Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O episódio ocorrido na manhã desta quarta-feira, 13/9, em que a advogada Catharina Estrella foi ofendida pelo promotor de Justiça Walber Luís Silva do Nascimento durante um julgamento realizado na 3ª Vara do Tribunal do Júri do Amazonas, foi reconhecido pela Ordem dos Advogados do Brasil/ Seccional Amazonas (OAB/AM), como desrespeito de gênero.
Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quarta-feira, 13/9, o presidente da OAB-AM, Jean Cleuter, afirmou que o órgão se unirá em defesa da advogada Catharina Estrella. O presidente destacou que o órgão cuidará para que situações como essa não se repitam.
A advogada Catharina Estrella disse em coletiva, que as violências proferidas pelo promotor de Justiça Walber Nascimento durante um julgamento na 3ª Vara do Tribunal do Júri do Amazonas foram direcionadas ao seu gênero. A advogada acusou o promotor de se referir a ela como “cadela” em mais de uma ocasião durante o embate entre defesa e acusação. Ela pediu que as ofensas fossem registradas em ata.
O episódio ocorreu durante o julgamento, que começou na segunda-feira, 11/9, e se estendeu até esta quarta-feira, 13/9. Durante a sessão, o promotor se referiu a Catharina como “cadela” em mais de uma ocasião, o que provocou sua indignação e exigiu que o ocorrido fosse registrado.
“Ele falou que eu não merecia nem ser comparada a cachorra dele, porque isso era uma ofensa à cachorra dele. Disse que gostava muito de pets e gatinhos. Inclusive tinha preferência pelas cadelas. Ele falou isso. Nesse momento eu o interrompi. Eu pedi pela ordem. Eu falei que eu queria registrar em ata a violação que estava acontecendo. Era quinta nulidade que eu ia colocar na ata. Só que até ontem, o juiz que presidia o julgamento não me deixava colocar na ata”, relatou. O julgamento foi presidido pelo juiz Carlos Henrique Jardim da Silva.
A advogada relatou que o promotor já havia adotado uma postura desrespeitosa nos dias anteriores ao julgamento, fazendo piadas e desrespeitando seu trabalho como advogada. Além disso, ele teria interrompido constantemente sua fala durante a sessão.
“Ele falava em cima da minha fala. Foi quando eu perguntei ao juiz se eu estou com a palavra, que confirmou. Mas ele continuava interrompendo. Então eu disse ao promotor que ele estava fazendo violência psicológica. É o mannterruption, interrompendo toda vez que uma mulher fala”, relatou.
Catharina Estrella explicou que ela não estava apenas defendendo sua honra, mas também buscava preservar o ambiente jurídico e garantir que a lei fosse cumprida. Ela destacou que a Constituição Federal e as leis são claras sobre a igualdade de direitos e respeito às mulheres, e ela não toleraria tais ofensas.
A advogada enfatizou a importância de abordar esse tipo de violência institucional e destacou a necessidade de mudanças no ambiente jurídico para garantir um julgamento justo e respeitoso para todos os envolvidos.
“O ambiente jurídico é para se reparar crimes, no sentido de haver julgamento. E, no entanto, está sendo ambiente de assédio moral, psicológico e de crime contra a honra. E isso está sendo tão normalizado, ninguém fala nada. Então, hoje eu vim aqui escancarar essa violência porque eu não aguento mais”, desabafou.
A advogada também ressaltou que não é a primeira vítima das atitudes do promotor Walber Luís Silva do Nascimento, mencionando que outras mulheres advogadas já passaram por situações semelhantes em julgamentos anteriores.
A situação gerou preocupação e repúdio entre os advogados e advogadas criminalistas, que prestaram solidariedade a Catharina Estrella e protestaram em frente ao Fórum Henoch Reis, na zona Centro-Sul de Manaus. A OAB-AM (Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas) manifestou apoio à advogada, enquanto a AAMP (Associação Amazonense do Ministério Público) emitiu uma nota de apoio e desagravo ao promotor de Justiça, destacando sua atuação na defesa dos direitos das vítimas de crimes de gênero.
A advogada planeja tomar medidas legais em relação ao ocorrido, incluindo a apresentação de um boletim de ocorrência por violência institucional. Ela encerrou seu pronunciamento agradecendo ao apoio da OAB, reafirmando seu compromisso em lutar contra os abusos de autoridade e violações dos direitos humanos no sistema judicial.