Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Os problemas no transporte coletivo de Manaus são muitos e antigos, como as condições dos veículos, superlotação, tempo de espera, assaltos. Nos últimos 12 anos, a Prefeitura de Manaus fez frente à situação precária dos veículos e promoveu a renovação de 51,7% da frota.
De acordo com informações obtidas pelo Portal RIOS DE NOTÍCIAS, por meio da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), a atual gestão renovou 35% da frota de ônibus da cidade, com a entrega de 355 novos veículos, dos quais 300 possuem ar-condicionado. Esses veículos se somam à frota atual de 1.116 ônibus, que operam em 218 linhas por toda a cidade.
As entregas da gestão de David Almeida (Avante) superaram as do último mandato do ex-prefeito Arthur Virgílio Neto (sem partido). Entre 2017 e 2020, Virgílio Neto entregou 223 novos ônibus, conforme o Sinetram.
O detalhamento dos dados mostra que 97 ônibus foram entregues em 2021, 113 em 2022, 104 em 2023, e 41 em 2024. A prefeitura promete entregar ao menos mais 200 novos ônibus até deste ano, o que resultaria em um percentual de quase 70% de renovação.
Mais caro
As passagens de ônibus em Manaus tiveram um aumento de 18,4% em maio de 2023, passando de R$3,80 para R$4,50. Segundo a prefeitura, o reajuste foi necessário para evitar o colapso do sistema devido à inflação e ao aumento de custo com combustível, peças e salários. A tarifa do transporte coletivo da capital estava congelada desde 2017.
Mais subsídios
Apesar do aumento da tarifa para equilibrar os gastos com transporte público, os subsídios pagos pela Prefeitura de Manaus para as concessionárias de ônibus aumentaram 160% entre 2020 e 2023.
O subsídio é um valor pago pelo poder Executivo municipal para complementar o custo operacional do sistema de transporte, permitindo que esse não dependa exclusivamente da tarifa. Além disso, o subsídio é destinado a pagar as gratuidades oferecidas a idosos e estudantes.
Em pesquisa no Portal da Transparência, a REPORTAGEM identificou que em 2020, último ano da gestão de Arthur Neto, foram pagos R$ 165.161.328,41 em subsídios. Em 2021, primeiro ano de David Almeida, esse valor subiu para R$ 280.327.500,83, um aumento de 70%. Em 2022, os subsídios aumentaram ainda mais, atingindo R$ 403.120.568,58. Em 2023, foram pagos R$ 440.422.739,66, e até abril deste ano, o valor já chegou a R$ 138.054.249,90.
Problemas crônicos
Embora a renovação da frota seja um passo positivo, existem desafios significativos a serem enfrentados. A superlotação nos ônibus públicos de Manaus é um problema crítico, especialmente nos horários de pico. Com a alta demanda e a frota que demonstra ainda ser insuficiente, os passageiros frequentemente enfrentam condições desconfortáveis, sendo obrigados a viajar em pé e espremidos.
A demora causada pela falta de linhas de ônibus e a inadequação dos horários afeta diretamente a eficiência do transporte público. Nos horários de pico, a espera prolongada nos pontos de ônibus é uma reclamação constante dos usuários.
A segurança também é uma preocupação crescente, com o aumento dos assaltos a ônibus deixando os passageiros vulneráveis e inseguros. De acordo com a apuração do Portal RIOS DE NOTÍCIAS, nos dois primeiros meses deste ano, foram registrados 157 assaltos a ônibus em Manaus, com algumas linhas sofrendo mais de 20 roubos, o que equivale a praticamente 3 assaltos por semana.
A péssima condição dos terminais de integração é outro motivo de queixas dos usuários, com a deterioração da infraestrutura pública e a falta de eficiência na manutenção dos espaços coletivos. Durante o mês de maio, um usuário do transporte público registrou um desses problemas: com a forte chuva que atingia a capital amazonense, os passageiros que esperavam o transporte coletivo no Terminal de Integração 4 (T4), localizado na avenida Camapuã, na zona Norte de Manaus, relataram que chovia mais dentro do terminal do que fora, devido a infiltrações de água que evidenciam a precariedade do local.
O que dizem os especialistas?
Em relação à segurança do transporte público, o major da Polícia Militar, Paulo Furtado, explica que os principais alvos dos criminosos são a renda dos cobradores e os bens dos passageiros.
Segundo ele, duas medidas podem contribuir para a redução dos roubos: a não utilização de dinheiro nos ônibus, com todos os pagamentos feitos através do cartão “Passa Fácil” e da carteirinha estudantil, e a instalação de câmeras em todos os coletivos, com imagens integradas ao CIOPS (Centro Integrado de Operações de Segurança).
“As câmeras não inibem totalmente os assaltos, mas ajudam nas investigações futuras que levam à prisão desses meliantes e, com certeza, diminuem bastante os casos de assalto a coletivos”, afirma o major.
Para o engenheiro de Transporte e Trânsito, Manoel Paiva, o transporte público oferecido para a população enfrenta diversos desafios que precisam ser ajustados. Ele destaca que uma das preocupações é a superlotação.
Paiva atribui o problema, especialmente nos horários de pico, ao fato de que a frota atual é cerca de 30% menor do que era em 2019, antes da pandemia. Ele também menciona que as linhas de ônibus têm um tempo de percurso prolongado, o que contribui para o desconforto dos passageiros.
O engenheiro ressalta que a avaliação da população revela a falta de confiabilidade no modal de transporte coletivo da cidade. Ele enfatiza que os ônibus frequentemente não cumprem os horários estabelecidos, resultando em atrasos significativos nas viagens devido ao longo tempo de espera.
Além disso, Paiva destaca os conflitos naturais entre operadores e a população como uma questão a ser enfrentada. Diante desses desafios, ele ressalta a necessidade de redobrar os esforços para implementar melhorias específicas no transporte coletivo urbano de Manaus.
“Implantar pistas e faixas exclusivas para que nós possamos aumentar a velocidade comercial do transporte do ônibus, porque hoje está a 12 km por hora. Implementar mais acessibilidade integrada para a população e priorizar quem mora na periferia e tem baixa renda, que hoje representam cerca de 60% da população”, são alguns medidas apontadas pelo especialista, que precisam ser priorizadas pelas próximas gestões.