Patrick Motta Jr – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O Brasil está enfrentando uma situação grave na saúde pública por meio do uso indiscriminado do polimetilmetacrilato (PMMA) como substância preenchedora. O injetável é utilizado para fins estéticos, inclusive, por não médicos, podendo causar edemas locais, processos inflamatórios, cicatrizes, reações alérgicas e formação de granuloma.
Em janeiro deste ano, a pernambucana Adriana Barros Laurentino, de 46 anos, morreu após a realização de uma “harmonização de bumbum”. Sua família afirma que o procedimento foi realizado com o uso de PMMA.
Em virtude do dano em potencial que o manuseio sem controle da substância pode causar, o Conselho Federal de Medicina (CFM) se reuniu na tarde dessa terça-feira, 21/1, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e solicitou a proibição do PMMA no país como substância preenchedora.
O requerimento explica a fundamentação científica e técnica por trás do pedido, e foi entregue pelo presidente do CFM, José Hiran Gallo, ao presidente em exercício da Anvisa, Rômison Rodrigues Mota.
Em entrevista ao portal RIOS DE NOTÍCIA, tanto o CFM quanto a biomédica esteta, dra. Juliana Reis, confirmaram a legitimidade da solicitação de suspender o uso do PMMA como preenchedor. Em resposta, o presidente do CFM, José Gallo, ressaltou que o componente oferece alto risco à população.
“Acabamos de ser recebidos por toda a diretoria da Anvisa, pelo presidente em exercício e seus diretores, onde entregamos um vasto documento em relação ao PMMA, que causa graves sequelas à nossa população brasileira”, disse o médico.
O conselheiro do CFM Domingos Sávio Dantas, também presente na entrega do documento, ressaltou que o uso da substância era antigo e utilizado nos pacientes que convivem com HIV/Aids, quando não haviam medicações mais adequadas.
“Hoje não se justifica mais a utilização desse produto (o polimetilmetacrilato) devido aos riscos e porque, hoje em dia, existem procedimentos e preenchedores bem mais seguros que podem ser utilizados em toda a população. Esse produto era utilizado nos pacientes que viviam com HIV ou Aids pois algumas medicações no passado levavam a lipodistrofia, sendo o PMMA uma forma de tratamento”, explicou o conselheiro.
A biomédica manauara Juliana Reis manteve o posicionamento em relação ao componente. A profissional detalhou a composição do PMMA e mostrou como podem ocorrer as complicações em virtude de seu manuseio como preenchedor.
“Esse produto é um sintético (plástico) e o organismo não o absorve, podendo causar sérias infecções. Elas podem ocorrer nos primeiros dias após a aplicação ou demorar anos. O PMMA adere ao tecido e, quando acontecem as infecções, a única forma de remoção é com cirurgia, causando a perda desse tecido e trazendo sérias consequências estéticas e funcionais”, ressaltou a especialista.
Polimetilmetacrilato
O Polimetilmetacrilato (PMMA) é um polímero transparente e rígido, considerado biocompatível. Foi utilizado inicialmente na Segunda Guerra Mundial como reparador de defeitos cranianos decorrentes de traumas.
Na década de 1950 foi introduzido como cimento ósseo para fixar próteses em cirurgias ortopédicas, e foi empregado na década de 1970 na fabricação de lentes intraoculares para cirurgia de catarata. Como material de preenchimento, é um composto bifásico de microesferas suspensas em solução de colágeno bovino, carboximetilcelulose ou carboximetilcelulose.