Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – No Brasil, o mês de agosto marca a iniciativa da Lei Nº 14.617, que estabelece o Mês da Primeira Infância, é um período dedicado à conscientização sobre a importância do cuidado integral, além de transformar a primeira infância em uma prioridade nas intervenções governamentais, orientando a normatização das políticas públicas para abranger todo esse período.
A primeira infância é compreendida desde a concepção até os seis anos de idade, sendo um período crucial no desenvolvimento humano. Nesses primeiros anos, as bases são estabelecidas para uma vida saudável, bem como para o crescimento cognitivo, emocional e social das crianças. É um momento em que a base dos futuros cidadão são moldados, e o investimento nessa fase é essencial para o futuro da sociedade.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou 2,7 milhões de nascimentos em 2021, refletindo a relevância das ações destinadas a essa parcela da população.

A psicóloga infantil Gesiana Carla destaca a importância dessa abordagem para garantir um ambiente propício ao desenvolvimento saudável das crianças, contribuindo para um futuro promissor. Ela ressalta que o meio em que a criança vive desempenha um papel fundamental na construção de sua conduta, ensino e inserção na sociedade, influenciando seus costumes e modo de vida.
“O meio onde ela vive é importante para a construção de sua conduta. Ela é responsável por ensinar, educar e inserir a criança na sociedade, visto que seus costumes e modo de vida influenciarão a criança.”
Gesiana Carla, psicóloga infantil
Durante o mês de agosto, tanto os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário quanto a sociedade civil organizada se mobilizam para oferecer atendimento integral e multiprofissional, incluindo o fortalecimento de vínculos afetivos, a promoção da nutrição, imunização, o direito de brincar e a prevenção de acidentes e doenças.
“É na primeira infância que o indivíduo aprende muito e de forma rápida. As crianças absorvem todo o tipo de informação, emoções e experiências que são expostas. É por isso que, mesmo que ela não compreenda 100% determinada situação, os sentimentos e palavras ali inseridos serão incorporados”, esclarece a psicóloga.
A escolha da cor verde para representar o Mês da Primeira Infância, reflete a esperança de que investir nesse período de vida das crianças pode ter efeitos transformadores.

Direitos violados
Embora haja direitos garantidos para crianças e adolescentes, muitas vezes esses direitos são violados devido a fatores como sociedade, precariedade econômica, repetição de abusos e falta de informação. “Apesar dos direitos da criança e do adolescente, eles são visivelmente violados por seus responsáveis devido a uma série de fatores, sendo alguns deles: a sociedade, a precariedade econômica, a repetição de abusos, falta de informação.”, ressalta a psicóloga infantil
A psicóloga também aborda o tema dos maus-tratos, categorizando-os em abuso físico, abuso sexual, negligência e abuso emocional. Promover resiliência, segundo ela, é fundamental para ajudar indivíduos a superarem adversidades e terem uma melhor qualidade de vida.
“O termo maus-tratos da criança refere-se a um amplo espectro de comportamentos que oferece risco ao bem estar físico ou emocional que são classificados em quatro categorias gerais: 1) Abuso físico; 2) Abuso sexual; 3) Negligência; 4) Abuso emocional. Promover resiliência é uma forma de ajudar a superar e fazer com que o indivíduo tenha uma melhor qualidade de vida apesar das adversidades sofridas. A criança que fomos sempre irá ressoar no decorrer da nossa vida.”, declara Carla.
Impactos na fase adulta
Para explicar como o ser humano se desenvolve, Gesiana cita o psicólogo Lev Vigotski que explica que a família e o ambiente em que a criança está influencia em seu desenvolvimento.
“O ser humano se desenvolve por meio dos processos de apropriação. A apropriação é um processo por meio do qual o ser humano toma posse da realidade, transferindo a para a subjetividade. Nesse sentido, a criança ao nascer se apropria da realidade que a cerca. Essa apropriação acontece através da mediação realizada pelos adultos e pelos instrumentos. É assim que a criança acaba conhecendo o mundo em que está inserida”
Lev Vigotski, psicólogo
No entanto, essa construção cognitiva não ocorre de forma isolada. Ela está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento futuro da criança, desempenhando um papel fundamental na formação da saúde mental e física na vida adulta. Transtornos cognitivos, psicóticos, de humor, de ansiedade e diversos outros podem ter suas raízes nas experiências da infância e no desenvolvimento da capacidade de compreensão e interação com o ambiente.
Desde a delicada fase da primeira infância, a qualidade das interações e do ambiente desempenha um papel vital. A mediação proporcionada pelos adultos e os instrumentos que cercam a criança auxiliam na construção de uma base sólida para o desenvolvimento cognitivo. A falta de estímulos adequados, cuidados insuficientes e exposição a situações adversas podem ter impactos profundos, afetando a forma como a criança percebe e lida com o mundo.
À medida que a infância se desdobra em adolescência e, finalmente, na vida adulta, as sementes plantadas nos primeiros anos continuam a brotar. A saúde mental e física, muitas vezes, reflete o cuidado e a atenção dedicados à criança durante sua fase de desenvolvimento.
Os desafios enfrentados pelas crianças durante a infância, como a falta de apoio emocional, exposição a abusos ou negligência, também podem impactar a saúde mental na vida adulta. Transtornos de adaptação, problemas de personalidade e até doenças físicas, como problemas cardiovasculares e câncer, podem ter vínculos com experiências passadas.
É crucial reconhecer a importância da primeira infância como base para um futuro saudável. Promover interações saudáveis, fornecer ambientes enriquecedores e oferecer apoio emocional desde os primeiros anos são passos essenciais. A apropriação da realidade que a criança vivencia se entrelaça com o desenvolvimento de sua saúde mental e física, moldando não apenas a infância, mas também o caminho que seguirá na vida adulta.