Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Em um gesto histórico, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu nessa última terça-feira, 23/4, a responsabilidade do país no tráfico e na escravização durante séculos, particularmente no contexto do Brasil colonial.
O país traficou cerca de 6 milhões de africanos, quase a metade do total de pessoas escravizadas à época pelos países europeus. Para correspondentes estrangeiros, Rebelo de Sousa disse, também, que sugeriu a seu governo fazer reparações pela escravidão e afirmou que seu país “assume total responsabilidade pelos danos causados” ao Brasil.
De acordo com o presidente português, o país deve pagar pelos custos de massacres a indígenas e outros bens saqueados. “Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso“, afirmou o chefe de estado, que não especificou de que forma a reparação será feita.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com o historiador e pesquisador Ygor Cavalcante, que analisou a declaração feita pelo presidente de Portugal. O especialista afirma que pedir desculpas para preservar um laço de fraternidade entre povos com base em um endividamento com o passado, são “as partes mais fáceis dessa história.”
“É claro que essa declaração vem à tona no contexto de acirrada luta ideológica em Portugal: o ódio racial contra brasileiros parece ter escalonado nas terras do velho patriarca e, o que é mais paradoxal, chancelado por brasileiros residentes em Portugal, por sua vez, contrários a migração dos próprios brasileiros para lá.”
Ygor Cavalcante, pesquisador e historiador
Para o historiador, as confissões de culpa dessas autoridades, não surtirá efeito prático e efetivo, pois segundo ele, nada de realmente significativo pode mudar o passado, como por exemplo, uma reparação histórica nesse momento. “Nada de realmente significativo pode ser feito se não passar por uma mudança traumática e radical na ordem das coisas, a ponto de que o próprio passado seja alterado“, argumenta.
Outro ponto destacado por Ygor refere-se à nossa ética histórica em fazer justiça às lutas dos nossos antepassados, onde nos restaria a direção da compreensão e reparação do passado como transformação.” Fazer desse impossível para o nosso presente, apenas mera lembrança, porque outro dever histórico foi quitado“, reitera.