Redação Rios
MUNDO – O meio-campista espanhol Rodri, atleta do Manchester City, foi condecorado nesta segunda-feira com a Bola de Ouro, em uma das mais controversas e contestadas edições da tradicional premiação entregue pela revista France Football em parceria com a Uefa.
A escolha pelo volante do time inglês treinado por Pep Guardiola impediu o Brasil de voltar a ter o melhor jogador do mundo depois de 17 anos – Kaká foi o último a ganhar, em 2007.
Vinicius Junior ficou em segundo lugar e, indignado com a votação, nem foi à cerimônia no Théâtre du Châtelet, em Paris. O inglês Jude Bellingham, companheiro do brasileiro no Real Madrid e, por isso, outro a faltar ao evento, foi escolhido o terceiro melhor jogador do mundo. Rodri se recupera de grave lesão e subiu ao palco de muletas para receber o prêmio, entregue pelas mãos de George Weah, primeiro africano a ganhar o prêmio e ex-presidente da Libéria.
Até a manhã desta segunda, dia da premiação, Vini era considerado favorito por diferentes veículos de imprensa da Europa a levar o prêmio como resultado de seu desempenho nas últimas edições do Campeonato Espanhol e, principalmente, da Liga dos Campeões, com gols decisivos, incluindo o que fechou a vitória por 2 a 0 sobre o Borussia Dortmund na decisão que deu ao Real Madrid sua 15ª taça do torneio mais importante de clubes da Europa.
A Bola de Ouro considera as partidas disputadas entre 1º de agosto de um ano e 31 de julho do ano seguinte.
Pela manhã, porém, vazou a informação de que o Real Madrid havia sido avisado de que o brasileiro não seria o vencedor, o que se confirmou no evento. A maioria dos 100 jornalistas de 100 países diferentes escolhidos pela France Football para compor o júri, preteriu Vini e deu ao volante Rodri, entre 30 finalistas na lista elaborada por uma “comissão de notáveis” da revista, sua primeira Bola de Ouro. O representante brasileiro na votação foi mais uma vez o jornalista Cléber Machado, hoje narrador do SBT.
O que pode ter pesado, na avaliação dos jornalistas, é o desempenho ruim de Vini Jr. pela seleção brasileira, pela qual nunca repetiu as atuações de brilho protagonizadas no Real Madrid. Já Rodri, além de perder apenas um jogo pelo Manchester City na última temporada, conquistou o Campeonato Inglês e a Eurocopa com a seleção espanhola.
Rodri não teve números ofensivos espetaculares, até porque é volante. Foram 12 gols e 14 assistências em 63 partidas. Em comparação, Vini marcou 26 gols e deu 11 assistências em 49 jogos. No entanto, o meio-campista clássico, de passe refinado e finalização precisa, é figura importante para funcionar o multicampeão Manchester City de Guardiola.
Na temporada passada, com ele, o time inglês foi derrotado apenas uma vez – na decisão da Copa da Inglaterra, contra o United. O volante permaneceu 475 dias e 74 jogos invicto, maior marca individual de um atleta, derrubando o feito de Paolo Maldini e Demetrio Albertini, que ostentaram 73 jogos de invencibilidade.
Méritos de Rodri à parte, foram vários os protestos pela escolha do espanhol em detrimento de Vini. “Que Bola de Ouro é essa?”, questionou a craque Marta. Muitos apontaram racismo na avaliação de parte dos jurados, grande parte deles de países da Europa. Há o entendimento de que o brasileiro não ganhar o prêmio é retaliação à sua postura altiva e corajosa no combate ao racismo que sofre na Espanha. “Nós sabemos bem o que é ter que lutar e se entregar 10x mais quando o assunto é nosso trabalho”, escreveu a cantora Ludmilla.
O jornalista espanhol Lluís Miguelsanz, subeditor do jornal Sport, disse que, com a derrota de Vini, “o futebol terá vencido e os valores também”. Ele questionou as “provocações” do brasileiro, que são, na verdade, protestos em resposta aos reiterados insultos racistas que recebe. Do lado de fora do Théâtre du Châtelet, na capital francesa, fãs protestaram: “Vinicius, Bola de Ouro! Vinicius, Bola de Ouro!”.
Boicote
Inconformado, o Real Madrid decidiu organizar um boicote e não mandou nenhum jogador ao evento. Segundo o jornal Marca, o clube mandaria um avião com 50 pessoas à cerimônia, mas cancelou o voo quando a aeronave já estava na pista do aeroporto de Barajas, em Madri.
O técnico Carlo Ancelotti e oito atletas do time espanhol além de Vini – Arda Güler, Andreï Lounine, Jude Bellingham, Federico Valverde, Toni Kroos, Dani Carvajal, Kylian Mbappé e Antonio Rüdiger – concorreram à premiação e decidiram não ir à cerimônia
Campeão espanhol, da Liga dos Campeões e da Supercopa, o Real Madrid ganhou na categoria melhor clube masculino. Sem representante para receber o troféu, criou-se um clima constrangedor no evento. O mesmo aconteceu quando Carlo Ancelotti, pentacampeão da Liga dos Campeões, foi eleito o melhor treinador.
O clube também resolveu cancelar a transmissão que faria sobre a premiação em seu canal oficial, a RMTV. “A Bola de Ouro deixa de existir para nós”, afirmou o Real, explicou a recusa coletiva de ir à cerimônia em Paris. “Se os critérios de premiação não designam Vinicius como vencedor, esses mesmos critérios deveriam designar Carvajal como vencedor. Como não foi o caso, é óbvio que a Bola de Ouro da UEFA não respeita o Real Madrid.”
Criado em 1956, o prêmio foi entregue pela 66ª vez. A honraria foi concedida de forma independente entre 1956 e 2009 e novamente a partir de 2016, após fim da parceria de seis anos com a Fifa, que, posteriormente, com o fim da fusão, criou o The Best.
Hoje aposentado, Kaká foi o mais recente brasileiro condecorado ao ganhar o troféu em 2007, quando atuava pelo Milan. Além dele, levaram o prêmio Ronaldo (1997 e 2002), Rivaldo (1999) e Ronaldinho Gaúcho (2005). Quem mais se aproximou de ganhar o prêmio, desde então, foi o hoje astro do Al-Hilal Neymar, terceiro colocado em 2015 e 2017.
*Com informações da Agência Estado