Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Há exatos 30 anos, em 27 de fevereiro de 1994, o Brasil lançava o Plano Real, uma iniciativa histórica que mudaria para sempre a economia do país. A Medida Provisória que criava o Plano foi anunciada pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, preparando o terreno para o fim de uma era marcada pela hiperinflação. O país enfrentava uma situação caótica, com índices inflacionários que chegavam a quase 2.500% ao ano, uma realidade que parecia incontrolável.
O Plano Real representou um marco na história econômica brasileira, trazendo consigo a tão almejada estabilidade e previsibilidade. O projeto começou a ser discutido no ano anterior, em 1993, liderado por uma equipe de economistas renomados, como Edmar Bacha e Gustavo Franco. A estratégia foi dividida em três fases (Ajuste Fiscal, Desindexação e a Âncora Nominal), visando preparar o país para a transição para uma nova moeda.
O economista e consultor financeiro Dean Athayde, em entrevista exclusiva ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, destacou a importância do plano na estabilização econômica do Brasil.
“No dia 27 de fevereiro de 1994, emergia o plano econômico do Plano Real, com o objetivo primordial de redirecionar os rumos do país, proporcionando a estabilidade econômica e financeira tão necessária ao Brasil. É importante ressaltar que, naquela conjuntura, enfrentávamos períodos de hiperinflação, onde os preços sofriam alterações abruptas de um dia para o outro”
Dean Athayde, economista

O plano, concebido sob a liderança do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, foi uma resposta urgente a uma crise econômica sem precedentes. Athayde lembrou que o Brasil já havia experimentado várias moedas fracassadas, como o Cruzado, o Cruzado Novo e o Cruzeiro, antes de finalmente alcançar a estabilidade com o Real. A nova moeda foi um divisor de águas na história econômica do país.
“É importante ressaltar que, mesmo com a inflação controlada desde 1994, acumulamos cerca de 740% de inflação. Isso significa que R$ 747 atualmente equivalem ao poder de compra de R$ 100 naquele ano, quando o Plano Real foi criado”, pontuou.
Real chegou a valer mais que Dólar
No período da sua criação, 1 real valia 1 dólar. Em outubro do mesmo ano, o dólar chegou a custar em torno de R$ 0,82. Era um processo de estabilização de preços e o controle era necessário para que o câmbio não afetasse a inflação.
A política cambial adotada ajudava a conter o fantasma da hiperinflação, mas prejudicou o resultado das contas externas, o que obrigava o governo a tomar novos empréstimos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Fases

A grande inovação do Plano Real foi a criação da Unidade Real de Valor (URV), uma espécie de moeda virtual que servia como âncora de estabilidade durante a transição para o Real. A URV tinha seu valor atrelado ao dólar e permitiu uma precificação mais estável dos produtos durante o período de transição. No dia 1º de julho de 1994, o Real finalmente entrou em circulação, substituindo o antigo Cruzeiro Real.
O impacto do Plano Real foi imediato e profundo. A inflação, que atingiu 916% em 1994, caiu para 22% em 1995, marcando o início de uma era de estabilidade econômica.
A previsibilidade proporcionada pelo Real permitiu que milhões de brasileiros, especialmente das classes C, D e E, ingressassem no mercado consumidor, impulsionando o crescimento de diversos setores da economia.
“Testemunhamos uma significativa melhora nas condições econômicas, refletida no aumento da renda real das famílias mais pobres. Isso proporcionou aos brasileiros acesso a um padrão de vida melhorado, permitindo a aquisição de bens e serviços essenciais, e elevando a qualidade do consumo. Considero que essa transformação representa uma importante lição aprendida, evidenciando o sucesso do grande projeto da equipe econômica da época na criação da nossa moeda”, lembrou Athayde.
Além dos benefícios econômicos, o Plano Real teve um impacto significativo na redução da pobreza no Brasil. Entre 1994 e 1996, a proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza caiu de 38% para 29%, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O acesso a bens e serviços básicos aumentou, melhorando a qualidade de vida de muitas famílias.
“Hoje, nós temos uma moeda teoricamente forte. Porém, ainda vivemos sim com inflação. Óbvio que não como no período de hiperinflação que era naquele momento. Atualmente, a gente tem uma inflação média no Brasil em torno de 5% ao ano. A meta de inflação é 3,5%, mas geralmente vai um pouquinho para cima, um pouquinho para baixo. Há dois anos, a gente tinha dois dígitos de inflação. E vale lembrar também que a gente passou pelo período da pandemia de Covid-19”, enfatizou.
O sucesso do Plano Real também teve repercussões políticas, ajudando a eleger Fernando Henrique Cardoso como presidente em 1994. O fim da hiperinflação proporcionou estabilidade política e fortaleceu a imagem do Brasil no cenário internacional, atraindo investimentos e impulsionando o crescimento econômico. “O ministro da Fazenda do momento era Fernando Henrique Cardoso que, depois do Plano Real, virou presidente da República”.
Apesar dos altos e baixos ao longo do tempo, a criação do Real foi um marco na história econômica do país, proporcionando estabilidade e progresso para milhões de brasileiros. A moeda, ainda considerada “nova” em comparação com outras no cenário internacional, continua a ser um símbolo de conquista e superação para o povo brasileiro.
“Quando comparamos o Real com outras moedas ao redor do mundo, é evidente que ainda é uma moeda relativamente recente. Se olharmos para o dólar ou para a libra esterlina, percebemos que o Real ainda é considerado uma moeda nova em termos históricos”, concluiu.