Júlio Gadelha – Rios de Notícias
Maués (AM) – Em meio a um decreto de emergência financeira e administrativa, a Prefeitura de Maués, liderada por Macelly Veras (PDT), autorizou a compra de R$ 948,2 mil em papel A4 sem licitação, por meio de um contrato emergencial com a empresa ACR Serviços de Saúde Ltda., cuja atividade principal é atendimento ambulatorial – não comércio de papelaria.
O valor total do contrato chega a R$ 2,5 milhões, incluindo itens como canetas, envelopes e grampos, em quantidades que chamam a atenção pelo volume e preço.
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Altos gastos com papel
A aquisição de 2.083 caixas de papel A4 (cada uma com 10 resmas de 500 folhas) foi orçada em R$ 559.910,40, o equivalente a R$ 268,80 por caixa – ou R$ 26,80 por resma.
No entanto, em lojas de Manaus, a mesma resma é encontrada por R$ 22,80 quando comprada em grande quantidade, valor inferior ao pago pela prefeitura. A diferença sugere um possível sobrepreço de mais de 15%.
Para efeito de comparação, o valor a ser gasto com papel A4 (R$ 948,2 mil) equivale a:
- 624 salários mínimos (R$ 1.518)
- 1.580 parcelas do Bolsa Família (R$ 600)
Outros gastos questionáveis
O contrato também prevê:
- R$ 115 mil em envelopes (24×34 cm) – caixa de 100 unidades por R$ 72,79 (preço médio no mercado: R$ 30 a R$ 50).
- R$ 143,5 mil em canetas esferográficas azuis, pretas e vermelhas (caixa com 50 unidades por R$ 66,10).
- R$ 102 mil em pincel para quadro branco (R$ 82,36 por caixa com 12 unidades).
Contrato com empresa de saúde
A ACR Serviços de Saúde tem como atividade principal serviços ambulatoriais, segundo a Redesim. Embora conste como atividade secundária o comércio de papelaria, a escolha de uma empresa sem histórico no ramo para um contrato milionário levanta dúvidas.
A prefeitura justificou a dispensa de licitação pelo “estado de emergência” decretado em janeiro, válido por 60 dias – mas o contrato foi assinado em fevereiro, com vigência de 4 meses, indo além do prazo da crise declarada.
Resposta da prefeitura
A Prefeitura de Maués foi procurada pela reportagem, mas até o fechamento desta matéria não apresentou esclarecimentos sobre os pontos questionados. A administração municipal não informou os motivos que levaram à contratação de uma empresa da área de saúde para o fornecimento de materiais de escritório.
Também não explicou qual foi o critério de urgência utilizado para justificar gastos elevados com itens considerados básicos, especialmente em um momento de crise fiscal enfrentado pelo município. O espaço permanece aberto para manifestações futuras da prefeitura.