Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O presidente Lula afirmou que é necessário mudar as instituições, ou o mundo continuará o mesmo. “Quem é rico, vai continuar rico e quem é pobre, vai continuar pobre. E eu falo isso com pesar porque eu sei como é fácil governar para os pobres, que nunca representaram problemas. O pobre sempre será a solução quando você o coloca dentro do orçamento do país“.
A afirmação do presidente foi durante sua participação na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, organizada pelo presidente Emmanuel Macron nesta sexta-feira, 23/6.
Lula ressaltou que a desigualdade é um dos principais desafios que a humanidade enfrenta atualmente e pediu que essa questão seja tratada com a mesma prioridade que a crise climática. Ele enfatizou as várias formas de desigualdade, incluindo salarial, racial, de gênero, na educação e na saúde, e destacou a crescente concentração de riqueza nas mãos de poucos enquanto a pobreza afeta cada vez mais pessoas.
“Presidente Macron, nós temos que falar sobre a desigualdade mundial. Não é possível que em uma reunião entre presidente de países importantes a palavra ‘desigualdade’ não apareça. Nós somos um mundo cada vez mais desigual e se a gente não colocar isso como prioridade, tanto quanto é a questão climática, teremos um clima muito bom e o povo vai continuar morrendo de fome em vários países do mundo”, enfatizou Lula diretamente para o presidente da França.
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Lula mencionou sua experiência anterior como presidente, quando conseguiu retirar milhões de pessoas da miséria absoluta e promover um aumento no poder de compra da classe média. No entanto, ele expressou preocupação com o fato de, após sua saída do governo, milhões de pessoas voltaram a viver em condições de extrema pobreza.
“Quando eu fui presidente da república do Brasil em 2003 e a presidenta Dilma, em 2010, a Organização da Nações Unidas (ONU) reconheceu que o Brasil tinha saído do mapa da fome. E quando deixamos a presidência, o Brasil era a 6ª economia do mundo. Hoje, o Brasil é a 12ª. Ou seja, o país andou para trás. Depende do governo que é eleito e depende do governo que tenha preocupação com a questão social“, detalhou.
Lula também ressaltou a importância de reformar as instituições internacionais, afirmando que as estruturas estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), já não atendem às necessidades e interesses da sociedade contemporânea. Lula criticou a falta de representatividade e força política da ONU, destacando que a organização precisa recuperar sua capacidade de tomar decisões e solucionar questões globais urgentes, como o conflito entre Israel e Palestina.
“E nós aqui precisamos ter que entender o seguinte: as instituições de Bretton Woods não funcionam mais e não atendem mais às aspirações e nem aos interesses da sociedade. O Banco Mundial e o FMI deixam muito a desejar naquilo que o mundo aspira.. E muitas vezes, os bancos emprestam um dinheiro, que é o resultado da falência do estado”, pontuou.
“Não podemos continuar com as instituições funcionando de forma equivocada. Os membros permanentes do Conselho Nacional de Segurança da ONU não representam mais a realidade política de 2023 e hoje precisa voltar a ter força política. A ONU foi capaz de criar o estado de Israel em 1948 e não é capaz de resolver o problema da ocupação do estado palestino. Se não mudarmos essas instituições, a questão climática vai virar uma brincadeira”, complementou.
O ex-presidente também apontou a ausência de governança global efetiva para cumprir os acordos e compromissos internacionais, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris, enfatizando que as instituições atuais não possuem poder suficiente para garantir sua implementação. Ele argumentou que é necessário estabelecer uma governança mais forte e representativa para lidar com essas questões.
Em seu discurso, Lula lamentou a falta de atenção contínua aos pobres pela classe política, valorizados somente durante as eleições, e insistiu que os líderes presentes na cúpula reconheçam a importância de mudar as instituições e promover uma governança mundial mais inclusiva e efetiva.
“Se você esquece o pobre e coloca todos os outros no orçamento, nunca vai sobrar dinheiro para cuidar dos mais miseráveis. E eles estarão abandonados, sem sindicato, partido, não farão passeatas, não terão movimentos e morarão longe da sede do governo, muitas vezes na periferia. E a desigualdade continuará aumentando. E como é que nós vamos resolver se não discutimos isso?“, questionou.