerca de 557 mil pessoas, ou 138 mil famílias, estão sendo afetadas pela seca severa que atinge a região.