Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A morte do dramaturgo e romancista Márcio Souza, aos 78 anos, na madrugada desta segunda-feira, 12/8, deixou os amazonenses e amantes da literatura no país surpresos e consternados.
Nas redes sociais, foram inúmeras manifestações de condolência à família enlutada, além de homenagens feitas por personalidades e instituições ligadas a cultura do Amazonas.
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O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou, nesta segunda-feira, 12, com escritores, editores, artistas e cineastas sobre a partida repentina de Márcio Souza, que ocupou também cargos públicos, como a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão do governo federal, e do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), em Manaus.
Nas obras do escritor, o processo de colonização do Norte do país, a exploração do látex na passagem do século XIX para o XX durante o chamado ciclo da borracha, a questão indígena e os abismos sociais nascidos do embate entre modernidade e arcaísmo na região são as matérias-primas de suas narrativas.
“Nos grandes embates sobre a defesa da Amazônia, da sua literatura, dos seus autores, dos povos originários e das minorias, Márcio sempre emprestou a sua voz. No período da ditadura militar, ele não se calou, defendeu a liberdade e a vida de todos os brasileiros”, destacou Neiza Teixeira, coordenadora editorial da Valer.
Para a coordenadora, o país perde um dos maiores conhecedores sobre a Amazônia. “Para nós, da editora Valer, essa é uma notícia que nos pegou desprevenidos, porque sempre esperávamos mais obras de Márcio e, também, de desfrutar da sua companhia, dado que ele era um dos maiores conhecedores da Amazônia e um dos nossos maiores intelectuais, um grande conhecedor da literatura, do teatro e do cinema. Nós lamentamos profundamente a morte de Márcio Souza”, disse.
Cinema amazonense
Uma das obras do dramaturgo pela editora foi ‘A substância das sombras: Cinema arte do nosso tempo’ . O livro aborda a história da sétima arte, desde o cinema mudo até os grandes estúdios hollywoodianos. Para o autor, o livro é um guia e uma introdução ao cinema.
O livro tem a ver com a própria natureza do cinema, ressaltando a projeção e a sombra animada na tela.
“A cultura amazonense ficou mais pobre com a perda inestimável desse artista universal que foi o Márcio Souza, intelectual multifacetado que transitou pela literatura e o cinema sem vaidades. Ele viveu plenamente de sua arte que agora perpetuará pela vida eterna, valeu Márcio pela sua passagem por esse plano”, frisou o cineasta amazonense, Jimmy Christian.
Literatura da Gente
A transcritora Márcia Antonelli lembra da participação de Márcio Souza, em julho de 2021, na segunda temporada do programa Literatura da Gente apresentado por ela.
“Fechamos o ano com esta entrevista, foi a primeira vez que conheci pessoalmente Márcio Souza. Ele aceitou o convite sem ao menos conhecer o histórico do programa, foi muito pontual, respeitoso e respondeu as perguntas com muito humor. Ele era uma pessoa muito bem humorada e receptiva. Acho que isso marcou no programa Literatura da Gente. Não só o programa, mas a cultura local”, lembrou Antonelli.
Livros Publicados
Somente pela Editora Valer, Márcio Souza tem os seguintes livros publicados: A Caligrafia de Deus; Ajuricaba: o caudilho das selvas; A expressão Amazonense; Fascínio e repulsa: estado, cultura e sociedade no Brasil e A substância das sombras: Cinema arte do nosso tempo.
A Caligrafia de Deus – Composta por cinco contos, escritos em diversos períodos, tendo Manaus como ponto de ligação. Uma cidade que, ao receber aqueles que fogem ao destino, têm a sua identidade ainda mais desintegrada.
Ajuricaba: o caudilho das selvas – Nele a memória incentiva-nos a sermos rápidos, que nos antecipemos ao véu do esquecimento, pois ele fará emudecer a voz do passado. Com o autor, viajamos até o Grão-Pará e o Rio Negro, para encontrarmos com o guerreiro Ajuricaba, cujo nome significa “reunião de marimbondos de ferroadas dolorosas”.
A expressão Amazonense – Um dos ensaios mais importantes sobre o processo cultural no Amazonas, o livro de Márcio Souza é um texto de leitura obrigatória por parte dos estudiosos do tema. O autor apresenta um amplo painel sobre os autores e as obras mais expressivas produzidas na região, inserindo-as no contexto sócio-histórico.
Fascínio e repulsa : estado, cultura e sociedade no Brasil – Neste livro o autor discute a relação entre o Estado e a Cultura. Cada capítulo nos leva a olhar, com outros olhos, a História do Brasil; a buscarmos fundamentos e argumentos para um novo delineamento dos atos culturais pelos quais passamos, ou nos foram passados, sem que nos déssemos conta de como e em que situação eles foram orquestrados. Além de A substância das sombras: Cinema arte do nosso tempo.
“Uma perda irreparável para a cultura de nosso estado. Márcio Souza deixa um legado importante na arte e cultura brasileira. Seu trabalho atravessou fronteiras levando a literatura produzida no Amazonas inclusive para fora do Brasil. Nos despedimos com saudade desse nobre escritor que ainda será lembrado por várias gerações vindouras”, disse o presidente da Academia Amazonense de Letras, Aristóteles Comte de Alencar Filho, ao riosdenoticias.com.br